Mensagem de Ano Novo do Presidente da República
Palácio de Belém, 1 de Janeiro de 2009
Boa Noite,
No início deste novo ano, dirijo a todos os Portugueses, onde quer que estejam, uma saudação calorosa e os melhores votos para 2009.
Quero começar por dirigir uma palavra especial de solidariedade a todos os que se encontram em situações particularmente difíceis, porque sofreram uma redução inesperada dos seus rendimentos.
A estes homens e a estas mulheres, que sofrem em silêncio, e que até há pouco tempo nem sequer imaginavam poder vir a encontrar-se na situação que agora atravessam, quero dizer-lhes, muito simplesmente: não se deixem abater pelo desânimo.
O mesmo digo aos jovens que, tendo terminado os seus estudos, vivem a angústia de não conseguirem um primeiro emprego: acreditem nas vossas capacidades, não percam a vontade de vencer.
Quero também lembrar dois outros grupos da nossa sociedade que são frequentemente esquecidos e que vivem tempos difíceis.
Os pequenos comerciantes, que travam uma luta diária pela sobrevivência. O pequeno comércio deve merecer uma atenção especial porque constitui a única base de rendimento de muitas famílias.
Os agricultores, aqueles que trabalham a terra, que enfrentam a subida do preço dos adubos, das rações e de outros factores de produção.
Sentem-se penalizados face aos outros agricultores europeus por não beneficiarem da totalidade dos apoios disponibilizados pela União Europeia.
O mundo rural faz parte das raízes da nossa identidade colectiva. A sua preservação é fundamental para travar o despovoamento do interior e para garantir a coesão territorial do País.
Portugueses,
Não devo esconder que 2009 vai ser um ano muito difícil.
Receio o agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza e exclusão social.
Devo falar verdade.
A verdade é essencial para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes.
É sabendo a verdade, e não com ilusões, que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca.
A crise financeira internacional apanhou a economia portuguesa com algumas vulnerabilidades sérias.
A crise chegou quando Portugal regista oito anos consecutivos de afastamento em relação ao desenvolvimento médio dos seus parceiros europeus.
Há uma verdade que deve ser dita: Portugal gasta em cada ano muito mais do que aquilo que produz.
Portugal não pode continuar, durante muito mais tempo, a endividar-se no estrangeiro ao ritmo dos últimos anos.
Para quem ainda tivesse dúvidas, a crise financeira encarregou-se de desfazê-las.
Como é sabido, quando a possibilidade de endividamento de um País se esgota, só resta a venda dos bens e das empresas nacionais aos estrangeiros.
Os portugueses devem também estar conscientes de que dependemos muito das relações económicas com o exterior.
Não são apenas as exportações e as importações de bens.
São as remessas dos nossos emigrantes, o turismo, os apoios da União Europeia, o investimento estrangeiro, os empréstimos externos que Portugal tem de contrair anualmente.
Para tudo isto, é importante a credibilidade que merece a nossa política interna, as perspectivas futuras do País, a confiança que o exterior tem em nós.
Devemos, por isso, ser exigentes e rigorosos connosco próprios, cuidar da imagem do País que projectamos no mundo.
Caso contrário, tudo será mais difícil.
Não escondo a verdade da situação difícil em que o País se encontra.
Mas também não escondo a minha firme e profunda convicção de que há um caminho para Portugal sair da quase estagnação económica em que tem estado mergulhado.
O caminho é estreito, mas existe. E está ao nosso alcance.
Para ele tenho insistentemente chamado a atenção.
O reforço da capacidade competitiva das nossas empresas a nível internacional e o investimento nos sectores vocacionados para a exportação têm de ser uma prioridade estratégica da política nacional.
Sem isso, é pura ilusão imaginar que haverá verdadeiro progresso económico e social, criação duradoura de emprego e melhoria do poder de compra dos salários.
Sem isso, não conseguiremos pôr fim ao crescimento explosivo da dívida externa.
As ilusões pagam-se caras.
Por outro lado, temos de reduzir a ineficiência e a dependência do exterior em matéria de energia.
Assim como temos de alterar a estrutura da produção nacional, no sentido de mais qualidade, inovação e conteúdo tecnológico.
Os dinheiros públicos têm de ser utilizados com rigor e eficiência.
Há que prestar uma atenção acrescida à relação custo-benefício dos serviços e investimentos públicos.
Para que o nosso futuro seja melhor, para que os nossos filhos e netos não recebam uma herança demasiado pesada, exige-se a todos trabalho e determinação, sentido de responsabilidade, ponderação nas decisões e prudência nas escolhas.
Há que enfrentar as dificuldades do presente com visão de futuro, olhando para além do ano de 2009.
Portugueses,
Conheço os desafios que Portugal enfrenta e quero contribuir para a construção de um futuro melhor.
