Transcrição de artigo que vale pela sua isenção e clarividência, tornando claro um problema que está sendo complicado pelos calores alheios aos interesses nacionais e ao sentido de Estado.
O pequeno imbróglio das grandes obras
JN. 100506. 00h30m. Por Paquete de Oliveira
JN. 100506. 00h30m. Por Paquete de Oliveira
Sem habilitações próprias para discernir qual deva ser a opção correcta entre o fazer grandes obras (TGV e aeroporto de Alcochete) e não fazer, neste contexto de crise que, todos os dias, parece cavar-se mais fundo, tenho procurado estar atento aos argumentos dos defensores das duas posições. Tenho procurado estar atento aos argumentos dos defensores das duas posições. Tenho ouvido e lido as várias intervenções.
Confesso que, tudo somado, há um vector que me baralha por completo: o lado ideológico daqueles que estão contra tradicionalmente ao Centro ou à Direita, e o daqueles que, regra geral, estão a favor, fundamentalmente com posições de Esquerda.
Na verdade, para a decisão, entre o vir a fazer e não fazer, pouco ou nada importa este meu baralhamento. Mas preocupa-me que, porventura, para uma decisão nacional e de Estado seja este o último e mais forte factor decisório. Nem as discussões públicas sobre este assunto que tenho anotado entre técnicos abalizados, em especial financeiros, engenheiros, economistas, sinto esse tal "vector ideológico" anulado. Provavelmente, por uma não superada insuficiência mental estava convencido de que as razões dos economistas não sofriam contágio das razões ideológicas.
O elevado endividamento externo (do Estado e dos privados) e o preço a que está o dinheiro emprestado face à anotação que nos vão fazendo as agências sinalizadoras dos "ratings" a provocarem um estrangulamento forte da nossa economia são argumentos relevados por aqueles que defendem o adiamento das obras. E estes marcham para Belém a pedir ao presidente da República que intervenha. Outros estribam-se no princípio de que, sem investimento público, nesta fase, não será possível responder ao desemprego, o grande sufoco deste país. O Governo diz que o seu programa, neste ponto, e por estar incorporado no PEC, é para cumprir. Por sua vez, Cavaco Silva fala como economista e como professor de macroeconomia. Recebe aqueles ex-ministros que, em vez de irem a Belém, seria tão bom que pudessem voltar aos seus ministérios para corrigir decisões políticas que, porventura, não consciencializadas ao tempo de cada um, foram contribuindo para esta crise económica estrutural que já nos vitima há tanto tempo.
Tudo somado, se a decisão passar pelo Parlamento, a Esquerda, unida, votará pelas grandes obras. Se Belém conseguir fazer valer o tal semipresidencialismo as obras serão adiadas. Um dia, se saberá quem ganhou: o país ou a ideologia.
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