sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Gripe - Imunização na opinião pública

Imunização

Publicado em DESTAK em 17-09-2009 por João César das Neves

Qual é a doença mais mediática, afamada e antecipada de sempre? Essa é fácil: a gripe A. Nunca se viu uma campanha tão obsessiva à volta de uma maleita como nestes meses. Há mais medo da pandemia que das piores doenças antigas. Será que se justifica?

O futuro o dirá. O que se sabe é que na Europa e EUA não se vê o grau de atenção jornalística e mobilização governamental da dimensão do português. Somos sem dúvida o país do mundo mais antecipadamente alertado para se defender de tal constipação. O sector da saúde pode envergonhar-nos pelos custos, listas de espera, qualidade de serviço e indicadores de eficácia. Mas em planos de contingência ninguém nos bate.

Isso levanta um problema: se os efeitos da doença não forem devastadores, se os números de doentes estiverem ao nível das várias gripes habituais, mesmo com os jornais a empolar, que acontecerá?

É provável que nesse caso os responsáveis venham cantar vitória, atribuindo o sucesso ao seu plano de contingência. A ministra da Educação também se congratulou com a redução do insucesso escolar desde que acabou com os exames. Mas temos de nos preocupar com a perda de credibilidade dessas mesmas autoridades. Tal como os ambientalistas, que há muito gostam de promover alarme convencidos que isso lhes favorece as causas meritórias, o Ministério da Saúde tem de compreender que o excesso de alvoroço tende a gerar imunização na opinião pública.

Avisos dramáticos que se mostrem exagerados acabam por perder eficácia. Será difícil voltar a criar uma campanha como a da tão famosa gripe A de 2009.

NOTA: A literatura de há muitos anos dá-nos lições que não devemos esquecer: «Pedro e o Lobo». Convém relembrar. A opinião pública fica imunizada e as autoridades perdem credibilidade. Há coisas que devem ser tomadas na dose adequada, como os medicamentos, mesmo na gripe suína. Não se deve chafurdar demasiado.

3 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Nem outra coisa seria de esperar, quanto mais não fosse por estarmos em ano supereleitoral. O que está em causa, para os nossos "governantes", é apenas a imagem, em proveito da qual tudo se sacrifica.
E o pagode que se lixe.

A. João Soares disse...

Caro Fernando Vouga,

E eles, ciom a sua «luminosa» inteligência nem se apercebem que o benefício para a imagem é efémero. Mas o povo deixa-se arrastar pela onda de propaganda, não reflecte no logro em que o metem e lá vai dar o seu voto a indivíduos sem ética sem escrúpulos. É uma preocupação com todos os poderes passada a pessoas que não merecem confiança, que só pensam nos seus interesses pessoais e que se conluiam todos para casos como a lei de financiamento dos partidos. Alguém os vê unidos contra a corrupção e o enriquecimento ilícito??? Não, porque isso iria secar a sua fonte de enriquecimento. A maior parte deles chega pobre à política e, passado pouco tempo, faz parte dos mais ricos do País.
Abraço
João

Unknown disse...

Caro João,
gostaria de ajudar a divulgar este post que considero de extrema importância. Como tal venho dizer-lhe que o vou colocar na Voz do Povo.
O João não se aborrece que o copie, pois não?

Beijinhos e bom fim de semana,
Ana Martins