sábado, 23 de maio de 2009

Advogados e política

Advogados e política

Publico um extracto da entrevista do Dr. Marinho Pino, bastonário da ordem dos advogados, publicada no Jornal 24 horas do dia 18/5/2009

“ Um advogado não deve de ser deputado, porque quem faz as leis não deve estar a aplicá-las no tribunal. Estão a fazer leis a favor de clientes meus? Pode haver a suspeita de haver leis feitas a favor dos meus clientes e não dos interesses do Estado.

(…) São advogados que entram e saem do governo. Um escritório de advogados em Lisboa, por exemplo, tinha quatro membros no governo anterior a este e, pelo menos um deles, numa posição de ser a segunda ou a terceira figura. Tem de haver alguma moderação! Eu defendo as regras da sã concorrência entre sociedade de advogados, não é conseguir-se contratos através de tráfico de influencias entre sociedades de advogados, não é conseguir-se contratos através de tráfico de influencias subterrâneas, ocultas ou através de manobrismos na Assembleia da República feitos por deputados que são advogados. Sou abertamente contra isso. E isso incomoda muita gente cujos escritórios lucram com essa situação. Por isso estão contra mim.

(…) É o novo estatuto que os preocupa e é por isso que me fazem esta guerra toda. Então quem está a aplicar leis nos tribunais e é pago por grupos económicos, às vezes poderosíssimos, deve estar a fazê-las no Parlamento em nome do Povo? Isto é elementar Sempre fui abertamente contra isso Os advogados não votaram na cor dos meus olhos, mas no programa que apresentei e estão lá estas coisas.

(…) Não tenho medo de eleições. Fazem-me esta guerra toda por estar a tocar em interesses promíscuos, intocáveis até aqui.

(…) As situações estão aí toda a gente as vê fazem-se fortunas no exercício de funções publicas sem qualquer escrutínio por parte da opinião publica. Enriquece-se no parlamento e depois é tudo justificado com honorários de advogado! Estão praticamente a tempo inteiro no Parlamento e ao mesmo tempo a exercer a advocacia. Sejamos claros isto não está correcto.

(…) O dr. José Miguel Júdice pode dizer e pode acusar-me do que quiser. De uma coisa ele não me pode acusar: é de eu, como bastonário da ordem e advogado, ao mesmo tempo, andar a vender a querer vender submarinos ao governo. Sou bastonário e suspendi as minhas funções de advogado, e não estou a querer vender submarinos ou a fazer contratos com o governo em nome de interesses privados. Disso não me pode acusar.

(…) Fiz abertamente politica antes do 25 de Abril e por isso passei pelas cadeias. Não tenho feitio político. Uma pessoa que fala verdade não pode ser político de sucesso em Portugal. E Portugal, para se ter sucesso na política, tem de se mentir, ser actor, fazer encenações ter, uma agência que escolha a camisa, as gravatas e o pó de arroz… eu não tenho feitio para isso mas não abdico de intervir como cidadão”.

Hoje ningém parece ter dúvidas sobre a promiscuidade entre a política e o exercício da advocacia : ela é mais que evidente. Num momento em que a justiça portuguesa é apontada por todos, à excepção de certos interessados, como um dos problemas graves que a democracia portuguesa enferma, não seria de evitar advogados em eleição? Que buscam e que vêm trazer à democracia senão aquilo que toda a gente sabe e desconfia e o bastonário aponta ?

Sendo a justiça um dos pilares senão mesmo o garante da democracia a entrevista torna-se pertinente pela forma directa como o Dr. Marinho Pinho fala dos interesses instalados neste país, (designado por Ribeiro Sanches de “cavernoso” precisamente por casos de justiça) por esta corporação de profissionais que são os advogados. Nesta mesma entrevista o bastonários faz referências curiosas a José Miguel Júdice um advogado que hoje mesmo escreve um artigo no jornal Público, intitulado “O bastonário: ruído e falta de eco”…é de ler !

Não há muito, a OCDE publicou um relatório sobre profissões e nele informava que os advogados e a advogacia eram em conjunto, as profissões e profissionais mais mal considerados, seguidos de economistas, gestores e outros que não recordo. No grupo contrário, no das mais consideradas estavam médicos, professores, artistas, cientistas…

Publicada por António Delgado em Ecos e comentários

Ver o vídeo da entrevista do bastonário por Manuela Moura Guedes

2 comentários:

Duarte N C Neves disse...

Boa noite:

Ora assim é que é que se fala!
Precisamos de Homens, como o Drº Marinho Pinto, mas, como é sabido por todos, pelo seu feitio e por dizer as verdades e ser um homem honesto, é "personna non grata", quer no seu meio, quer para muitos politicos.
Aplaudo tudo o que é dito e que é publicado da entrevista do Jornal, e mais....
Obrigado, Drº Marinho Pinto, pela forma como conseguiu abafar a nossa tão famosa Drª Manuela Moura Guedes, que ao pé de si, realmente, é muito pequenina!
A Drª Manuela Moura Guedes, se fosse politica, ontem no Jornal Nacional da TVI, teria arruinado a sua carreira politica.
Só não arruinou a carreira jornalistica, porque tem o seu marido à frente daquela estação de TV.
O Drº Marinho Pinto, não é o Licenciado Sr. José Sócrates, nosso PM...
É preciso ter-se muita "estaleca", para um confronto com este Gigante falante, Bastonário da Ordem dos Advogados.
V. Exa., Drº Marinho Pinto, diz que não é politico, mas sabe uma coisa:
Eram HOMENS como o Sr. que deveriam estar a guiar este País.
Já o disse em muitos blogues por diversas vezes e em diversas alturas e volto a dizê-lo:
Forme um partido politico, e verá que tem muita gente a apoiá-lo.
Força, Drº Marinho Pinto!
Um Abraço:
Duarte N C Neves

A. João Soares disse...

Eis um homem com personalidade que não receia dizer o que pensa e não se deixa amordaçar pelo politicamente correcto.
Ele e o Medina Carreira são exemplos do que devia haver em maior quantidade em Portugal. Para se sair da crise é preciso coragem para ver a situação com isenção, sem preconceitos partidários, fazer um diagnóstico perfeito e, depois, aplicar a terapia conveniente.
Na geração activa não vejo motivos para esperança, mas tenho fé que na seguinte apareçam jovens honestos e dedicados ao País, para bem da população actual e da vindoura que agora tem sido tão esquecida.
Abraço
João Soares