Nos posts Vulnerabilidades da ONU e ONU desrespeitada referia-me à incapacidade das organizações internacionais, nomeadamente a ONU, para recuperarem e manterem a paz e para incrementarem o desenvolvimento, tendo em vista as pessoas, do terceiro mundo. Agora encontrei no blogue Alto Hama vários posts que chamam a atenção para crises gravíssimas em África. Infelizmente, não são originais, mas seria de esperar que já tivessem saída da moda, dos noticiários, da ordem do dia.
O Chade está a ferro e fogo. Desde a sua independência, em1960, com François Tombalbaye na Presidência, não houve nenhum Presidente que tivesse terminado o seu mandato.
1975 Tombalbye foi morto num golpe dirigido por Félix Malloum,
1979 Malloum foi deposto por Oueddei,
1982 Gpukouni Oueddei foi deposto por Hissene Habré,
1990 Habré foi deposto por Idriss Déby, ainda no Poder, mas em risco de seguir o caminho dos seus antecessores.
2006 Rebeldes enfrentam o Exército nos subúrbios da capital.
Janeiro de 2008 UE aprova, uma força de pacificação para o Chade, e nos primeiros dias de Fevereiro, os rebeldes entram na capital e desencadeiam combates que envolvem artilharia pesada.
O Quénia também está novamente em guerra civil. Os tempos de jovem de Jomo Kenyata, do grupo Mau-Mau, da KAU (União Africana do Quénia) ,ais tarde com o nome de KANU (União Nacional Africana do Quénia), não são para esquecer. Tornado independente em 1963, teve uma situação mais ou menos controlada pelo pulso do Presidente Jomo Kenyata até ao seu falecimento1978 com 85 anos. Foi sucedido por Daniel Arap Moi pertencente à pouco numerosa etnia Kalenkin que teve o bom senso de criar uma convivência pacífica entre as diversas etnias e seus líderes e sido reeleito em 1993.
Nas recentes eleições a vitória coube a Mwai Kibaki, mas o seu rival Raila Odinga considerou que as eleições não foram honestas e surgiu o conflito. A onda de violência que assola o país desde 27 de Dezembro, dia das eleições, fez 600 mortos e 200 mil deslocados. As diferentes etnias não se entendem e descarregam ódios ancestrais. Apesar de várias mediações em que se destaca o ex-secretário-geral da ONU Kofi Hanan, têm procurado uma solução sustentável, mas a situação continua por resolver
O Sudão, país mais extenso de África, depara-se com a dissidência do Sul e mais recentemente a do Darfur, que confina com o Chade. As rivalidades entre personalidades fortes no topo da hierarquia têm dificultado a vida do Estado. Vão longe os tempos em que eram sudaneses alguns dos faraós do Egipto. Hoje o Darfur é uma dor de cabeça para a comunidade internacional. O País tem tal instabilidade que o próprio mentor da Al-Qaeda que ali vivera com o comando do seu grupo, decidiu sair para o Afeganistão, por no Sudão não se sentir seguro.
O Sudão está em guerra civil há 46 anos. O conflito entre o governo muçulmano e guerrilheiros cristãos e animistas, baseados no sul do território, revela um aspecto das realidades culturais opostas da nação. As guerras e prolongados períodos de seca têm provocado milhões de mortos e enorme quantidade de deslocados.
A estes casos, há que juntar a situação caótica da Somália, o conflito intermitente entre a Etiópia e a Eritreia, a região dos Grandes Lagos, Serra Leoa, República Centro-Africana, etc
Os Africanos, apesar destas crises endémicas, com origem em rivalidades étnicas, e a impreparação para a gestão dos seus problemas, esperam apoios exteriores, mas a política internacional move-se por interesses egoístas. Por isso, os primeiros passos têm forçosamente por arrancar com a preparação de gestores públicos competentes. Mas, mesmo neste ponto, estão sujeitos a que os melhores saiam à procura de condições de trabalho mais aliciantes em Países ricos, ou estes os vão cativar na origem. Há que tentar parcerias com outros países de onde possa vir uma ajuda ao desenvolvimento compensadora dos recursos que vão sacar. A China está a avançar firmemente, mas resta saber se, da sua intervenção, resultará desenvolvimento das populações locais.
Mesmo na grande e rica Angola, a pobreza de grande parte da população é uma realidade incontornável, muito em oposição à riqueza das elites. Estas, por sua vez, parecem estar a usar de todos os truques para se manterem no Poder autoritário e explorador, já se vislumbrando maquinações para a oposição vir a ser acusada de terrorismo e haver nessas circunstâncias «justificação» para uma perseguição dura. Os serviços secretos não dormem e não falta no estrangeiro quem os possa orientar em tais manigâncias.
