Depois de seis anos, Portugal inicia uma nova etapa de estilo de Governo. As condições sócio-económicas em que a mudança tem lugar são uma fonte rica em ensinamentos e reflexões ao dispor dos novos escolhidos pelo povo para conduzirem a vida nacional.
Convém não se ufanarem demasiado com a vitória eleitoral e não se tornarem arrogantes e abusadores do Poder a que têm acesso, devendo pensar que muitos votos não foram de apoio a um projecto, a uma estratégia, mas de punição ao governo cessante. Esta punição mostra uma realidade muitas vezes despercebida de que os «donos de Portugal» são os portugueses e não os governantes, e estes apenas se limitam a ser intérpretes (por vezes pouco atentos) dos legítimos desejos dos cidadãos que devem procurar satisfazer da forma mais eficaz, em justiça social e em desenvolvimento e felicidade geral.
É indispensável inspirar confiança para aumentar a esperança numa rápida e sólida recuperação da actual crise e congregar todas as vontades para a reconstrução de Portugal. O povo é soberano e, agora, decidiu mudar de mandatários e, se as coisas não correrem a seu gosto, poderá haver mudanças por métodos menos ortodoxos, como temos visto recentemente em países geograficamente próximos.
A preocupação de agir com o mais rigoroso sentido de Estado e sentido de responsabilidade deve ser constante, mas a vontade de decidir correctamente, não deve ser travada pelo receio de errar, como por vezes se nota em altos responsáveis, pelo que é indispensável Pensar antes de decidir. Para bem decidir, um governante não deve isolar-se, mas conhecer a realidade de forma completa e imparcial. No entanto, é preciso não se submeter a pressões vindas de pessoas do género das que votaram sonolentamente, por unanimidad,e a «Lei da rolha» e que, logo a seguir, se arrependeram também por unanimidade.
Convém não colonizar a máquina do Estado em benefício de «boys» mas, sim, eliminar os tachos referidos por Marques Mendes , que foram fruto de acções de alquimia que transformaram o dinheiro dos impostos em riqueza para os amigalhaços do anterior governo. Mas à eliminação destes sumidouros de dinheiro público deve seguir-se um activo repúdio à repetição de tais sacrilégios.
E se ao nível político interessa dinamizar a coesão, o diálogo e o espírito de compromisso, para criar mais convergência de esforços e ultrapassar a crise, a nível geral, é preciso que a economia produza mais e melhor, que aumente as exportações e crie mais emprego. É urgente que a Justiça corresponda, em isenção e rapidez, às legítimas esperanças do povo, que a Educação prepare devidamente a juventude para os diversos sectores da vida profissional, cultural e científica e que seja organizado e posto em acção um eficaz combate à corrupção e aos crimes financeiros e fiscais.
O importante não é prometer, mas cumprir o prometido, governar sem despesas evitáveis e excessivas.
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