sábado, 7 de agosto de 2010

Tempos difíceis 2

Cultura ou identidade corporativa

(…) A existência de uma cultura ou identidade corporativa é válida. Normalmente assenta em valores positivos de lealdade, solidariedade e coleguismo ou camaradagem.

Gerir contra a cultura instalada, independentemente dos seus aspectos positivos ou negativos para o cumprimento da missão do sistema, é considerado ofensivo da legitimidade da qual o corpo social se arroga. Esta ofensa coloca o corpo social contra as políticas e as decisões da Administração.
Quando esta situação acontece, ou seja, sempre que há um conflito de legitimidade, a discussão desloca-se para o campo da ética. E perde a luta quem não apresentar argumentos com maior peso moral, invocando considerações respeitantes a valores de dignidade, respeito, justiça e outros do género.

Em sistemas com corpos sociais grandes e de identidade vincada, o clima de conflitualidade pode inibir totalmente a capacidade ou a liberdade de acção governativa. Se, a título de exemplo, olharmos para o conflito à volta do processo de avaliação dos professores, verificamos que os professores «nunca lutaram contra a avaliação». Opunham-se e põem-se à maneira como é feita. (…)

(pág. 16-17)

NOTA: Este trecho do livro faz recordar as esperanças baldadas de reformas profundas em vários ministérios no início do Governo anterior. As esperanças criadas faziam prever ser o melhor Governo desde 1974, por ir aperfeiçoar aquilo de que todos se lamentavam em voz alta. Porém, não houve o saber, a sensatez e a sensibilidade para ter em atenção «a cultura instalada».


Assistiu-se à arrogância de querer reformular os sistemas contra «a identidade corporativa» de juízes, de médicos, enfermeiros e farmacêuticos, de professores, de polícias, de militares, etc. Era previsível que não resultaria e o País seria lesado por medidas que, se fossem correctas, o deveriam favorecer. Uma boa negociação que conduzisse a reformas «aceites» e apoiadas pelos principais agentes do respectivo sistema, poderia não ser a solução óptima mas não seria o fracasso generalizado a que se assistiu.

Este pormenor é um pequeno exemplo do valor didáctico deste livro, de grande utilidade para governantes, que o devem eleger «livro de cabeceira».

2 comentários:

sessentaequatro disse...

Modéstia àparte, digo a "nota" há muito tempo, e ao próprio autor.
Falta salientar as insuspeitadas forma e conteúdo das resistências corporativas e dos obstáculos político-partidários levantados com o seu aproveitamento entusiástico e levantamento na opinião pública.Foi pena ! O prejuizo foi geral. É que não pode deixar de se passar por aí na absolutamente necessária reforma do Estado.Alguém a terá de fazer ! Inépcia ou falta de geito e a proclamada arrogância só ?

A. João Soares disse...

Realmente o País precisa de profundas reestruturações, de grandes mudanças do sistema governativo e dos serviços públicos. Da forma como est+a a máquina do Estado fica demasiado cara para produzir pouco mais do que NADA. Há exagerada preocupação em controlar tudo, para nada ser rigorosamente inspeccionado e tolher as iniciativas e a realização de objectivos pessoais e empresariais. O comércio ou distribuição é demasiado caro e encarecedor por haver sucessivos intermediários entre o produtor e o consumidor, mas a ASAE, em vez de reorganizar todos os circuitos, prende-se com medidas repressivas exageradas, que não favorecem ninguém. Enfim, como o povo não reclama devidamente e com força, vamos vivendo cada mais en crise...

Cumprimentos
João
Saúde e Alimentação