terça-feira, 2 de abril de 2013

MOEDAS, ECONOMISTAS E ESTADO SOCIAL


Notícia diz que o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, se reúne com o economista chefe Pier Carlo Padoan e outros altos responsáveis da OCDE para discutir as reformas sobre as funções sociais do Estado.

Esta notícia conduz a dúvidas e incertezas preocupantes. A economia foi criada para benefício das pessoas, para facilitar a gestão dos seus interesses, como seres vivos, em sociedade. Constitui, por isso, uma actividade que ultrapassa as capacidades dos economistas tradicionais que não resistem à tentação de se escravizarem ao jogo dos números, de modelos matemáticos, sem sensibilidade nem propensão para descer ao campo das realidades onde, por vezes, a aplicação dos cálculos matemáticos, dos modelos sofisticados, produz efeitos dramáticos. A economia é uma ciência demasiado complexa para ser deixada exclusivamente aos economistas.

A austeridade que tem estado a destruir a actividade económica, depois de retirar quanto pôde às famílias, constitui um exemplo muito claro do fracasso dos economistas, que lesaram a economia em benefício de interesses da alta finança.

Se o interesse de Carlos Moedas é realmente obter opiniões, conselhos, e sugestões para a Reforma do Estado Social, não deve deixar de ouvir sociólogos, psicólogos e pessoas generosas com experiência de contactos com cidadãos mais carenciados que procuraram apoiar como, por exemplo, da direcção da Cáritas e os altos elementos da Igreja.

Se olhar apenas para os números e os utilizar nas gélidas calculadoras, corre o risco de aplicar a eutanásia a todos os cidadãos que não trabalham e aí correria o risco de não deixar de olhar para os seus ascendentes, familiares e amigos e pensar na sua própria vida dentro de poucos anos. A dignidade humana deve ser respeitada e, por outro lado, como político que é, não esqueça que a maioria dos votos é proveniente dos não activos, daqueles a quem um seu «brilhante» camarada de partido chamou «peste grisalha». Procure temperar o seu entusiasmo jovem com a maturidade e a experiência amontoada durante muitos anos pelos mais «grisalhos».

Imagem de arquivo

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

"Discutir as reformas sobre as funções sociais do Estado" não passa de um eufemismo para dizer "receber instruções para acabar com as funções sociais do Estado".
É bom não esquecer que Portugal há mais de um ano que deixou de ser um estado soberano.



A. João Soares disse...

Caro Fernando Vouga,

Há verdades que custam a aceitar e estas suas são mesmo muito dolorosas. Os políticos não mostram o menor sentido de responsabilidade perante os cidadãos que era suposto serem tidos como detentores da soberania, a qual seria garantida pelos eleitos para tal. Mas estes, submissos a estrangeiros e aos poderes financeiros, acabam por se ufanar de que oprimem os cidadãos mais do que o exigido pelos poderes a que obedecem, «custe o que custar».
Procuram sacar o máximo aos menos ricos, acabando com a classe média, mas sem darem oportunidade que as pessoas produzam riqueza e possam ficar com um mínimo para poderem viver com dignidade. Os apoios sociais deviam servir para essa vida com um grau de dignidade e comodidade que justifique o sacrifício de viver. Mas há muitos que vão deixando de suportar tal sacrifício e optem pelo suicídio como disse Paulo Morais no seu artigo de ontem.

Muito gostava de recuperar a esperança em dias melhores, mas cada vez são maiores as preocupações.

Abraço
João