O «Portugal profundo» está a ser deixado aos bichos ou servirá de campo de treino de grupos terroristas internacionais, onde viverão calmamente a sua vida ascética no intervalo das missões. O problema já é velho e, na NOTA final, estão links para posts aqui publicados desde há mais de três anos. Vejamos o artigo transcrito:
O teatro do abandono
Jornal de Notícias. 09-06.2010. Por Paula Ferreira
Em Setembro, milhares de alunos não regressam à sua escola. Migram, como certas aves, para outro estabelecimento de ensino. A razão é simples. A escola que frequentaram tinha menos de 21 estudantes. A medida, anunciada pela ministra da Educação, pode ter a melhor das intenções. Isabel Alçada argumenta com o sucesso das crianças. Algo que nos interessa a todos. O sucesso delas será o sucesso do país.
A titular da Educação alicerça, com certeza, a sua decisão em estudos sérios: a taxa de insucesso das crianças integradas em turmas com menos de 21 alunos é superior à das que frequentam turmas maiores.
Até aqui, tudo bem. Mas o problema é mais basto. Começou a definir-se há décadas. Esta última medida do Governo - há poucos anos fecharam as escolas com menos de 10 alunos - é apenas mais uma a contribuir para a criação de dois países diferentes, até antagónicos. O país do litoral, densamente povoado, demasiado até; e o outro, o país dos velhos, que resiste até ao dia em que esses velhos conseguirem resistir.
Um país por muitos de nós já esquecido, onde nada existe: fecharam as urgências hospitalares, os serviços de atendimento permanente, maternidades, as comarcas, as escolas. Alguém terá a veleidade de acreditar que isto é um país igual para todos, um país democrático? Será, quando muito, um sítio pitoresco, onde os portugueses, cansados da vida das cidades, mostram aos filhos como era antigamente. Com um pequeno senão. As crianças encontrarão uma espécie de teatro do abandono, só as pedras e os campos por cultivar parecem reais. Tudo o resto será criado por personagens, importadas, muitas delas.
Não venham, então, dizer-nos que é preciso combater a desertificação. Ninguém acredita. Se de facto a intenção existisse, a Administração deixaria de ser tão centralista e começaria, de verdade, a travar o despovoamento. E em vez de fechar serviços, abria-os. Alguém acredita ser possível convencer um jovem casal a ir viver para o interior se não encontrará um sítio para dar à luz um filho, nem escola para aprender as primeiras letras?! E isto é o básico, o resto é a paisagem.
NOTA: Este, como todos os problemas, principalmente os que condicionam a vida de muitas famílias, deve ser bem ponderado, com achegas de pessoas sensatas (no estilo utilizado pelo actual PM britânico) que compreendam as realidades. Fechar todas escolas com menos do que 21 alunos e obrigar essas crianças a deslocarem-se diariamente à sede do concelho, nem sempre será a melhor solução, pois podem passar a frequentar a escola de uma aldeia próxima, de forma a que a rede escolar cubra de forma geométrica e geograficamente aceitável o interior do País. O Rei D. Sancho I iniciou o povoamento do país e os actuais governantes não se devem mostrar menos inteligentes e patriotas do que ele foi há mais de oito séculos.
Não se pode ter uma coisa e o seu oposto: combater a desertificação e fechar escolas e outros serviços de apoio à população.
Eis os links referidos na introdução:
- O interior português está ostracizado
- O Interior abandonado pelo Governo
- Desertificação do interior - 1
- Desertificação do interior - 2
- Desertificação do interior - 3
- O interior precisa de atenção
- Encerramento de Escolas
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Desertificação do interior
Posted by A. João Soares at 16:53
Labels: desertificação, escolas, interior
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