Em regime democrático, não parece imaginável a ausência de partidos políticos, mas não será desejável, será mesmo arrepiante, que estes esqueçam a sua função de factores positivos e construtivos do desenvolvimento do País, isto é dos cidadãos, e se concentrem apenas nos benefícios dos seus sócios e aderentes e na luta interpartidária para reforçar as suas benesses, criando situações de injustiça social e de inoperância do Estado.
Conforme notícia de hoje do jornal PÚBLICO, Leonor Beleza, a partir "de dentro", da sua experiência como ministra da Saúde e dirigente do PSD, acusou ontem os chamados "partidos do poder" de se terem entendido na "conveniente posição de que os quadros de topo da administração pública constituem um troféu de quem ganha as eleições". Apelou a uma "pressão pública" que leve "os partidos a dominarem as suas hostes e a arrepiarem caminho".
Colocando-se sempre na perspectiva de quem lutou contra a "tentacular expansão da influência partidária", ela denunciou "um mundo ao contrário", com "profissionais da política - sem experiência de vida nas empresas, no sector público ou na intervenção cívica - nos lugares de topo da administração pública". Frisou que este movimento tentacular "atingiu graus [que eram] inimagináveis, ao princípio", mas admitiu que a tendência é antiga. Porém, admitiu "Não posso dizer que as experiências longínquas que vivi no Governo não tenham já conhecido muitos episódios contrários à minha filosofia de separação completa de águas".
As funções políticas, em benefício dos interesses superiores do País, de acordo com as teorias da pura ciência Política, deveriam ser de sacrifício, de abnegação e de generosidade intelectual. Mas as amostras que nos chegam diariamente evidenciam o contrário. Os partidos digladiam-se para conquistar e manter o poder, e dentro deles os militantes lutam entre si para obterem o melhor naco na distribuição dos tachos. Viu-se dentro do partido do governo em vésperas das eleições internas para escolha do líder, das eleições presidenciais, das eleições para Câmara de Lisboa e em momentos em que estão em discussão casos mais mediáticos, memo que sem valor nacional, como os piercings é outros.
Também em partidos da oposição, aí sem olhar aos custos perante a proximidade de eleições legislativas se arranham uns aos outros em busca de notoriedade de poder interno, de projecção na Comunicação social. Está a ser muito criticável a fragmentação que vários militantes do CDS e do PSD estão a produzir nestes partidos, de que resultará prejuízo interno e para o País. O egoísmo pouco inteligente dá aos cidadãos a noção de que ninguém merece o seu voto, e que a decisão mais lógica será o voto em branco, poupando a esferográfica e não sujando o boletim.
Mas voltando às palavras de Leonor Beleza sobre a partidarização das instituições públicas, estão frescas na nossa memória as sujeiras do caso do professor Charrua e a perseguição de uma directora de centro de saúde, no distrito de Viana do Castelo, em cujos fundamentos ressalta ser casada com um autarca de partido da oposição, tendo sido substituída por um simpatizante do partido do governo embora sem experiência para o cargo. Ao dar empregos aos «boys» e às «girls» não se olha a competência e capacidade para o desempenho das funções. Efectivamente, em vez de nomeações partidárias, por confiança política, os gestores e directores públicos devem ser escolhidos por concurso público aberto a todos os que satisfaçam às condições exigidas. E a avaliação do desempenho na função pública é muito influenciada pela cor política, o que segundo se diz, acontece mesmo nas forças armadas e nas de segurança, onde os valores eram cultivados com veneração.
Enquadra-se neste tema a notícia carreada pelo Correio da Manhã sobre a suspeição de irregularidades graves, próximas do milhão de euros, detectadas na Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (APVG), com a provável conivência de indivíduos ligados a partido no poder. Uma administração pública assim dirigida, com inversão de valores, laxismo, permissividade e predominância de egoísmos, tendo outras prioridades diferentes das do interesse público, não é a melhor para os cidadãos, para o País internamente e para o Estado na sua posição internacional perante os parceiros.
Perante este quadro, que se nos apresenta quase diariamente, como me sinto venerador da memória do Comandante Domingos Palma, citado no post anterior!!! Homens de tal têmpera são hoje muito raros e, os que existem, não estão na política. Desculpem-me aqueles que constituam eventuais excepções.
Boas-Festas
Há 2 horas
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