Este post é um aproveitamento do comentário colocado pela Amiga Manuela no post
«África. Conivência e sentimento de posse dos líderes»
A autora sugere que, ao falar do Zimbabwé e, de uma forma geral, deste grande continente, se pense bem o que é a África, a sua cultura e os seus nativos.
- Uma África de princípios tribais, onde tudo era resolvido de uma forma democrática “a seu modo” mas que resultava.
- Uma África que aprendeu os princípios democráticos ocidentais da pior forma, onde se dividiram etnias consagradas e se uniram ódios também sagrados porque ancestrais. “Dividir para reinar”, faz lembrar alguma coisa? Alguma semelhança com o presente?
Condenámos, com fundamentos humanistas o apartheid sul-africano? Provavelmente teria sido correcto condená-lo também na antiga Rodésia de Ian Smith e que terminou apenas pela força das armas da resistência negra, Mugabe entre esta, porque as “negociações democráticas” com o governo britânico não resultaram! (?)
Mugabe não quer deixar o país na mão de brancos e o outro não o queria na mão dos negros. Boa!
Uma África que foi explorada nas suas riquezas naturais e na mão de obra “dada”. Ainda hoje, se quisermos realmente saber, nos podemos aperceber do que a democracia ocidental faz por este continente e por estas gentes… Como poderemos condenar esta união fraterna entre chefes de estado? O passado e o futuro das suas gentes foi escrito há muitos, muitos anos atrás!
Obviamente que nunca poderei defender as atrocidades que se praticam em nome de um “Soba”, mas também as condeno no mundo ocidental, supostamente instruído e democrático e, também ele gerido por “Sobas” que apenas diferem dos originais na cor da pele e nas origens. (Por falar nisso, parece que a Humanidade começou em África, o que poderá explicar muita coisa!)
Finalmente, a parte económica, ou o auxílio económico. Lá diz o velho provérbio chinês: "Quando um homem te pedir de comer porque tem fome, não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar!" Pois… a verdade é que foram poucos os que ensinaram a pescar, mas demasiados os que foram lançando peixes, por vezes podres, para alimentar estas gentes. Algo de novo, no presente?
Ainda há poucos anos este país esteve na mira do Ocidente dado o seu desenvolvimento e o elevado nível de educação do seu povo. Terá sido esse interesse que provocou o descalabro? ...E eu sei?
Com mais tempo e alguma pesquisa, encontraria certamente muitos mais argumentos, mas penso que nem é necessário fazê-lo. Basta que tomemos atenção às notícias que todos os dias nos entram em casa.
Uma nota mais: o banto, etnia maioritária no Zimbabué, usa um dialecto da língua banta que significa "colectivo de seres humanos". Interessante, não?
Haveria pano para mangas, como se costuma dizer, para falar sobre este assunto mas penso que para comentário polémico já chega! :)
Manuela
NOTA: É sem dúvida um texto profundo e polémico que trago para aqui, para ter maior visibilidade, a fim de atrair mais comentários para melhor compreensão da África. Nos tempos actuais, principalmente devido à globalização e ao espírito da rentabilidade e da produtividade, os africanos precisam de modernizar o seu sistema de vida a fim de não serem aniquilados, sem apelo nem agravo, pelas forças económicas hodiernas. Mas as mudanças de tradições, rituais, usos e costumes não se conseguem de um dia para o outro, por decreto, sendo necessário tempo, acção didáctica e vontade dos actores, sujeitos ou agentes.
Como diz, as atrocidades feitas em nome do «soba» não são defensáveis e, infelizmente, elas existem como diz a notícia de hoje «Angola: FNLA denuncia detenção de dirigentes do partido» Talvez haja uma «união fraterna entre chefes de Estado», a fim de se protegerem na manutenção do Poder, por forma nem sempre isenta de pecado.
Por outro lado, as tradições étnicas conduzem a um poder central forte (mas devia ser mais humano e honesto) a fim de fazer convergir esforços colectivos do Estado, sobrepondo-se a pequenos interesses locais que não beneficiam a competitividade.
É realmente um tema que merece ser analisado com serenidade e vontade de melhorar as condições de vida das populações, principalmente as menos favorecidas e essa análise deve ser feita internamente e, também, a nível global, pelos Estados mais poderosos, sem ambições materiais, mas com o sentimento de contribuir para um futuro melhor.
Renovação de passaporte
Há 4 horas
4 comentários:
Caro João Soares
Os europeus, ao tomarem conta de África no período das glórias românticas do colonialismo "civilizador", interromperam o curso da sua História. Retalharam territórios ao sabor das quesílias do Velho Continente. Dividiram povos e etnias sem olhar às consequências.
Agora, queremos que os "países" resultantes dessa misturada toda se comportem como democráticos e civilizados. Tudo para mantermos as relações comerciais e o acesso barato às matérias primas, mesmo com o recurso à corrupção dos líderes políticos...
Os africanos estão a retomar nas suas mãos o curso da sua História, com as consequências por todos conhecidos. Serão as dores do parto da libertação.
Mas não nos podemos esquecer que as atrocidades hoje cometidas em África não são muito diferentes das cometidas na Europa desde os tempos pré-históricos até à barbárie Nazi de 39/45.
Caro Vouga,
Foram feitas feridas muito profundas num continente com muitas fragilidades, e agora as cicatrizes não são nada bonitas. E o Ocidente não sabe ajudar com generosidade e humanismo, como quem ensina um filho a dar os primeiros passos.
Sugiro uma visita aos comentários que igual post está a atrair em Do Miradouro.
Um abraço
João
Caro João Soares
A despeito dos nossos erros do passado, não me parece que os líderes africanos estejam a enveredar pelo melhor caminho. Acredito mesmo que estão a cavar as suas sepulturas. Enquanto que, por um lado, rejeitam as eventuais influências europeias, por outro, importam o que há de pior da nossa cultura: corrupção, belicismo, ganância, tirania, nepotismo. E as populações africanas estão hoje muito pior do que antes.
África importa mais balas do que feijões...
Caro Vouga,
O mundo perdeu os valores, as referências de sensatez e sabedoria, e as pessoas com responsabilidades não estão conscientes das necessidades de mudança para se adaptarem aos tempos modernos.
Há tempos, em conversa, Adriano Moreira dizia que hoje as mudanças são tão rápidas que os líderes dos Países não têm pedalada para reagirem com oportunidade.
As tecnologias levam a todas as partes do globo novidades que não dão tempo a serem bem digeridas, porque logo a seguir aparecem outras.
Para onde iremos? O que será dos povos menos evoluídos dentro de uma ou duas décadas?
Um abraço
A. João Soares
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