segunda-feira, 28 de março de 2011

Governo de que Portugal precisa

Por vir completar de forma mais sistemática e esclarecida o tema prático e objectivo do post Sugestões para o novo Governo, transcreve-se o seguinte artigo com intenção de servir para meditação aos leitores com capacidade de interpretação apartidária e sem amarras.

Que Governo?
Sol. 28 de Março, 2011 por José António Saraiva

A caminho de novas eleições, convém ponderar as alternativas possíveis e as soluções que mais interessam a Portugal.
As eleições legislativas devem sempre, na medida do possível, significar uma renovação da esperança.
E isso significa uma mudança de pessoas, uma mudança de discurso, uma mudança de estilo e uma mudança de políticas.
Por isso, é natural que a um Governo do PS suceda um Governo do PSD.

Acontece que, dada a situação que se vive, é vital que o próximo Governo disponha de maioria absoluta.
E será mais fácil o PSD alcançá-la numa coligação pré-eleitoral com o CDS do que concorrendo às eleições sozinho.

A primeira conclusão a tirar, portanto, é que o PSD e o CDS devem concorrer coligados - tentando criar uma dinâmica de vitória capaz de garantir um resultado eleitoral clarificador.
Caso contrário, o resultado das eleições poderá ser uma salada russa, com o PSD, o PS e o CDS ensarilhados uns nos outros, obrigando a arranjos governativos que serão trágicos para o país.
SE o PSD e o CDS concorrerem separados e a soma dos seus deputados não alcançar a maioria, será necessário chamar o PS ao Governo.
Mas aí começarão os problemas: será concebível que Sócrates continue no Executivo, ainda que numa posição subalterna?
E o que sucederá se ele quiser continuar e o PS concordar?

Em segundo lugar, com ou sem Sócrates, a presença simultânea no Governo dos dois principais partidos tende necessariamente a ser conflitual.
É como ter dois galos numa mesma capoeira.

Em terceiro lugar, o novo Governo, em vez de ser o Governo de combate de que o país precisa, seria um Governo permanentemente em busca de compromissos, porque teria de agradar aos dirigentes do PS e do PSD ao mesmo tempo.

Em quarto lugar, seria seguramente um Governo grande, com muitas pastas e muitas secretarias de Estado, porque cada partido quereria dispor de lugares para colocar o seu pessoal.

Em quinto lugar, a presença do PS no próximo Governo seria um poderoso entrave à limpeza que é preciso fazer na máquina do Estado e suas adjacências, que está enxameada de boys; como é lógico, o PS tentaria ao máximo defender as suas posições.

Em suma, em vez de termos um Governo novo e decidido, teríamos uma marmelada - provavelmente com menos capacidade de acção do que este Governo de Sócrates.
Ninguém tenha dúvidas: a presença simultânea do PS e do PSD no próximo Governo conduziria a uma situação de bloqueio, que seria péssima para o país.
Os defensores desta solução fazem um raciocínio aritmético: é preferível um Governo com o apoio de 70% do eleitorado do que um Governo com apenas 45%.

Ora as coisas não podem ser vistas assim.
O próximo Governo tem sobretudo de ser corajoso, coerente e competente.
E para isso deve ser pequeno e ágil.
Tem de estar virado para o país e não para dentro de si próprio - e uma coligação PSD-PS levaria o pior da política para o interior do Governo.

A principal característica do próximo Executivo não deve ser a quantidade mas a qualidade.
E, se for sério e justo, não precisará de ser muito abrangente.
Se falar verdade ao país e começar por dar o exemplo, os portugueses compreendê-lo-ão

Um Governo pequeno, que corte nas suas próprias mordomias, que reduza os assessores nos gabinetes ministeriais, diminua drasticamente o uso de carros oficiais e acabe com o fausto, que imponha limites às empresas sob a sua tutela, terá espaço para pedir sacrifícios às pessoas.
Há muitos anos, na fábrica da Toyota, no Japão, foi necessário despedir umas centenas de trabalhadores.
O patrão da empresa - o senhor Toyota - juntou todos os empregados nas instalações da fábrica, descreveu cruamente a situação e acabou por pedir a quem se dispusesse a ser despedido para dar um passo em frente.
Todos deram um passo enfrente.

Depois ele acrescentou: «Fui eu quem conduziu a empresa a esta situação». E, dito isto, deu também um passo em frente - renunciando logo ali à presidência.

O país precisa de um Governo assim.
Imagem do Sol

2 comentários:

a.leitão disse...

Eu Apoio

Mentiroso disse...

Caro A.J.S.,

Com as ideias do autor que aqui transcreve, certamente haveria uma melhoria em relação ao presente, mas ele tem um pensamento muito curto, mostrando-se incapaz de se distanciar o suficiente para fazer uma análise não só imparcial e – mas ainda mais necessária – objectiva, confrontando a realidade nacional à pedra angular das bases da democracia. Entre estas, de certo ele chamaria de ditadura o sistema venezuelano, passando em branco o simples facto de que foi votado em plebiscito. O que lhe dá toda a legitimidade da embora coxa democracia representativa. Como pode ele querer formar um governo em exclua qualquer partido sem consideração dos votos? Que representaria tal governo? Os eleitores, de certo que não.

Na noite passada, a RTP transmitiu um programa em directo da Universidade de Lisboa. Aí pudemos ouvir alguns indivíduos inteligentes enunciarem o problema nacional, coisa raríssima neste país, São mal escutados porque não fazem parte dos partidos e lhes são assim inconvenientes. Enunciaram os problemas que bem conhecem e mencionaram algumas medidas, tudo aquilo de que há tantos anos venho falando e que todos os que pretende manter o estado actual criticam. O grande problema até nem está nos políticos, mas nas gerações rascas que se formaram, nos ditos «fazedores de opiniões» que inculcam ideias erradas como a auto-estima = auto desculpa., que afasta o desejo de melhorar, reconhecendo os erros.

Enfim, uma mentalidade retrógrada que atrasa. Falta de coesão na estrutura social. Falta de comunicação entre indivíduos; entre indivíduos e grupos; entre grupos; entre todos estes e as instituições. A sociedade não tem predominância face ao sistema partidário e não o controla. Os partidos formam grupos à parte da sociedade, desresponsabilizados perante o povo eleitor. As pessoas têm que ser ensinadas a viver em sociedade e a ocuparem os lugares que lhes foram usurpados pelos políticos; têm que compreender que são eles o povo soberano.

Toda e qualquer «solução» que não tenha em atenção estes factos reais apenas serve para mascarar a realidade e mantê-la assim para satisfação dos nos roubam e dela se aproveitam. explorando-a ao máximo. Outro elemento do problema é não poder haver democracia quando o próprio povo não sabe lidar com ela nem nela viver e comportar-se.

Há muito mais, mas seria demasiado longo.