Tenho percorrido o País e contactado directamente com as pessoas.
Tenho procurado mobilizar os portugueses, apelando à união de esforços, incutindo confiança e vontade de vencer, apontando caminhos e oportunidades que sempre existem em tempo de crise.
Tenho insistido na atenção especial que deve ser prestada aos cidadãos mais atingidos pelo abrandamento da actividade económica.
Tenho apelado ao espírito de entreajuda em relação aos mais desfavorecidos.
Aos Portugueses, pede-se muito neste ano que agora começa.
Mas, na situação em que o País se encontra, especiais responsabilidades impendem sobre as forças políticas.
Os portugueses gostariam de perceber que a agenda da classe política está, de facto, centrada no combate à crise.
As dificuldades que o País enfrenta exigem que os agentes políticos deixem de lado as querelas que em nada contribuem para melhorar a vida dos que perderam o emprego, dos que não conseguem suportar os encargos da prestação das suas casas ou da educação dos seus filhos, daqueles que são obrigados a pedir ajuda para as necessidades básicas da família.
Não é com conflitos desnecessários que se resolvem os problemas das pessoas.
Nesta fase da vida do País, devemos evitar divisões inúteis.
Vamos precisar muito uns dos outros.
Portugueses,
Já passámos por outras situações bem difíceis. Não nos resignámos e fomos capazes de vencer.
O mesmo vai acontecer agora. Tenho esperança e digo-o com sinceridade.
Cada um deve confiar nas suas competências, nas suas aptidões e capacidades.
Este é o tempo de resistir às dificuldades, aos obstáculos, às ameaças com que cada um pode ser confrontado.
Não tenham medo.
O futuro é mais do que o ano que temos pela frente.
O futuro será 2009, mas também os anos que a seguir vierem.
Acredito num futuro melhor e mais justo para Portugal, porque acredito na vontade e no querer do nosso povo.
Para todos, Bom Ano de 2009.
Rapidinhas de História #11
Há 1 hora
10 comentários:
João Soares
O Presidente da Pépublica, diz as verdades que o governo foi escamoteando e bem vistas as coisas, não tomando, as necessárias providências. Gosto de ser optimista, mas quando chegamos a pontos de serem os próprios banqueiros a precuparem-se!...
De facto, a alta finança, é que tem movido os governos!...
Abraço.,
Daniel
Caro Daniel Milagre,
Que o Ano promete ser difícil é quase uma certeza indiscutível, a não ser que os economistas que já mostraram não ter capacidade de previsão nem de prevenção, voltem a errar!
Mas quanto ao castigo dos culpados não tenho a mínima esperança, nem na capacidade do povo, nem na coragem dos políticos.
Para começar, todos os políticos têm sido culpados, uns directamente outros de forma indirecta. E a solução não assenta na troca de lugares, na substituição dos que estão nas cadeiras. O mal do regime tem sido o vício de encher os tachos e fazer rodar as pessoas após cada eleição, com os custos de que os que saem ficam a receber fortunas como subsídio de reinserção, porque consideram que ainda não se encheram suficientemente. Vejamos o estado de riqueza de todos os ex-governantes, deputados e assessores! Os que entram para o poleiro, ávidos de dinheiro, irão repetir a ganância dos substituídos.
O que interessa não é mudar o partido, porque temos verificado que o comportamento está generalizado e todos seguem os mesmos vícios. O que interessa é o PR sentar-se à mesa com todos os partidos e discutir a solução que preconizei em 231 de Agosto no post
Reforma do regime é necessária e urgente, por forma a ser assinado um protocolo de bom entendimento dos partidos para um regime mais eficaz. Daí até poderia resultar o Governo chamar para um cargo governativo elemento de outro partido, Será urgente e indispensável que todos os políticos passem a pensar mais nos interesses do País do que nos do próprio bolso.
Penso que o post referido merece ser objecto de meditação honesta, patriótica. Sem uma medida desse género, o País continuará a ser espoliado dos seus recursos e a população dividir-se-á em dois grupos, um formado por nababos ligados à política, por emprego e por amizade e conivência e a outra, a grande maioria, por pobres que procuram sobreviver à custa de migalhas de uns subsídios mais prometidos do que distribuídos.
Falta essa coragem do PR. Mas, se a tiver, faltará a compreensão e adesão dos partidos. E a crise devorará tudo o que resta de bom no País.
Um abraço
João
não ouvi em directo tais afirmações, apontou algumas evidencias, mas no todo gostei.
João
Não ouvi, mas pelo que li e pelas reportagens quer-me parecer que foi uma mensagem realista.
Mas não chega. Agora é a vez de o PR intervir quando necessário e, se preciso for, dar um murro na mesa. Não chegam os puxões de orelhas.
