Nesta época outonal é imperioso que se faça o balanço dos fogos florestais ocorridos na estação quente, se analisem as prováveis causas da maioria deles, a forma como foram conduzidas as operações de combate e se retirem as conclusões necessárias à elaboração de estudos que proponham medidas eficazes para prevenir novas ocorrências e melhorar as formas de combate.
Prevenir vale mais do que remediar, mas não basta anunciar novas modalidades de organização da floresta e utilização de modernos equipamentos tecnológicos de vigilância.
Há mais de 15 anos, realizou-se uma reunião na sede da Associação Nacional de Municípios, em Coimbra, na qual estiveram representados a protecção civil municipal de vários concelhos, associações de bombeiros e em que foram oradores vários especialistas incluindo professores universitários que tinham publicado trabalhos sobre o tema.
Passados todos estes anos não se vêm resultados palpáveis a nível nacional, com uma estrutura racional das florestas, seus aceiros, vias de acesso, reservatórios de água, vigilância, etc. Aquilo que se esperava ser o pontapé de saída foi um passo inútil, sem resultados.
Localmente, têm surgido casos exemplares de vigilância da floresta, prevenção, sensibilização das populações, etc. Refiro de memória notícias sobre os concelhos de Alcains, Mortágua e Góis, e que os resultados são elucidativos.
Mas os fogos quando se desencadeiam, não respeitam os limites inter-concelhios e, por isso, não são suficientes as medidas isoladas locais, por melhores que sejam. É indispensável um plano nacional, elaborado com o fito na eficácia e não na visibilidade propagandística. Não basta que o MAI, no início de cada ano, prometa mais dinheiro. Este, só por si, pode nada representar do ponto de vista de resultados. O dinheiro apenas tem significado se for destinado a apoiar projectos bem avaliados e que se mostram bem estruturados e eficientes. Sem ideias e projectos bem delineados o dinheiro de nada serve.
Na Comunicação Social de hoje encontram-se vários títulos que demonstram uma certa motivação para encarar o problema. É preciso aproveitá-la Estamos na época para preparar planos que reduzam os efeitos dos fogos no próximo ano.
Ontem, no Porto, numa conferência integrada na Semana Europeia da Floresta, iniciativa lançada a 20 deste mês pelo Ministério da Agricultura, foi lançada pelo professor Domingos Xavier Viegas, do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais e a Universidade de Coimbra, a ideia de ser elaborado um Plano Nacional de Prevenção na Interface Urbano-Florestal (IUF) para prevenir eventuais desastres ambientais. O Presidente da República, em contacto com os bombeiros referiu que o voluntariado nos bombeiros não pode ser fragilizado. Por seu lado, os Bombeiros querem estabilidade, e os guardas florestais exigem mais atenção às suas condições profissionais.
Perante isto, se o Governo não arranca a sério já, torna se alvo de graves críticas futuras. Uma decisão a tomar desde já, parece ser nomear um grupo de trabalho, pouco numeroso, com elementos independentes, alheios à função pública, com a incumbência de apresentarem um estudo com conclusões e propostas concretas, realistas. Deveria contar com técnicos de protecção civil, bombeiros, docentes universitários com trabalhos publicados, agrónomos, silvicultores, ecologistas.
A influência política só deveria surgir a jusante, depois de terminado o relatório final, para o analisar e tomar as devidas decisões. É um assunto demasiado importante para continuar circunscrito exclusivamente à iniciativa dos governantes.
Boas-Festas
Há 2 horas
2 comentários:
A vigilância é sem dúvida a linha de prevenção no que toca aos grandes fogos. Mas é necessário actuar muito antes disso.
Aqui em Mortágua, conscientes do esforço das instituições e daspopulações nessa vigilância, não podemos deixar também de agradecer à providência o facto de nada de maior se ter passado desde os longiquos anos de 1980 e '81.
No entanto a "desgraça" está e estará sempre à espreita num concelho que tem 83% da sua área florestada, e 82% desta com eucalipto (60% da área total). A extensão contínua de uma só espécie, sem qualquer tipo de aceiro, atinge áreas na casa das dezenas de kilómetros quadrados.
A monocultura, além de aumentar a facilidade de evolução do fogo, levanta também problemas a nivel biológico (criando terreno fértil para as pragas) e económico (o assentar grande parte da capacidade de geração de riqueza de um concelho num só sector).
Interessa por todos os motivos e mais alguns repensar seriamente os modelos de floresta que pretendemos.
Mário Lobo,
Concordo com os perigos da monocultura e acho justa a denúncia de tal situação a fim de ser corrigida para se evitarem os efeitos nocivos.
Quando referi o exemplo de Mortágua, quis apenas recordar uma notícia de há uns poucos anos que referia a organização da vigilância da área florestal pelos populares, no estilo de patrulhamentos policiais.
Floresta vigiada está mais defendida dos fogos quer ocasionais quer postos. E a detecção oportuna permite o combate antes de se propagarem.
Cumprimentos
João
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