Um amigo disse-me ter visto num jornal recente que Portugal poderá ser, dentro de uma dúzia de anos, o País mais pobre da UE, já contando com os recentemente admitidos. Estava espantado por os nossos governantes não se mostrarem preocupados e a estudar as causas do atraso, com o fim de procurar soluções para atacar o problema pela raiz com vista a evitar essa desagradável situação.
O seu espanto é justificado. No entanto, continua tudo em banho-maria à espera de um milagre, ou de que tudo se resolva por «geração espontânea». Mas esta não é solução para problema tão grave. Há na Europa exemplos a seguir. E há o raciocínio que os poderia conduzir a medidas sensatas e eficazes. Tem-se falado em reduzir as despesas e em aplicar melhor os dinheiros públicos, no entanto, vemos uma máquina do Estado cada vez mais obesa, pesada e gastadora, sem daí resultarem progressos para a população pagadora de impostos. Tem-se visto muitas obras de fachada de ostentação mas de que nada resulta para o desenvolvimento e melhoria das condições de vida das populações. Seria bom, por exemplo, comparar os quilómetros de auto-estradas em relação ao número de habitantes e á superfície do País, com o que se passa na Irlanda, na Noruega, na Finlândia, na Eslovénia.
No entanto, tem sido repetidamente afirmado que a principal fonte do desenvolvimento é o investimento no capital humano, não em quantidade de diplomas, mas na qualidade e quantidade do saber, isto é, na eficiência do ensino. Sem isso, não se consegue aumentar o civismo nem a capacidade técnica nas empresas e em qualquer função. As novas oportunidades não podem ser uma forma de obter sem esforço diplomas superiores ao nível da preparação possuída, mas sim uma forma de obter saber, experiência e maior capacidade, para a vida prática. A escola deve ser atraente, estimulante, aliciante, mas não pode deixar de ser exigente, rigorosa, difícil, responsabilizante, criando qualidades de trabalho sério na formação dos futuros cidadãos.
Mas a escola, pelas notícias que chegam ao público, não é assim. Perde-se tempo com a TLEBS, responsáveis prendem-se com o caso do professor Charrua que embora tivesse sido arquivado, mantém em funções quem esteve na origem da perseguição, não houve decisões claras nos casos de erros dos pontos de exame, nem do contrato com o advogado que não cumpriu o seu papel, mas o viu renovado com o triplo da remuneração, etc.
Mas, propriamente no referente ao ensino, recordo que li há pouco tempo que, numa sociedade normal, um aluno começa o ano escolar chumbado e, para passar, tem de trabalhar muito, com sentido das responsabilidades e desejo forte de aprender; pelo contrário, no caso português actual, o aluno começa o ano lectivo passado e o professor para o chumbar tem que trabalhar muito para conseguir provar que ele não merece passar!!! Não é de bom tom dar trabalhos para os alunos fazerem em casa, porque isso os traumatizaria, os que sabem a resposta a uma pergunta do professor não devem levantar o braço para evitar que os que não sabem se sintam diminuídos, as faltas em excesso não são motivo para chumbo, o ritmo das turmas deve ser o mais adequado aos menos aptos, etc. etc.
Sem a boa preparação, o sentido das responsabilidades e o culto do mérito não se consegue criar empreendedorismo e, sem este, o país não cria riqueza para distribuir pela sua população, para a tornar mais auto-suficiente e feliz. Entretanto, assistimos a famílias endividadas por pedirem aos bancos empréstimos para a compra de bens perecíveis , dispensáveis e apenas utilizados para ostentar uma riqueza que não existe. É o «faz-de-conta», a ficção, que acarreta problemas graves e impede a evolução no sentido positivo. A ausência do mínimo conhecimento da aritmética impede que as pessoas consigam gerir bem a sua vida.
E, sem oportunidades para os mais válidos conseguirem realizar-se, eles vão à procura de condições para aplicar devidamente as suas capacidades e acabam por emigrar para os EUA, Canadá, Grã-Bretanha e outros países desenvolvidos. E Portugal fica com o refugo da sociedade, já de si tão pouco valorizada, o que torna realista a previsão de que, daqui a uma dúzia de anos, seremos a escória da Europa.
Oxalá que sejam desde já tomadas medidas para inverter o rumo da nossa degradação.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Que futuro para Portugal?
Posted by A. João Soares at 17:17
Labels: capital humano, desenvolvimento, ensino
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2 comentários:
amigo A. João Soares,
apesar de ter repetido este comentário na postagem anterior, penso que se ajusta também aqui. No Correio da Manhã, de domingo, o presidente da Eurojust no titulo: PORTUGAL PAÍS DAS FRAUDES. dizia que Portugal é conhecido na eurojust ( orgão europeu de cooperação judiciária) como o país das burlas e fraudes fiscais (CM 20/1/2008) sociedade pag.19...como se pode ir a algum lado com estas credenciais que nenhum governante ou governo enfrenta. Como podemos ter credibilidade em alguma coisa? Quem confia em nós? Estaremos nós concenados a ter tanto vigarista de ALTO GABARITO.As universidades, são dos espaços onde de facto existe muita corrupção com concursos, graus academicos publicações fraudes e textos plagiados e ninguém ousa denunciar pelo medo de reitores e catedraticos feitos como os podins instantaneos, sem publicações nenhumas ou de nenhum mérito cientifica. quem pode aguentar isto?
um abraço
Caro António Delgado,
Com tantos predicados deste género, o que será de Portugal? Por todo o lado, em todos os sectores, existem casos gravemente negativos sem ninguém que se dê ao sacrifício heróico de lhes fazer face. Os responsáveis por qualquer instituição que pudesse encarar estes problemas são nomeados pelo Poder, portanto afeiçoados ao status quo, sem vontade para sacrifícios. Está tudo conluiado com a corrupção que vem de cima e que se manifesta numa visível troca de atenções, de favores, naquilo que pomposamente chamam de tráfico de influências, em que a gratidão é aplicada no pior sentido, do ponto de vista do futuro do País.
Abraço
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