terça-feira, 14 de outubro de 2008

A crise financeira terminou?

Do muito que foi dito e escrito sobre a crise podem tirar-se várias conclusões, das quais, embora não seja especialista, mas como vítima dos erros dos decisores, penso poder salientar que ela resultou de erros sucessivos de particulares, empresas e instituições financeiras que, chegaram ao ponto de rotura, com a apatia dos poderes governamentais. O ponto comum de todos esses erros está na ausência de valores éticos, morais, cívicos e sociais, que podem integrar-se no conceito alargado de civismo. Ambição, endeusamento do dinheiro foram além dos limites do possível, graças à indiferença do poder controlador do Estado.

Viveu-se de ilusões e ingenuidades. Agora que surgiu um remendo heterodoxo com governos capitalistas defensores da economia de mercado, a intervir nessa mesma economia, com o dinheiro dos contribuintes, como se fosse dirigida pelo Estado Central. Um sinal de viragem nas ideologias de economia política?

Deu como resultado imediato: a alteração da ilusão dos agentes económicos mais ligados à finança. E ela ficou visível na subida das bolsas ontem, 13, e que o PSI 20 subiu 10,2% e hoje subiu, mas muito menos, 4,46%. É a especulação, ávida de dinheiro fácil a seguir as suas tradições. E quem comprou e originou tais subidas, venderá amanhã para realizar as mais valias de que se alimenta, e a bolsa cairá. Se não for amanhã, será nos próximos dias. E a ficção continuará, indiferente aos receios que sentiu nas últimas semanas.

Mas, infelizmente, não há sinais de uma análise séria das causas do fenómeno, não surgem poderes fortes decididos a introduzir nas finanças mundiais alterações que criem uma nova gestão financeira ajustada às condições da globalização e que garanta segurança impeditiva de crises frequentes e graves. É preciso muito saber e muita coragem porque os viciados no sistema actual hão-de lutar para impedir alterar aquilo que lhes deu fortuna, hão-de evitar que lhes matem a galinha dos ovos de ouro. Mas, se tais alterações não forem incrementadas, os ricos serão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres até que surja a «revolta dos escravos».

Por isso, não se pode dizer que a crise está vencida, mas apenas, com muito optimismo, poderemos concordar com o título de notícia do JN de que o «Socorro à banca deixa a crise em suspenso», apenas em suspenso e por tempo não definido.

7 comentários:

o que me vier à real gana disse...

Amigo João, excelente artigo!
Penso, como muitos, k estará longe de terminar. A ansia de particulares (muitas vezes justa, outras nem por isso) em aceder a...; o não escrúpulo de instituições financeiras (banca, seguradoras, fundos de investimento; institutos de financiamento, etc.); com o recurso a publicidade altamente agressiva; a apatia (a k faz referência) dos governos, que terá a ver com a falta de regulação mas não só... (estar em cima e criminalizar quem fizer por isso), levaram ao estado economico-financeiro em k se encontra a ecúmena. Vai levar tempo...

Abraço!

A. João Soares disse...

Como diz, vai levar tempo. Estas alterações no sistema financeiro, ou se fazem com rapidez e causam perturbações difíceis - o que não é desejável - ou então exigem um consenso, um acordo entre os principais partidos para, sucessivamente, introduzirem pequenas alterações coerentes e convergentes para o fim em vista. Se não houver esse acordo, as forças contrárias às alterações fazem entupir os canais e é um pára-arranca que só traz prejuízos e os mais prejudicados são sempre os mais pobres, o mexilhão que sofre quando o mar bate na rocha.
E o que vemos é que os governantes ficam satisfeitos quando pregam um pequeno remendo no sistema e ele resulta no imediato.
Abraço
João

Anónimo disse...

Caro João Soares

E o mais grave é que este (des)Governo está a preparar-se para fazer aquilo por que todos esperávamos: abrir os cordões à bolsa em período pré-eleitoral. Como se Portugal, no meio desta tormenta, fosse o único navio a flutuar sem problemas. Por outras palavras, Portugal é um paraíso (socretino, bem entendido).
Todos sabemos que não há dinheiro para nada, que o (des)Governo não pode garantir nada. Mas os ministros anunciam obras e mais obras. Anunciam benesses e mais benesses. Tudo para que o povo não se aperceba de que o desastre é inevitável.
É mais que evidente que, com estas medidas demagógicas, o cidadão Pinto de Sousa vai governar com mais uma maioria absoluta.

Mal ganhem as eleições, estes (des)governantes vão dar o dito por não dito. E vamos pagar muito caro pela imprudência de acreditarmos em demagogias baratas.

A. João Soares disse...

Caro Vouga. Na nossa juventude as cópias faziam-se a papel químico ou stencil no momento da elaboração do documento. Depois vieram as fotocópias que permitem em qualquer altura fazer cópias de qualquer escrito ou boneco.
O actual governo está a copiar as tácticas que utilizou nas eleições anteriores, com promessas desmedidas porque não fazia tensão de as cumprir. O povo acreditou e deu-lhe o voto. Agora só acredita em promessas dele quem quiser, e depois não venham queixar-se de que foram ludibriados. Mas com o povo adormecido e em coma induzido que temos, não me admiro de que lhe dêem a maioria absoluta. Também não tem adversário à altura. No PSD, por tradição destes últimos anos, nem os militantes acreditam no dirigente que escolheram. Em poucos anos já mandaram embora o Santana, o Mendes e o Menezes e já se preparam para correr com a Manuela!!! Pobre País que tais eleitores tem.
Mas não falta dinheiro para dar a bancos mal geridos a fim de suprir as incapacidades ou desonestidades de maus gestores, maus mas bem pagos!!!
Um abraço
João

mundo azul disse...

Em suspenso, sim... Todo sistema, como tudo na vida, tem começo, meio e fim... Penso que a humanidade está carente de mudanças e essas geralmente são dolorosas, mas, necessárias...


Beijos de luz e um dia muito feliz, meu amigo!

O Profeta disse...

Este impaciente vento
Solta a espuma de um escuro mar
Mistura o pranto e o riso
Aprisionados em sal solto no ar

Indomável é a tua vontade
Alimentas o fogo da solidão
Percorres caminhos incertos
Dás inquietação a uma oração


Boa semana


abraço

A. João Soares disse...

Cara Mundo Azul,Zélia Nicolodi,
A mudança faz parte da Natureza, A vegetação e os animais não têm sempre o mesmo aspecto. As estações do ano causam mudanças. Mas nunca se afastam do objectivo, da finalidade que lhes é intrínseca. Na humanidade, por que errar é humano, estamos a abusar dos erros, por mero capricho, sem coerência, sem obedecer à finalidade que deve ser a procura de uma vida melhor para os seres humanos devidamente integrados num ambiente que deve ser respeitado.
Esses erros grosseiros estão cada vez mais visíveis e mais frequentes nas decisões dos políticos que se esquecem da sua razão de existir, que é a procura do máximo de felicidade para toda a população, e não apenas para a corte que os rodeia.
Beijos
João