Apesar das suas grandes potencialidades em recursos naturais, em tempos recentes, tão valiosos, e hoje muitos deles já com pouco valor comercial, a África passou a ser o continente menos favorecido e atraente das atenções do mundo mais desenvolvido. Impõe-se que haja, por razões humanitárias, consciência da conveniência em que a humanidade passe a olhar para este continente com mais solidariedade. Oxalá os grandes empresários das multinacionais alterem a sua visão em relação aos africanos, com vista a ajudá-los a usufruírem melhor das modernas tecnologias.
Rapidinhas de História - Livros
Há 34 minutos
4 comentários:
Caro João,
ouço alguns senhores, que vieram lá do outro lado dos confins do mundo, falar muito bem daquela terra.
Será que tinha mel?Eles dizem que sofreram muito para a erguer, mas que gostavam daquele povo e daquela terra ao ponto de hoje ainda sonharem com ela!
Mas também dizem: desde que o tio Marcello perdeu as esperanças... a África resta-lhe continuar à mão dos senhores dos interesses petrolíferos e a ter saudades dos portugueses.
Será? Guerras, revoluções como fala no seu texto?! Quantas vezes a Legião Francesa e os Pára-Comandos Belgas atravessam as antigas colónias em MISSÃO de resgate de europeus??
Lá vou eu continuar a lavar roupa suja; mas devagar, ainda pode mudar o patrão, mas acho que só mudaria o cheiro...
Um abraço
É bom que se reconheça que, tudo isto, terá ainda a ver com as descolonizações. Quase todas feitas à pressa por imposição das duas grandes potências vencedoras da 2ª Guerra Mundial (EUA e URSS). E a Portuguesa, décadas depois, mesmo apelidada de exemplar, não foje à regra.
Nestes termos, as "independências" dos países africanos não passaram de presentes envenenados.
Cara Mimi,
Pode continuar a lavar! Use Omo, que lava mais branco. A porcaria é tanta que o detergente tem de ser de superior qualidade, e, mesmo assim, é improvável que faça desaparecer todas as nódoas. E, a cada passo, aparecem outras, como a do Director da Polícia Judiciária!
Só pergunto, como é possível estar em tal posição uma pessoa que mostra tal falta de senso.
Mas, a África precisava de mais sorte, isto é, de melhores conselheiros externos e melhores líderes internos. Os amigos internacionais, não sabem o que é amizade generosa. Aliás, nas relações internacionais, não há disso.
Em 14 de Novembro de 2006, publiquei o post com o título «Relações Internacionais são interesseiras», no blog A VOZ DO POVO, em que referia essa falsa amizade.
Foi esse fenómeno que formatou as colonizações. Portugal não foi tão explorador como os outros, mas isso foi por incapacidade e ignorância nossa que ainda hoje é bem visível mesmo cá no rectângulo. Os colonizadores não curaram de instruir os naturais, de os preparar para o futuro independente e autónomo, à excepção, um pouco, dos britânicos, mais notório na Índia.
Um abraço
João
Caro Vouga,
A descolonização, foi um caso pontual e não podia suprir as deficiências da colonização nas décadas mais recentes. Deva ter havido mais humanidade entre colonizador e colonizado, quanto a instrução, geral e profissional, para haver um enquadramento normal das populações. E isso não aconteceu devido à baixa qualidade de muitos colonos, com muita desconfiança, ganância e ignorância. O resultado foi que a saída dos capatazes brancos deixou os recursos naturais abandonados sem ter quem soubesse explorá-los e fazê-los render.
Houve a excepção inglesa de que a Índia é um exemplo, pois, ao assumir a independência, havia ali grande quantidade de pessoas com formação universitária, especialmente médicos, que depois além de desenvolverem o País sairam em apoio de outros. E Hoje a Índia tem enorme quantidade de engenheiros informáticos de outras especialidades, cobiçados pelas grandes potências económicas.
Além dessa falhas, houve a errada ou ausente percepção do problema das aspirações da autonomia e da independência e acabou em guerras, em que os autonomistas, nacionalistas, foram apelidados de terroristas para ser justificada a sangrenta repressão militar, que foi inútil e gravemente prejudicial para ambas as partes.
As ambições e a ganância tiram aos poderosos a capacidade de pensar correctamente sobre os problemas que exigem mais sensatez. É um fenómeno actual e que, com as debilidades do género humano, continuará pelos séculos.
Um abraço de amizade
João
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