segunda-feira, 18 de junho de 2012

Porém, ela resulta...

Transcrição de artigo seguida de NOTA:

Não sei se repararam, mas a austeridade está a funcionar
Expresso. 14 de junho de 201. 28:00 Quinta feira, Henrique Raposo (www.expresso.pt)

A seleção de notícias continua na sua deriva masoquista. A malta quer mesmo ver Atenas em Lisboa. Não sei se isto resulta da doença esquerdista (o governo é de direita, logo, não podemos dizer nada de positivo sobre o país) ou da doença queirosiana (isto é uma choldra), mas o certo é que começa a ser aflitiva a forma como as narrativas dos media não enquadram os factos positivos que estão a ocorrer em Portugal. Sim, factos e não meras opiniões.

E, por falar em factos, o último relatório do INE sobre o comércio internacional de Portugal devia ser música para os nossos ouvidos. Nos primeiros quatro meses do ano, a taxa de cobertura das importações pelas exportações ultrapassou os 80%. Os mais velhos dizem-me que não se lembram de uma coisa assim. O José Gomes Ferreira até fez uma pergunta retórica elucidativa: "há quantas décadas não acontecia isto?". E sabem o que é ainda mais engraçado? Se retirarmos destas contas os combustíveis e demais derivados do petróleo, o saldo da nossa balança comercial já é positivo em 150 milhões de euros. Nem o mais optimista dos optimistas poderia conceber um ajuste tão rápido da sociedade portuguesa, que começou a poupar a sério, que aumentou exportações enquanto diminuiu importações. Estas eram as três coisas que tínhamos de fazer. O resto é fumaça.

Este caminho é duro, mas é o caminho certo. Queriam o quê? Que o Estado continuasse a gastar receita fiscal e dívida no "crescimento" das PPP? Queriam que as famílias continuassem a consumir como se não existisse amanhã? Ao não consumirem, as famílias criam problemas em alguns sectores, mas geram a poupança que será fundamental a médio-prazo. Lembrem-se que a troika está estacionada no Terreiro do Paço, porque o país inteiro dependia (e ainda depende) de dinheiro do exterior. Nós tínhamos de retirar o Estado e as famílias desta toxicodependência do crédito, suportando a ressaca inerente ao fim desse vício. E quem defender o contrário é que é "neoliberal". Sim, os críticos da austeridade são os verdadeiros fantoches dos tais "mercados financeiros".

NOTA: Esta é mais uma peça do puzzle da opinião ou da visão do problema. Nem tudo vai mal. Porém, o Rock-in-rio em que cada cliente pagou um balúrdio que foi quase todo para o estrangeiro foi uma importação que podia ter sido evitada. O preço do hotel da selecção de futebol (superior ao de todas as selecções) foi outra importação que poderia ter sido reduzida a valores mais baixos. Isto partindo do conceito de que importação não é apenas compra de produtos de consumo mas também pagamento de serviços ao estrangeiro.
Porém, se a austeridade resulta para equilibrar a balança comercial, ela faz estiolar importantes sectores da vida nacional, cria desemprego, aumenta a emigração das pessoas mais válidas e impede o crescimento do nível de vida dos portugueses. Deve, por isso, ser considerada apenas um factor para resolver a crise e não podem ser ignorados os factores de inovação produtividade, competitividade da economia nacional, saúde,justiça, segurança e ensino adequado às necessidades da estratégia de crescimento.


Imagem do Expresso

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Talvez estejamos no bom caminho, embora cause a desgraça dos mais pobres.
Mas, para esmorecer o optimismo, não podemos perder de vista a fuga de capitais. Quem pode está a pôr o dinheiro a salvo fora do país. Que o diga o próprio salvador de mundos, Medina Carreira, que o depositou em dólares no Deutshe Bank.

A. João Soares disse...

Amigo Fernando Vouga,

Os pequenos são sempre explorados, ou melhor esmagados e sugados até à medula, porque nem têm potencialidades para serem explorados.
Vale a pena rever a história do feudalismo, pois hoje vivemos num esquema semelhante, com a diferença de a exploração não ser feita pelos senhores da terra mas, sim, pelos senhores do dinheiro. E em vez de servos da gleba há os proletários, os sem-abrigo, os miseráveis que se encostam todos os dias à porta da sopa da misericórdia, para irem sobrevivendo.

Esta degradação progressiva não poderá durar muito mais tempo e acabará por explodir como um saco de plástico super-cheio. Depois será iniciada uma nova era, como aconteceu durante a História. A revolução francesa fez trabalhar a guilhotina para que os culpados da crise anterior não se arrojassem a construir, a seu gosto, com os mesmos vícios e manhas, a solução, a alternativa, a nova civilização.

De tais convulsões nem tudo resultará para melhor, mas isso também é culpa de má preparação anterior das pessoas nos aspectos cívico, moral, profissional,

E... quanto mais tarde se fizer a recuperação, maior será a degradação até lá. É urgente que se façam as prometidas reformas estruturais, se definam objectivos e se escolham as melhores «modalidades de acção». Haja pessoas com coragem para por em acção a estratégia do crescimento anunciado, até agora, apenas por palavras bonitas.

Abraço
João