quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A crise podia não ter existido

Em conversa com uma bancária, ouvi repetidamente a palavra calma. Os depositantes devem ter calma, os investidores devem ter calma… Porém, nenhum responsável credível emite afirmações coerentes e sustentadas que inspirem tal calma. O que dizem hoje não confirma o que disseram ontem e não será confirmado amanhã.

Não sabem, não adivinham a evolução que ocorrerá. Os economistas não tiveram capacidade para proceder de forma correcta por forma a evitar a crise ou, pelo menos, evitar que ela fosse tão grave. Houve erros sucessivos na busca de mais lucros, contrariando os mais elementares valores éticos, morais e sociais. Ninguém sabe nada e, agora, não falam claro, em condições de serem compreendidos e de inspirarem a tal calma que todos sugerem.

Fica-se com a impressão de que existe um desleixo generalizado, uma grave falta de dedicação às tarefas de que são encarregados. E esta moléstia parece ter alastrado por todos os países. A humanidade está em crise profunda, os valores morais estão a fazer muita falta e não são substituíveis por um materialismo fiduciário selvagem.

E os casos concretos sucedem-se com aspectos anedóticos. Por exemplo, a Alta Autoridade da Concorrência deveria seguir em permanência todos os casos mais ou menos suspeitos e actuar em conformidade e com a oportunidade adequada. Deveria ter estudos, em actualização dia-a-dia. Mas não. Colocada, agora, perante a suspeita de cartelização dos preços dos combustíveis, promete ter um estudo pronto EM FINS DE MARÇO, daqui a quase SEIS MESES, meio ano!!! Nem na época dos computadores conseguem em menos tempo analisar os dados que deviam ter em permanência e que têm dado tanto que falar, há vários meses? Será que ainda fazem contas pelos dedos? Qual é afinal o papel de tal organismo, além de receberem bons ordenados? Qual o benefício para os cidadãos portugueses resultante da sua existência?

Outro caso é o negócio do «Magalhães» anunciado com tanta pompa e circunstância, sem nenhum dos inúmeros assessores ter levado à ministra da Educação e ao PM a informação da situação suspeita da empresa fornecedora em relação ao fisco. E o caso foi muito duvidoso duvidoso, pois nem sequer houve concurso público entre os vários tipos de computadores semelhantes, em uso pelo mundo fora. Será que tal pressa e tal decisão urgente tinha por finalidade o amortecimento do processo fiscal contra a firma? Será que houve influência (mesmo que por distracção ou omissão) de elementos dos gabinetes ministeriais, como é lógico duvidar? E ninguém vai ser chamado à pedra? Não haverá responsáveis?

É um sinal dos tempos. Exigem-se direitos e mais direitos de toda a espécie, mas não se fala de deveres, de responsabilidades, de definição de tarefas, de controlos, de avaliação de desempenho. Depois, em consequências de muitas «habilidades» sucessivas, surgem as crises que ninguém soube ou quis evitar ou minorizar e os «sábios», em voz pouco convincente, acabam por dizer que é preciso calma!!!

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