quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Voz do povo é voz de Deus

E a voz do povo é, muitas vezes, expressa pela pena de cronistas, bem intencionados que procuram alertar para o perigo de uma rota errada levar o navio a encalhar no rochedo e chegam ao ponto de sugerir pistas para solucionar falhas por omissão ou distracção.
Há lendas e factos antigos que hoje se tornam realidade. Transcreve-se aqui uma lição extraída do naufrágio do Titanic, e uma lenda celta, do mesmo cronista e um alerta de outro autor que merece também ser tido em atenção É pena que os governantes, obcecados como estão com a sua ambição pessoal, a concentração no seu umbigo e a teimosia orgulhosa de não quererem emendar erros e corrigir o rumo, não queiram compreender as realidades e aceitar sinais de bom senso e de ajuda.
Pessoas como o comentador anónimo que assinou António Lopes, parecendo um clone do que assinou Leandro e Bernardo, devem analisar o significado destas e de oputras crónicas, tirar as suas conclusões quanto ao presente e aconselhar as pessoas com quem contactem. Mas parece estarem mais interessados em incensar o chefe, mesmo que, com isso, o arrastem mais rapidamente para o afundamento.

Notícias do naufrágio
Jornal de Notícias. 2010-02-08. Manuel António Pina

Diz-se que, enquanto o Titanic se afundava, no salão de festas a orquestra continuou a tocar. A ter sido assim, deve ter havido um momento em que, ou porque a água chegou aos instrumentos ou porque chegou o pânico aos instrumentistas, a orquestra desafinou.
Ouve-se o primeiro-ministro dizer que o défice foi, afinal, uma opção do Governo, espécie de derrapagem controlada para tentar sair em velocidade da curva e, ao mesmo tempo, o ministro das Finanças confessar que se enganou quanto ao tamanho do "iceberg", e a desafinação dos solistas da crise orçamental não parece bom prenúncio. Acrescente-se a visão do governador do Banco de Portugal metido num bote a caminho de uma organização internacional e ceceando a monótona mantra do "Aumentem-se os impostos, baixem-se os salários" enquanto se multiplicam os rombos na credibilidade das instituições, e justificar-se-ia que crescesse a inquietação. Mas o Sporting perde, o Benfica empata, o seleccionador nacional esmurra não sei quem e Mimi Travessuras vem cantar a Lisboa. E, como que por milagre, dissipam-se, a julgar pelos jornais, todos os perigos.

Uma lenda celta
Jornal de Notícias. 100218. Manuel António Pina

Uma lenda celta, compilada por Bioy Casares em "Contos breves e extraordinários", conta a história de dois reis inimigos que jogam xadrez enquanto os seus exércitos combatem, demorando-se, como Borges diz, "hasta el alba en su severo/ ámbito en que se odian dos colores".

"Chegam mensageiros com notícias da batalha; os reis não os ouvem e, inclinados sobre o tabuleiro de prata, movem as peças de ouro... Ao entardecer, um dos reis derruba o tabuleiro porque apanhou xeque-mate e, pouco depois, um cavaleiro ensanguentado vem anunciar-lhe: 'O teu exército está em fuga, perdeste o reino'". Manuel Alegre não será propriamente um rei, nem sequer ainda um presidente, mas o silêncio em que parece mergulhado enquanto, à sua volta, o país arde em torno do tema da liberdade, recorda a longínqua lenda. É natural que esteja preocupado com os "tenue(s) rey(s), sesgo(s) alfil(es), encarnizada(s) / reina(s), torre(s) directa(s) e peon(es) ladino(s)" que se alinham no tabuleiro da sua candidatura. Mas jogar o seu jogo alheando-se do país talvez seja prudência (ou, se calhar, imprudência) comprometedora de mais.

Depois de Sócrates
Correio da Manhã. 18 Fevereiro 2010. Por Carlos de Abreu Amorim, jurista

Face ao imparável declive ético e político de Sócrates, o PS atém-se a uma atitude de resguardo aperreado do poder pelo poder – o que condicionará o futuro do partido por muitos anos. Se o PS mudasse higienicamente de líder ficaria em condições de enfrentar os desafios da governação de cabeça limpa e discurso tranquilo.

Ao contrário, parece ter optado por se barricar no bunker que a falta de vergonha do seu Chefe tramou para si e para os que não têm pudor em serem comparados com ele. Um Governo assim não governa coisa nenhuma, apenas gere de forma desconexa a sua morte adiada. O PS pagará bem caro este apoio deplorável. Em vez de ser o partido da liberdade e da democracia passará a representar o pior do regime – a malta de Sócrates, de Vara e do Soares da PT.

5 comentários:

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo João,

Sabe que não e meu costume comentar as crónicas, mesmo as suas, sobre política.
Vim até aqui e li...
Li um belíssimo texto, como era de esperar, e fundamentalmente percebi que não estou nem cega nem surda e muito menos desatenta à realidade que este país atravessa... só FARTA de tanta corrupção e nada de justiça, nem POPULAR.

