Têm vindo a público abundantes exemplos de abusos imorais do dinheiro público, desde a «indemnização» de um gestor da ERSE que se despediu de motu próprio ao fabuloso ordenado dos «responsáveis» pelo Banco de Portugal, em relação ao qual o próprio Governador já mostrou discordar numa entrevista na TV.
Agora, no artigo que se transcreve, o jornalista Manuel António Pina, no seu conhecido estilo, «brinca» com o caso da TAP. Trata-se de um caso semelhante ao do TGV, do novo Aeroporto e de mais auto-estradas. O exemplo citado do pintor Salvador Dali não se aplica totalmente porque ele, além da sua extravagância de artista era dono do seu dinheiro, mas nos casos nacionais trata-se de dinheiro público que, de uma forma ou de outra, sai do bolso dos contribuintes.
A piedade mata
JN. 090811. Por Manuel António Pina
As más notícias são que a TAP atravessa, segundo o Conselho de Administração de Fernando Pinto, uma "crise gravíssima", tendo tido no ano passado 280 milhões de euros de prejuízos e vendo-se forçada a pedir sacrifícios aos trabalhadores e a recusar-lhes aumentos salariais.
As boas são que, no mesmo ano de 2008, os administradores atribuíram-se "prémios" com que duplicaram os seus vencimentos (Fernando Pinto, por exemplo, levou 816 mil euros, em vez dos miseráveis 30 mil mensais mais regalias que lhe cabiam);
e que decidiram entretanto adquirir 42 automóveis topo de gama para si e as dezenas de directores avulsos que enxameiam a empresa, pois deslocavam-se todos em viaturas "velhas" de quatro anos, impróprias das suas altas funções.
Trata-se de uma inovadora ideia de gestão: vão-se os dedos mas fiquem os anéis (e comprem-se mais). Deve-se, a inventiva ideia, a Dali que, contava Gala, era nos momentos em que atravessava "crises gravíssimas" que mais gastava, pois, argumentava ele, "a piedade dos vizinhos mata".
A TAP pode morrer, mas ninguém há-de ter razões para se apiedar dos seus administradores.
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