Imunização
Publicado em DESTAK em 17-09-2009 por João César das Neves
Qual é a doença mais mediática, afamada e antecipada de sempre? Essa é fácil: a gripe A. Nunca se viu uma campanha tão obsessiva à volta de uma maleita como nestes meses. Há mais medo da pandemia que das piores doenças antigas. Será que se justifica?
O futuro o dirá. O que se sabe é que na Europa e EUA não se vê o grau de atenção jornalística e mobilização governamental da dimensão do português. Somos sem dúvida o país do mundo mais antecipadamente alertado para se defender de tal constipação. O sector da saúde pode envergonhar-nos pelos custos, listas de espera, qualidade de serviço e indicadores de eficácia. Mas em planos de contingência ninguém nos bate.
Isso levanta um problema: se os efeitos da doença não forem devastadores, se os números de doentes estiverem ao nível das várias gripes habituais, mesmo com os jornais a empolar, que acontecerá?
É provável que nesse caso os responsáveis venham cantar vitória, atribuindo o sucesso ao seu plano de contingência. A ministra da Educação também se congratulou com a redução do insucesso escolar desde que acabou com os exames. Mas temos de nos preocupar com a perda de credibilidade dessas mesmas autoridades. Tal como os ambientalistas, que há muito gostam de promover alarme convencidos que isso lhes favorece as causas meritórias, o Ministério da Saúde tem de compreender que o excesso de alvoroço tende a gerar imunização na opinião pública.
Avisos dramáticos que se mostrem exagerados acabam por perder eficácia. Será difícil voltar a criar uma campanha como a da tão famosa gripe A de 2009.
NOTA: A literatura de há muitos anos dá-nos lições que não devemos esquecer: «Pedro e o Lobo». Convém relembrar. A opinião pública fica imunizada e as autoridades perdem credibilidade. Há coisas que devem ser tomadas na dose adequada, como os medicamentos, mesmo na gripe suína. Não se deve chafurdar demasiado.
No aniversário da morte de Picasso
Há 1 hora
3 comentários:
Caro João Soares
Nem outra coisa seria de esperar, quanto mais não fosse por estarmos em ano supereleitoral. O que está em causa, para os nossos "governantes", é apenas a imagem, em proveito da qual tudo se sacrifica.
E o pagode que se lixe.
Caro Fernando Vouga,
E eles, ciom a sua «luminosa» inteligência nem se apercebem que o benefício para a imagem é efémero. Mas o povo deixa-se arrastar pela onda de propaganda, não reflecte no logro em que o metem e lá vai dar o seu voto a indivíduos sem ética sem escrúpulos. É uma preocupação com todos os poderes passada a pessoas que não merecem confiança, que só pensam nos seus interesses pessoais e que se conluiam todos para casos como a lei de financiamento dos partidos. Alguém os vê unidos contra a corrupção e o enriquecimento ilícito??? Não, porque isso iria secar a sua fonte de enriquecimento. A maior parte deles chega pobre à política e, passado pouco tempo, faz parte dos mais ricos do País.
Abraço
João
Caro João,
gostaria de ajudar a divulgar este post que considero de extrema importância. Como tal venho dizer-lhe que o vou colocar na Voz do Povo.
O João não se aborrece que o copie, pois não?
Beijinhos e bom fim de semana,
Ana Martins
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