Um compromisso pode ser assumido entre duas ou mais partes e coloca em jogo benefícios e sacrifícios face a um objectivo previamente definido. Quando se negoceia entre duas partes, a mais forte sai beneficiada. Quando se trata entre várias partes, o objectivo é de interesse comum e, em relação a ele, cada parte está predisposta a fazer sacrifícios e concessões, a fim de se chegar a um consenso que seja traduzido por um esforço comum e convergente,, o que poderia significar que os sacrifícios serão distribuídos equitativamente por todos, nenhum ficando em inferioridade perante os parceiros.
No caso das negociações do Compromisso para a Salvação Nacional, englobando os três maiores partidos políticos, a jornalista Constança Cunha e Sá antevê que entre Passos ou Seguro, "um deles sai decapitado". Realmente, dos dois, o que já está gravemente lesado é Passos, cuja incapacidade para evitar as falhas que lhe têm sido apontadas pelos analistas, Gaspar, Portas e muitos notáveis do seu partido, todos apoiados em números oficiais que evidenciam a espiral recessiva iniciada nestes últimos dois anos e que não foi ainda travada, ficou bem em cheque com a comunicação de Cavaco. Também a comunicação em que o PR anuncia o Compromisso e se refere à hipóteses de eleições antecipadas, constitui uma trama de que Passos dificilmente se evade.
Quanto a Seguro, já está beneficiado por ser chamado a tomar parte activa nas medidas a decidir pelo Governo do País nos próximos meses e a sua valorização pode resultar muito positiva por pequenos retoques que introduza nas disposições que vierem a ser aprovadas, sem necessitar de trair o que disse quando prometeu não ceder à maioria. Do que se trata é de colaborar para que as decisões a tomar sejam as melhores para os interesses nacionais, dos portugueses.
Quem tem muito a ceder é Passos, porque tem de deixar a sua teimosia obsessiva do «custe o que custar», a sua fixação na solução de sucessivos agravamentos da austeridade, a que se referiu Gaspar na sua carta de demissão. Para haver salvação nacional não pode haver insistência nos erros dos passados dois anos e é imperioso fazer alteração do rumo para soluções construtivas que tragam emprego, justiça social, corte na obesidade do Estado, redução da burocracia, condenação da corrupção, do tráfico de influências, do enriquecimento ilícito, etc. Isto significa que das partes empenhadas no Compromisso a que tem que fazer mais cedências é a que constitui a coligação.
Nesta ordem de ideias, tem plena justificação Eanes quando considera iniciativa de Cavaco "ousada e correta". É correcta quanto ao objectivo que propõe ao sugerir a convergência de esforços para um mesmo objectivo de alto interesse nacional. Mas é ousada, isto é, arriscada, por contar com boas vontades onde sempre existiu conflito interpartidário de luta pelo poder pelas benesses dos ocupantes dos gabinetes, seus familiares e amigos, cúmplices e coniventes. Oxalá este aspecto menos positivo seja atenuado e não prejudique a obtenção do objectivo nacional pretendido por Cavaco Silva e por todos os portugueses de boa vontade.
E, quando se trata de interesses nacionais, é racional, lógico, pensar-se na presença, pelo menos em espírito, de todos os cidadãos e, por isso, não se estranha que Parceiros sociais querem ter voz na salvação nacional. É indispensável, no entanto que os três grandes criem método de funcionamento para evitar a indecisão e confusão quando há muitas vozes mal sintonizadas a lançar poeira. Mas não lhes faltará forma de dar oportunidade de voz aos parceiros para apresentar reparos e sugestões, de maneira a serem tomados em consideração sem perdas do andamento dos estudos. É preciso eliminar atritos por nem todas opiniões serem adoptadas na decisão final, pois esta consiste na escolha da melhor hipóteses de solução, excluindo as restantes como foi referido em pensar antes de decidir.
Imagem de arquivo
A Decisão do TEDH (394)
Há 3 horas
2 comentários:
Caro João Soares
Em primeiro lugar, a pergunta: negociar concretamente o quê? Ou será que a Nação é negociável?
É possível que, nessas "negociações", alguém saia decapitado. Mas o mais provável é que saiam todos.
De qualquer forma, mesmo que Seguro imponha a sua vontade (será que tem alguma para lá de querer à viva força ser PM?), ficaremos de tanga porque a criatura não vale nada (isto para não lhe chamar palhaço).
Quanto a Eanes, não esteve mal na entrevista, embora tivesse sempre a jogar à defesa, como é seu timbre. Pareceu-me um tanto sonhador, patenteando um optimismo que soava um tanto a falso.
No tocante a sonhos, não concordo com Gedeão quando diz que "quando um homem sonha o mundo pula e avança". Quanto a mim, inspirado em Shakespeare, o sonho é a antecâmara do fracasso.
Caro Fernando Vouga,
Tenho pena de não ter visto a entrevista de Eanes, mas isso resulta de passar pouco tempo a ver televisão. Apenas li um pouco daquilo que foi publicado.
Quanto a sonhos, concordo em parte consigo, pois o mundo não avançaria se não quiséssemos algo que está para lá do horizonte. A ciência e a tecnologia tem sido desenvolvida em resultado de curiosidade e desejos um pouco utópicos. Porém a vida actual, prática, só se gere com os pés bem assentes no chão, o salto começa no ponto da chamada, na partida. O sonho é útil para um futuro distante e não lhe devemos dedicar mais energia do que a conveniente, pois de contrário não aproveitamos o bem que hoje podemos usufruir. Não podemos viver de ilusões e de falácias.
A palavra negócio, como muitas palavras, está a ser utilizada abusivamente. Com a falta de rigor das palavras gera-se a dificuldade na interpretação. Cada um interpreta à sua maneira e depois ninguém entende ninguém, como acontece com a lei que limita os mandatos dos autarcas. No caso do Compromisso, em vez de negócio seria preferível referir a elaboração das medidas a tomar, das tarefas a realizar, das soluções para os diversos problemas, da listagem por prioridades, etc. Tal trabalho daria discussão, por cada um ter a sua opinião e, nisso, haveria cedências num ou outro ponto. Parece ser a essas cedências que chamam negócio, mas isso é dar mais importância a um pormenor marginal do que à essência da missão de GOVERNAR a vida colectiva dos portugueses.
A distorção habitual de dar publicidade a um aspecto marginal que gera polémica na Comunicação Social faz esquecer a real essência dos problemas, dá péssima imagem das competências e capacidades dos políticos e faz perder a confiança em quem se apresenta candidato em eleições. E já ninguém se safa da má reputação, nem o «magnífico» Maduro que está deteriorar-se prematuramente!!!
Abraço
João
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