Um comentário de Fernando Vouga, enfatiza a necessidade de confiança dos cidadãos na honestidade e competência dos governantes, o que merece ser meditado de forma séria pelos políticos. Por isso aqui trago algumas cogitações sobre o tema.
Como militar, com brilhante folha de serviços ele sabe que um líder só o é integralmente quando inspira total confiança nos seus seguidores. Sabe, por teoria e por prática, que um comandante, principalmente nos mais baixos escalões, se não inspira confiança nos seus subordinados de forma a estes o seguirem até à morte, poderá, num momento crítico, olhar para trás e verificar que está sozinho, o que será um «suicídio», pois não será poupado pelo inimigo que, a seguir, destruirá também a sua unidade.
Um fraco rei faz fraca a forte gente. E no futebol, a confiança no treinador é indispensável para a equipa ganhar o campeonato. Não é por acaso que muito se fala no moral do balneário.
Entre nós, a falta de confiança nos políticos além de experiências anteriores, tem agora razões muito fortes e persistentes: desde a confusão sobre as habilitações literárias, às promessas falsas e enganadoras, à «politica do chocolate», às «medidinhas», ao aparecimento nas TVs só para se mostrar, com o disfarce de mais uma promessinha, ao deslocamento a qualquer promoção empresarial como a do carro eléctrico, as viagens ao estrangeiro quando as comunicações permitidas pelo choque tecnológico, tanto do gosto do actual Governo, permitem a conversa e a negociação sem sair do gabinete, tudo isso mina a confiança que existia no início.
O caso da promoção da Nissan-Renault foi caricato, não só pelo desconhecimento da lei sobre um caso em que tinha decidido falar, mas principalmente pela aparente intenção de querer fazer passar a ideia de que o carro eléctrico foi uma criação deste Governo, ou de Portugal!!! Ou de que a substituição do petróleo seja uma invenção de portugueses!!! Como se pode ter confiança em alguém que age como um mau vendedor da banha da cobra?
Mas, repito aquilo que aqui já escrevi de que, nos primeiros meses, considerei que este foi o melhor primeiro-ministro depois do 25 de Abril, porque mostrou intenção de fazer as reformas, que de há muito eram necessárias, na estrutura do Poder, para desenvolver Portugal em benefício dos portugueses. Porém, começou por criar uma equipa fraca e por não a liderar de forma coerente e eficaz, com uma estratégia dirigida para objectivos bem definidos, e concretizada de forma coordenada e controlada. Fracasso, de que resultou um conjunto de recuos, com os cidadãos a apertarem os cintos diariamente enquanto os tubarões vêm a barriga crescer, alargando os cintos de forma ostensiva e desavergonhada.
Infelizmente o mal já vem de longe, já o Eça, o Guerra Junqueiro e outros descreviam o «estado» da época com palavras que ainda hoje são actuais. Grande parte dos nossos políticos, tendo saído de um povo atrasado, não souberam sobressair e mostrar capacidade e competência. Tive um mestre agora falecido e de quem tenho saudades que, em 1980, num curso de pós graduação de um ano lectivo em que o tema de fundo era «O Portugal que somos», a propósito dos portugueses, dizia «somos poucos, pobres e profundamente ridículos». Desde então, não temos melhorado em eficácia, mas as despesas dos governantes têm aumentado em espiral.
Para se concretizarem as reformas de que o País precisa com urgência a fim de não continuar a afastar-se a ritmo tão acelerado da média europeia, é indispensável conquistar a confiança dos cidadãos, de qualquer quadrante, para aderirem com esperança de êxito às alterações. A oposição deve comprometer-se com as reformas a fim de que estas não sejam colocadas de lado na mudança de Governo, deitando por água abaixo o esforço feito e os recursos gastos e os que deixaram de ser criados.
Mas a confiança não se conquista nem se mantém com inverdades, jogo oculto, medidas injustas, favoritismos, conluios, corrupção, medidinhas, «política do chocolate», «tachos dourados» e «pensões milionárias». Já não é cedo para se entrar no bom caminho, e, por isso, não convém adiar mais.
Momento cultural
Há 27 minutos
3 comentários:
Caro João Soares
Obrigado pelas suas palavras elogiosas que, obviamente, não comento.
A Internet tem destas coisas: faz amigos, a despeito das distâncias.
Caro João Soares
Voltando ao tema do seu artigo, há que salientar que este (des)Governo deveria, antes de tudo, fazer com que o Estado passasse a ser pessoa de bem. Sem hesitações e sem margem para dúvidas.
Ao contrário, Portugal transformou-se num confuso estado policial, onde pululam subservientes sabujos, delatores e inquisidores.
E o Estado continua a dar um péssimo exemplo. Não cumpre nada, não paga a tempo e horas. A menos que pertença à "nomenklatura".
É que, só se é verdadeiramente Chefe quando se é mais exigente consigo próprio do que com os subordinados.
Caro Vouga,
O meu amigo refere-se a Chefe com conhecimentos de ética, da verdadeira teoria e prática de chefia. O Scolari não discordaria de si, tal como verdadeiro líder que sabe conduzir homens até aos maiores sacrifícios. Mas os políticos não têm a mínima preparação nesse campo. Quando muito, são habilidosos vendedores de banha da cobra. Sabem fazer promessas que não cumprem, sabem gastar despudoradamente o dinheiro que sacam aos contribuintes sem a mínima vergonha.
Não gosto de usar palavras duras mas eles deixam-me em grande dificuldade para me conter.
Um abraço
A. João Soares
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