Beijinhos

Mentiroso disse...

Interessantes historietas, embora a última, talvez por curta, aborde o problema com uma ainda maior falta de objectividade. A objectividade é precisamente o ponto fraco da maioria das críticas que se lêem e ouvem, sejam elas num sentido ou noutro.

Ao que parece, ninguém parece ter-se dado conta de que a causa deste distúrbio vem dum outro lado que tem muito menos a ver com os infractores e políticos: as decisões da justiça portuguesa não são reconhecidas pelo povo e são discutíveis. A justiça está no mais profundo descrédito e para isso foram apenas os seus próprios actores quem contribuiu. Ninguém acredita neles porque a experiência nos diz sobre a sua incapacidade, corrupção, arrogância de estúpidos e incompertentes, impostura, maus profissionais e sem a preparação necessária, juízes reunidos em sindicatos, que fazem greves e que, reclamando os direitos dos funcionários públicos não querem ser tratados como eles.

Será de crer que com uma justiça exercida por profissionais dignos e honestos, se poderia gerar tudo a que se assiste? Além disso, ninguém se informa como casos idênticos sobre a imprensa são tratados noutros países considerados democráticos, como na Inglaterra, na Alemanha, na Argentina, nos EUA, etc., etc.? Jamais esquecer que liberdade de imprensa ou qualquer outra que seja, não pode passar por cima de qualquer outra liberdade individual, coisa quase completamente desconhecida e desconsiderada em Portugal. Aliás, foi por isso (pela forma) e não pelo conteúdo (o fundo) que a MMG foi condenada pelo conselho de deontologia do seu próprio sindicato.

http://dn.sapo.pt/DNMultimedia/DOCS+PDFS/ComunicadoCD_SindicatoJornalistas.pdf

http://www.jornalistas.eu/imprimir.asp?id=507&idcanal=402

http://www.publico.pt/Sociedade/conselho-deontologico-considera-reprovavel-desempenho-de-manuela-moura-guedes-no-jornal-nacional_1383911

Por demais e ao que tudo indica, estamos a deixar-nos ser guiados pelos grandes interesses financeiros que se apoderam das informações, tal como escrito no cabeçalho do blog Mentira! Não é novo.

De notar que o documento do primeiro link foi substituido por um outro donde o seguinte texto, após a assinatura foi retirado:
Aprovado por maioria, com o voto contra de Otília Leitão e a seguinte declaração de voto: "Voto contra, porque não se provou que tenha sido infringida qualquer norma do Código Deontológico do Sindicato dos Jornalistas."

A. João Soares disse...

Caro Mentiroso,

As últimas linhas do seu comentário estão em sintonia com as palavras do PGR, citadas no artigo PGR alega que tentar controlar imprensa e TVI não é crime.

Tem razão o Sr PGR. Um robot preso ao restrito significado da letra da lei, feita por políticos habilidosos, não diria melhor. Das palavras do Sr PGR deduz-se que quando os políticos tomam atitudes anti-democráticas, autoritárias, ditatoriais, anti-éticas, imorais, chamando-se entre si os piores nomes e insinuando as piores coisas, desrespeitando os direitos e liberdades, também não é crime, porque não está explicitamente expresso na lei. Dessa forma não será crime dizer-se: vão para a pqp.
Mas Sr PGR, não devemos esquecer que acima da letra da lei e da Justiça estão valores éticos, morais, essenciais que agora têm sido pisados repetidamente. Isso pode sair do âmbito das funções de um PGR e dos tribunais mas o povo não pode ignorar e deixar de exigir reparação. Se não for pela Justiça, poderá ter de vir a ser por outros meios. Acontecerá um dia. Oxalá não seja pior a emenda do que o soneto!

Abraço
João

A. João Soares disse...

Querida Fernanda,

Ninguém é obrigado a deixar comentário. Mas a amiga, não sendo cega nem surda, também não deve ser muda. O nosso Portugal precisa da voz de todos, de cada um de nós. Devemos respeitar as opiniões dos outros, mas também devemos exigir que as nossa sejam igualmente respeitadas. Deve haver reciprocidade sejam quais forem os cargos de cada cidadão. Os cargos servem apenas para serem assumidas responsabilidades diferentes, com os respectivos deveres de eficiência de desempenho.

Beijos
João

Mentiroso disse...

Absolutamente. Por isso que não se saiba de que lado poderá estar a razão quando de ambos os lados se ouvem partes da mesma lenga-lenga que citou: «atitudes anti-democráticas, anti-éticas, imorais, chamando-se entre si os piores nomes e insinuando as piores coisas, desrespeitando os direitos e liberdades». Creio que mandar apenas os políticos paro onde os manda não chega, pois que se lhes devem juntar os homens da pseudo-justiça. Aliás, foi esta a conclusão do meu comentário. Todos querem o mesmo: viver à custa da miséria a que levaram a população e terem privilégios que não existem em qualquer estado democrático.