Transcrevo este texto de um comentário colocado hoje no post de 1 de Janeiro passado «Combate ao crime violento», porque contém uma análise profunda de um problema que aflige os portugueses. Consubstancia uma boa norma da arte de educar em que a disciplina deve ser ensinada com bons modos pela convicção, mas, quando tal método não é eficiente, dada a 'dificuldade' dos mariolas aprenderem, então tem de entrar a repressão. Se a cenoura não funciona, tem que ser usado o chicote. Este texto merece mais visibilidade do que a proporcionada no espaço de comentário. Espero que o autor, Zé da Burra o Alentejano, me perdoe a ousadia.
A criminalidade precisa de um combate implacável
Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade com o a pobreza e o desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. Barack Obama que prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível.
Há 50 anos a pobreza em Portugal não era menor que a de hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. As estatísticas nem reflectem a nossa realidade porque muitas vítimas já nem se queixam porque sabem que os criminosos são rapidamente postos em liberdade, mesmo quando são capturados e depois ficam sujeitos a represálias. Pela mesma razão, vítimas e testemunhas escondem a face quando são entrevistadas pela televisão.
Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade.
A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor ) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.
Esta política errada está a atrair ao nosso país a criminalidade europeia (e não só), que se apercebe dos nossos cada vez mais "brandos costumes", daí a não ser estranho que quase metade dos condenados sejam estrangeiros.
Dificultar a obtenção de uma licença de porte de arma não tem qualquer efeito sobre os criminosos violentos. Quem acredita que eles tiram uma licença de porte de arma e a compram num armeiro legal? Não! Compram-na nos mercados do submundo do crime e muitas delas são até superiores às das polícias. O tempo em que os delinquentes faziam sobretudo uso de armas furtadas já lá vai, por isso dificultar a obtenção de uma arma legal serve para o criminoso se sentir mais seguro e impede a autodefesa da vítima, que pode sentir arrombarem-lhe a porta e nada poder fazer porque não tem com que se defenda. Há um ditado americano que diz: "mais vale ter uma arma e nunca precisar dela do precisar de uma e não a ter".
Enquanto isto acontece os nossos políticos vão desviando a atenção dos portugueses da realidade criminal do país: ora falando da "Violência Doméstica"; ora do número de detidos por "Excesso de Álcool relativamente ao permitido por lei"; ora da "Violência contra as crianças"; ora do problema da "Pedofilia"...
Zé da Burra o Alentejano
Não à falsificação histórica
Há 1 hora
9 comentários:
Caro João Soares
A maior parte da chamada "pequena criminalidade" deve-se ao tráfico da droga.
Sendo assim, não vale a pena cavar muito fundo para saber quem tira partido dele. E são os seus responsáveis, que auferem lucros incomensuráveis, que devem ser metidos na cadeia. Prender o peixe miúdo nada resolve. É apenas uma medida de cosmética.
A dificuldade em resolver o flagelo da droga está no facto de haver muito "boa" gente que, directa ou indirectamente, beneficia desse crime. Gente importante e poderosa que tudo compra.
Já pensaram porque é que ninguém acaba com os offshores?
Caro Vouga,
A falta de valores éticos tradicionais e a sua substituição pelo «vil metal», esá muito evidente nos comportamentos dos políticos que não se inibem seja do que for para obterem enriquecimento rápido. Daí que...
'A bon entendeur demi parole est sufit'
Um abraço
João Soares
Ao Caro FERNANDO VOUGA
O pequeno traficante de droga não produz ele próprio a droga, assim chegar ao fornecedor é muito simples: é só depois de referenciado deixá-lo algum tempo na sua actividade delituosa e segui-lo, a polícia chegará facilmente ao fornecedor. Será assim tão difícil? se a polícia não sabe como fazer, aqui está a solução que toda a gente conhece. Agora você poderá é questionar-se: porque não procedem assim as autoridades? eu faço a mesma pergunta.
Zé da Burra o Alentejano
Quanto aos "Offshores", é claro que devem acabar, nem nunca deveria ter existido, mas isso tem que ser consertado a nível internacional. A alternativa seria o controlo apertado dos fluxos de capital.
Zé da Burra o Alentejano
Caro Zé da Burra,
Creio conhecer este comentador com outro nome, de que não me recordo. Memória de velho!!!
