A crise exige medidas inteligentes para ser iniciada uma nova vida, quer nas empresas quer nas famílias, tendo por finalidade a recuperação das perdas sofridas e a reorganização do sistema económico e financeiro, por forma a evitar que surjam outras situações críticas. Cavaco Silva, com o seu respeitável grau académico e currículo docente e político, critica a confusão entre custos e benefícios, o que sendo correcto em grandes investimentos, é o também nas pequenas despesas que as famílias e os indivíduos fazem diariamente. A este nível desprezam-se os cuidados aconselhados pelo bom senso, na gestão quotidiana.
Um raciocínio baseado neste aspecto leva à conclusão de que a crise aumentou o conflito de interesses entre o produtor/vendedor e o consumidor, sendo aquele apoiado pelo Governo, que faz péssimo uso do dinheiro do contribuinte. O empresário está a fazer tudo para aumentar a facturação, aliciando, por todos os meios e utilizando todos os artifícios, o consumidor a comprar, mesmo que isso não lhe interesse.
Mas não devemos esquecer que foi esta táctica que conduziu à crise: marketing agressivo, publicidade exagerada e, por vezes, enganosa, crédito quase imposto (vá para férias e pague depois), promoções por telefone em que uma pessoa é pressionada a comprometer-se de imediato, sem poder pensar calmamente antes de decidir, etc.
Agora, até o Governo se coloca ao lado dos capitalistas exploradores dos consumidores, forçando estes a negócios em que o custo não tem contrapartida dos benefícios. A crise veio provar que há carros a mais, circulando a maioria com apenas o condutor nas horas de ponta, e muita gente já está a ponderar as vantagens dos transportes colectivos. Como resultado, há menos consumo de combustíveis, menos poluição e as vendas de carros baixaram de forma bem visível.
O povo abriu os olhos e começou a pensar bem. Mas o Governo, na sua óptica de apoio aos possuidores de mais dinheiro, muitas vezes amigos pessoais de governantes, para apoiar os vendedores de carros, importados na quase totalidade, vai aumentar o incentivo ao abate de veículos em fim de vida. Parece que seria mais lógico aconselhar a moderação das despesas, conforme o sugestão de Cavaco Silva, pensando na relação custo/beneficio.
É certo que sem compras, sem consumo, a economia não se desenvolve, mas tudo deve ser contido dentro de limites convenientes. E, se a economia volta a ter um empolamento fictício, com o consumismo vicioso de produtos menos necessários, caminharemos para uma nova crise pouco depois de esta ser ultrapassada.
Parece que a solução correcta passa por aceitar perdas em actividades dispensáveis, mais supérfluas e não prioritárias, e criar normas orientadoras para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável, sem tanto consumismo, sem tanta ostentação e sem tanta concorrência no «faz-de-conta».
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
4 comentários:
O consumismo é o caminho mais curto para o mal de todos e para a exterminação de vida na terra. Veja-se:
Aqui e aqui.
só é assediado quem quer...
permissividade, não será?
Caro Leão Pelado,
O investimento desajustado dos objectivos convenientes e justificados contribui para negoiatas e para o esbanjamento de recursos.
Porém, tem sido visto que não tem havido diferenças substanciais entre os vários governos e todos têm contribuído para o afundar da sociedade.
Seria bom que os partidos chegassem a acordo na elaboração e aprovação de um Código de bem governar, que conteria regras a seguir pelos governos e daria à oposição elementos de avaliação e crítica, para correcção e sugestão de melhores soluções. Portugal precisa da colaboração de todos para encontrar a melhor rota e corrigir desvios de percurso.
O povo não tem bases culturais para se organizar, nem nos partidos, nem nas autarquias, nas paróquias, nas cooperativas nos clubes. Predominam os egoísmos, com invejas e mal-querer.
E entretanto com sucessivos erros de má gestão esgotam-se os recursos do País e do Planeta e a Natureza vai perdendo as capacidades de regeneração. Advirá a aridez e o deserto e, depois, o extermínio de todas as espécies, incluindo a humana.
Um abraço
João
Cara Luísa,
«Só é assediado quem quer», mas infelizmente a maior parte das pessoas acaba por querer aquilo que lhe é prejudicial, por se deixar arrastar pela propaganda insidiosa e aparece o fenómeno CONSUMISMO, acolitado por inveja, vaidade, ostentação e outros vícios que destroem a débil economia doméstica e levam as famílias à falência.
Em plena crise estamos a deparar com acção intensiva de ampliação dos negócios por parte de bancos, seguros e grandes empresas de serviços. O consumidor raramente resiste a tanta insistência.
E o Governo não controla não condiciona por forma a evitar abusos. Os governantes estão feitos com os donos do capital e que lhes podem arranjar um tacho amanhã. As pressões e a corrupção minam a administração do mais alto ao mais baixo nível. E ninguém está a encarar seriamente o combate ao enriquecimento ilícito. Quem o devia e podia fazer não está interessado em matar a galinha dos ovos de ouro, em secar a fonte.
Destroem-se recursos e aumenta a injustiça social.
Um abraço
João
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