Transcrição de post publicado por António Horta Pinto em Ponte Europa seguido de NOTA:
Portugal “regressou aos mercados”. Ou “os mercados” regressaram a Portugal.
Não sei ainda se será boa ou má notícia.
O governo e a coligação que o suporta embandeiraram em arco, embora não lhes caiba minimamente o mérito da “proeza”. Como se sabe, tal regresso deve-se sobretudo a uma mudança de política do Banco Central Europeu, que também se refletiu noutros países, e à decisão do Eurogrupo de nos conceder mais tempo para pagar a dívida, coisa que o governo português sempre disse que não queria.
Os banqueiros rejubilaram, o que não é propriamente um bom augúrio. Para eles deve ser bom. Mas será bom também para a generalidade dos portugueses?
Não sou perito em economia, mas não me sinto diminuído por isso. Os economistas também não são. É notório que são incapazes de fazer previsões. O próprio Miguel Beleza disse um dia que um dos seus melhores professores americanos dizia aos alunos: “nunca façam previsões! Mas se alguma vez tiverem de as fazer, então procurem fazer duas ou três, que assim pode ser que acertem nalguma delas!” Contundente, disse M. Sousa Tavares que eles eram peritos em autópsias: só depois de morto o doente é que eram capazes de explicar “cientificamente” porque tinha ele morrido. Enfim, para usar linguagem desportiva, só são capazes de fazer “prognósticos” depois do jogo.
Para já, o regozijo dos banqueiros e da comissão liquidatária que faz as vezes de governo só me leva a desconfiar.
Se com este “regresso aos mercados” o desemprego diminuir, a miséria desaparecer, a pobreza se reduzir, o salário mínimo aumentar, as pensões mais baixas deixarem de chegar só para a farmácia; se desistirem de destruir o serviço nacional de saúde e a escola pública, se deixarem de espoliar os trabalhadores e os reformados, se as pequenas e médias empresas que ainda sobrevivem escaparem à eminente falência; se os jovens deixarem de ter de procurar sustento no estrangeiro; se deixarem de atentar contra a Constituição; então também aplaudirei.
Entretanto, acho mais prudente não deitar foguetes e manter o “malefício” da dúvida!
NOTA: É oportuna a referência preocupada ao feudalismo dos grandes grupos económicos e à troika num curto mas destacado parágrafo. Faço um pequeno reparo a dizer que as pequenas pensões já não chegam para as farmácias, onde os doentes aviam apenas uma pequena parte da medicação por falta de dinheiro e escolhem os «genéricos» mais baratos. As condições em que o autor dará o seu aplauso, correspondem aos interesses da quase totalidade dos portugueses, só não interessando aos «senhores» do tal feudalismo.
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Há 2 horas
2 comentários:
Caro A. João Soares
Obrigado pelo seu comentário, e por ter transcrito o meu texto no "Do Mirante".
Escusado será dizer que concordo inteiramente com a sua nota.
Um abraço
António
Caro amigo António Horta Pinto,
Agradeço a visita e as palavras de apoio.
Sobre este tema e a propósito das suas palavras o «regozijo dos banqueiros e da comissão liquidatária que faz as vezes de governo só me leva a desconfiar»., transcrevo as seguintes palavras de Freitas do Amaral:
“Eu acho que foi uma boa decisão aproveitar a oportunidade (do recurso ao mercado) mas isto não tem nada a ver com os méritos do Governo”, reforçou, frisando ainda que “é bom para a credibilidade da República portuguesa mas não se reflectirá em nenhuma melhoria da situação de vida dos portugueses”.
Segundo outra notícia, o mesmo senhor disse:
“Eu pergunto em quem é que este Governo pretende apoiar-se, qual é a base social de apoio? Não tem, não tem. Este Governo é constituído por uns iluminados, que estão numa torre de marfim e que desprezam em absoluto tudo o que está à volta deles. Ora, em democracia isso normalmente acaba mal, é tudo o que eu posso prever”.
Abraço
João
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