Prece que quando fala do combate ao tráfico de droga, sabe do que fala! Provavelmente as autoridades não agem como sugere, pelas mesmas razões que os grandes crimes económicos do País ficam sempre na gaveta, ou porque prescrevem, ou porque as provas não são suficientes, ou, em último caso, por absolvição ou pena suspensa!!!
São factos!!! Quem está por trás a ser ocultado??? Alguém com muito poder!!!
Quanto aos offshores, a solução que aponta é muito correcta. Mas cada Estado quer uma excepção para o seu paraíso fiscal. É um raciocínio de político, como bem demonstrou o nosso ministro das Finanças: quer acabar com todos menos o da Madeira. Os políticos acham que a lei é para aplicar aos outros mas não a eles!!!
Enfim, incongruências, contradições, ausência de lógica, etc.
Abraço
João Soares
É verdade, cada Estado vai querer uma excepção, a sua!
Se nada for feito, as minhas previsões deverão confirmar-se: Será o fim deste modelo de civilização que ruirá inevitavelmente a curto prazo. Outro modelo terá que renascer então das cinzas, talvez centrado mais a oriente, porém, terão que ser recriadas regras e até lá iremos "viajar na máquina do tempo", recuando muitas décadas.
Zé da Burra o Alentejano
Caro Zá da Burra,
tudo o que teve início, terá um fim. A civilização não é um mineral indestrutível, e está sujeita a evoluções mais ou menos profundas para bem ou para mal. O comunismo acabou com a queda do muro de Berlim, e o capitalismo está a cair com esta crise financeira com largas repercussões sociais. Os políticos conluiados com a máfia financeira estão a estrebuchar, mas não conseguirão evitar que tudo seja transformado drasticamente. Mal para eles se não se anteciparem a definir novas regras mais em conformidade com o bem das pessoas, hoje mais desprotegidas. Se não se anteciparem em definir o mundo de amanhã, serão cilindrados e os mais sacrificados pela crise actual.
No caso da criminalidade, esta vai aumentar por iniciativas dos desempregados, dos esfomeados, e seria bom que o Governo pensasse nisso com realismo e humanismo. Mas não sabe pensar nisso, nestas condições, como se viu no chamado Congresso do PS em que não foram abordados os reais problemas dos portugueses. Se tais problemas não lhes interessam, para que querem ter a maioria absoluta???
Um abraço
João Soares
"Ao PS interessa-lhe nova maioria absoluta"
Eu não acredito em mudanças radicais e repentinas, mas eu diria: PS/PSD/CDS todos juntos deveriam ter uma maioria absoluta com margem reduzida: um ou dois deputados a mais apenas. É claro que nessa eventualidade haveria uma coligação formal ou informal na assembleia para governar o país, mas teriam que ter em conta a outra parte da sociedade, porque saberiam que da próxima vez o voto lhes poderia fugir. Para isso teria que haver uma pulverisação que não acredito venha a acontecer.
Além disso o nosso problema não é só interno, mas externo também. Nas UE, PS e PSD estão amplamente comprometidos com as actuais políticas e são corresponsáveis.
Um abraço
Zé da Burra
Caro Zé da Burra,
Realmente, o problema não é só interno, não é só nosso. Estamos em época de globalização e tudo é interactivo, o que não dispensa actos individuais que podem ser incentivos à mudança num sentido positivo. A mudança é lenta mas é o somatório de contributos locais.
Em Espanha parece estar em movimento a sugestão de alguns jornais ara que os diversos partidos se unam para elaborar um CÓDIGO DE BOM GOVERNO. Neste espaço, já em 31 de Agosto se referis uma iniciativa desses género no post Reforma do regime é necessária e urgente e já se sugeriu aos políticos que é preciso Pensar antes de decidir, em que se indicava um método para preparar as decisões a fim de não de desperdiçarem recursos por erros de decisão.
Mas nada vai impedir que a modernização e a racionalização se apoderem dos órgãos governativos e do controlo das actividades financeiras e económicas.
Os que mais sofrerão a mudança são os actuais senhores do poder que irão pagar caro os seus vícios de explorar, sem vergonha, os esforços dos contribuintes para seu benefício próprio e dos seus familiares e amigos.
Um abraço
João Soares
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