Bom 2009
Abraço
Caro João Soares
Este sistema financeiro está falido. Chegou ao fim.
Pessoalmente nunca acreditei nele. Como se pode enriquecer gastando cada vez mais? Mas respondiam-me que os sábios economistas é que sabiam o que faziam. Que era o consumo o seu grande motor...
Mas agora chegou-se à triste e trágica conclusão que essas criaturas se limitaram a engendrar um esquema em que, por um lado, embarateciam os produtos de consumo para os tornar mais apetecíveis (para esse efeito, ou espremiam os que, com o seu trabalho prodiziam a riqueza ou, na impossibilidade lançavam esses trabalhadores no desemprego deslocalizando as empresas).
Por outro lado, incentivaram o consumo até ao total endividamento dos visados. A toda essa manobra chamavam-lhe "crescimento".
Entretanto, no circuito do dinheiro, alguém ficava com a maior parte. Por artimanhas que dominavam, especulação, paraísos fiscais, tráfico de droga, armas e outros "benefícios", essa classe parasita que, em boa verdade, não produzia riqueza, ganhou fortunas incomensuráveis.
Só que a bola de neve rebentou, como seria de prever se não fossem essas "sumidades" em economia.
Caro Daniel,
Também não ouvi em directo e logo que ouvi uma referência, fui procurar e publiquei aqui, porque é um texto que merece vir a ser consultado com frequência.
Haja alguém que nos fala com verdade, mesmo que seja incompleta!
Abraço
João
Amaral,
A mensagem foi politicamente correcta, seguindo todos pormenores da conveniência, das boas maneiras, da condescendência. O Presidente é muito cauteloso, talvez em demasia, que é incapaz de dar um murro na mesa. Mas isto precisa de ousadia e se a Constituição não permite governar bem o País, rasgue-se a faça-se outra.
Isto precisa de e uma mudança profunda. Há que curar o vício dos políticos da arrogância, do egoísmo, da ambição desmedida, servindo-se do País em proveito próprio, de familiares e de amigos. Tudo gente séria, como o caso do BPN e outros casos menos publicitados acabam por demonstrar.
Trocar de partidos não é solução suficiente como já temos visto. Mas também não será oportuno, pelo menos por enquanto, fazer uma ditadura de seis meses como advoga a presidente do PSD.
Como disse num comentário anterior é preciso mudar o regime como ficou exposto no post
Reforma do regime é necessária e urgente. Haja coragem do PR para tentar essa solução ou outra parecida. Isto já não se resolve com discursos bem intencionados, é preciso ir mais à frente na via da salvação do País da esfomeada gulodice de políticos pouco generosos para Portugal e demasiado ambiciosos para o enriquecimento ilegítimo.
Esquecem-se que não foram eleitos para explorarem o País a seu gosto e em seu interesse, de familiares e amigos. Devem governar em benefício dos portugueses.
Um abraço
João
Caro Vouga,
O sistema financeiro, económico e político (pelo menos com os vícios de que vem enfermando há vários anos) esta realmente falido, como diz.
Os economistas mais conhecidos, vivem demasiado respeitadores de manuais de meados do século passado, sem inovação sem criatividade, sem flexibilidade. Se eles se perpetuassem, em Portugal daqui por 100 anos ainda estaríamos a ouvir argumentos do século passado.
Por este andar o prémio Nobel da Economia nunca virá para Portugal, sendo mais fácil vir o da Física ou da Química, embora estes exijam laboratórios sofisticados, para estudos e experiências. Os nossos economistas recitam frases da crise de 1929, sem se aperceberem que tudo mudou desde então. Ignoraram ou colaboraram nas trafulhices que foram sendo feitas nas últimas décadas, fizeram as mais descaradas previsões e agora fazem outras opostas, com igual entusiasmo balofo. O jornalista Ferreira Fernandes tinha razão quando há dias disse, com muita graça, que vamos ter um bom ano em 2009, porque os economistas estão unânimes a dizer o contrário!!! É que realmente, para estarem politicamente correctos, nunca acertam. Os manuais que decoraram sem digerir, estão desactualizados e eles ainda não deram por isso.
Tenho fé que aquilo que sugiro num dos comentários anteriores, de o PR falar com os partidos e convencê-los a governar Portugal antes de se governarem a si próprios, se for levado a cabo poderá ser um passo importante no caminho da salvação do rectângulo.
Mas duvido que o faça, porque isso não está previsto na sua táctica dos tabus.
Um abraço
João
Sem comentários...
Viver no país real é bem mais dificil do que o Sr. Presidente da República pensa...
Querida Luísa,
As fontes virtuais de conhecimento são muito úteis, sem dúvida, mas têm muitas limitações, algumas inultrapassáveis sem a observação da realidade. Contra factos não argumentos.
Beijos
João
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