Transcrição de post de blogue que constitui um retrato que ajuda a compreender melhor a actual situação:
O I GOVERNO ANTICONSTITUCIONAL
Publicado no Blogue PonteEuropa em 01-01-2013, Domingo, por António Horta Pinto
Digamo-lo pesando bem as palavras: o País está a ser “governado” por um bando de marginais.
Os “governantes” agem à margem da lei. Contra a lei. E desde logo contra a Lei Fundamental: a Constituição da República, matriz de todas as outras leis.
Quando a Constituição diz, logo no seu 1.º artigo, que Portugal é uma República “empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”, querem instaurar um regime de senhores e escravos, injusto e individualista, de “cada um por si”.
Quando a Constituição preceitua que “incumbe ao Estado promover a execução de políticas de pleno emprego”, promovem políticas que deliberadamente conduzem a que haja cada vez mais desemprego.
Quando a Constituição prescreve que incumbe ao Estado organizar um sistema de segurança social que proteja os cidadãos na velhice, desvalorizam a segurança social e vão ao ponto de, pela boca do próprio primeiro-ministro, insultar os velhos reformados quase apodando-os de parasitas.
Quando a Constituição impõe que haja um serviço nacional de saúde universal, geral e tendencialmente gratuito, desinvestem nesse serviço e tornam-no cada vez mais caro, inacessível e ineficaz, em benefício da medicina privada.
Quando a Constituição dispõe que incumbe ao Estado assegurar o ensino básico gratuito e “estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino”, tendem a tornar o ensino cada vez mais caro, pretendendo mesmo que o próprio ensino básico seja pago.
Como se tudo isto não bastasse, aprovaram para 2013 um Orçamento recheado de normas manifestamente inconstitucionais. Mas o mais grave é que o aprovaram plenamente conscientes de que essas normas são inconstitucionais. Violaram assim a Constituição deliberada e premeditadamente.
Agora, obtida a conivente promulgação do PR – que mesmo assim manifestou “dúvidas” – dirigem os seus ataques contra a última barreira que lhes falta vencer para consumarem o crime: ameaçam e chantageiam o Tribunal Constitucional.
Esses ataques têm-se multiplicado. O último e mais descarado veio há pouco do próprio Secretário de Estado do Orçamento. Numa entrevista à Rádio Renascença perpetrou esta afirmação: “A declaração de inconstitucionalidade tem consequências para o País: pode ser o incumprimento do programa a que estamos obrigados e cujo cumprimento tem garantido o nosso financiamento.”
Esta parvoíce peca desde logo por grosseira falsidade: nenhum “programa” – designadamente o memorando da Troika – obriga a que se tomem medidas inconstitucionais. O governo, para cumprir o memorando, podia ter optado por outras medidas que não ofendessem a Constituição.
Mas o mais grave é que estas desbragadas deturpações da verdade constituem uma intolerável e inadmissível pressão do poder executivo sobre o poder judicial, violando grosseiramente o basilar princípio democrático da separação de poderes.
Qualquer governo decente demitiria imediatamente a criatura por indecente e má figura. Mas já se viu sobejamente que a decência não é apanágio deste governo, que se calhar até lhe “encomendou o sermão”.
Assim sendo, competiria ao Presidente da República pôr cobro a estes desmandos. Mas também já se viu que, desgraçadamente, chegámos a um ponto em que a República não pode contar com o seu Presidente!
Imagem de arquivo
domingo, 6 de janeiro de 2013
Constituição desrespeitada
Posted by A. João Soares at 17:01
Labels: civismo, Constituição, ética, Legalidade, sentido de Estado
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5 comentários:
Caro João Soares
Pois é. Tudo isso é muito bonito. Mas onde é que está o dinheiro para isso tudo?
Caro Fernando Vouga,
O problema não é do dinheiro, pois se o não há, temos que prescindir dois benefícios que ele poderia trazer. O problema grave é que existe uma LEI FUNDAMENTAL que não é cumprida, o que significa estarmos numa desorganização em que não sabemos se devemos cumprir as outras leis, quando a fundamnental é desobedecida.
E isso remedeia-se alterando a Constituição por forma a ser obrigatório o seu cumprimento. Uma lei ou é obedecida ou deve ser retirada. Devemos saber as linhas com se cose.
Abraço
João
Caro João Soares
Então, haja a coragem de suspender a Constituição.
Caro Fernando Vouga,
É esse o pior mal da nossa sociedade: falta de coragem para decidir aquilo que é correcto e desejável.
Uma lei que não é exequível deve ser revogada sem demora, porque só serve para confusão e para dar oportunidades aos que ganham a vida com as palavras, por vezes fantasiosas e falaciosas.
O cristianismo rege-se por 10 mandamentos. A Grã-Bretanha não tem Constituição e a maior parte dos países civilizados têm Constituições orientadoras mas não condicionadoras ao pormenor. Para os pormenores há depois a legislação adequada. Pelo contrário, a nossa, devido às condições em que foi elaborada, desceu a minuciosidades que servem para tudo, até para serem ignoradas e desobedecidas impunemente.
Abraço
João
Caro João Soares
Concordo inteiramente. Nem sequer fiquei com espaço para acrescentar seja o que for.
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