Transcrição de artigo que, apesar da sua extensão, deve ser lido até ao fim:
Fixem esta mulher
SOL. 12 de Agosto, 2013 por José António Saraiva
Quando Passos Coelho anunciou a substituição de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque, muita gente torceu o nariz.
Os media apostavam em Paulo Macedo – e a escolha de Maria Luís foi uma completa surpresa.
Mas ninguém podia imaginar o filme que iria seguir-se.
Ainda Maria Luís Albuquerque não tinha assinado o compromisso de honra como nova responsável das Finanças e já estava metida no centro de um vulcão.
A minutos da cerimónia de posse em Belém, o país era surpreendido com uma insólita carta de demissão de Paulo Portas, que podia significar a queda do Governo.
E o motivo da renúncia era, imagine-se, a escolha de Albuquerque para substituir Vítor Gaspar!
Foi, assim, em ambiente de absoluta incerteza que a nova ministra das Finanças tomou posse.
Maria Luís Albuquerque poderia estar a assumir uma pasta ministerial de um Governo já virtualmente morto.
A esquerda fez chicana pública com este facto, ridicularizando todos os seus protagonistas: o Presidente da República, o primeiro-ministro e, claro, a nova ministra das Finanças.
Uma coisa era certa: Maria Luís Albuquerque entrava com o pé esquerdo – sem o apoio dos media, com a oposição de Paulo Portas e empossada no cargo numa cerimónia que se assemelhava mais a um funeral do que a uma investidura.
Para agravar as coisas, a oposição não se cansava de referir o envolvimento de Albuquerque no famigerado caso dos swaps.
Por que razão o primeiro-ministro escolhera para um posto-chave do Governo uma pessoa à volta da qual existiam tantas dúvidas e ainda por cima com telhados de vidro, era uma coisa que ninguém percebia.
Dias depois, porém, começaria a entender-se.
O presidente do BCE, Mário Draghi, e o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, elogiaram a nova governante, mostrando três coisas: que a conheciam, que acreditavam nela, e que a previsível quebra de confiança internacional por causa da saída de Vítor Gaspar não seria, afinal, tão grave como se temia.
Veio, entretanto, o debate sobre o ‘compromisso de salvação nacional’ pedido pelo PR, e o tema saiu da agenda.
Mas, passado esse interregno, o PS voltaria à carga com os swaps e os ataques a Maria Luís Albuquerque.
Confesso que ainda não percebi porquê.
Em primeiro lugar, fragilizar neste momento o ministro das Finanças, qualquer que ele seja, é fragilizar o regime e fragilizar o país.
Ora, se se percebe que o PCP e o BE o façam, não me parece que o PS tenha algum interesse nisso.
Por outro lado, foi o Governo do PS quem criou o problema.
Mas há mais.
Os socialistas acusaram a ministra de ter «mentido» (acusação grave e que ultimamente se tem feito com inadmissível ligeireza), dizendo que a documentação sobre os swaps tinha sido passada a este Governo – e que Albuquerque é que se tinha atrasado a agir.
Ora, existe aqui uma contradição: se o Governo anterior já dispunha na altura de documentação relevante sobre o problema dos swaps e os perigos envolvidos, por que não actuou, deixando esse encargo para os sucessores?
Como disse o ministro Poiares Maduro, o Partido Socialista fez, neste caso, a figura do incendiário que ateia o fogo e depois acusa os bombeiros de se terem atrasado.
Mas há males que vêm por bem: chamada à comissão de inquérito no Parlamento, Maria Luís Albuquerque falou durante quatro horas e meia, mostrou capacidade combativa e convenceu os que estavam de boa-fé.
O PSD ficou orgulhoso da ministra, o PS entupiu, e até o CDS a elogiou, esquecendo as reservas anteriores.
O porta-voz do CDS, João Almeida, disse textualmente: «As intervenções públicas da ministra das Finanças têm convencido o país da sua competência e seriedade».
Maria Luís Albuquerque tem algumas parecenças fisionómicas com Angela Merkel – para melhor, acrescente-se – mas não só: também a faz lembrar pela energia e determinação que coloca no exercício do cargo e no combate político.
Desde os tempos de Leonor Beleza (e deixando de lado Manuela Ferreira Leite, que mostrava autoridade mas era por vezes demasiado amarga) que o PSD não tinha uma mulher tão afirmativa, tão segura e com uma presença tão forte.
Oxalá o país não a desperdice.
P.S. – Com uma polémica aparentemente alimentada por pessoas próximas de Sócrates, foi triturado mais um governante. Por sinal, da equipa de Maria Luís Albuquerque. O ex-primeiro-ministro é um homem vingativo e que não desiste. Preparem-se para ver quem será a próxima vítima.
Imagem de arquivo
Boas-Festas
Há 2 horas
2 comentários:
Passei, li o texto, mas como não entendo muito destes jogos políticos, não me prenuncio.
Um abraço e bom feriado.
Cara Elvira,
Realmente, há jogos muito estranhos e misteriosos. A generalidade dos políticos usam a política como meio de enriquecimento e não com vontade de se tornarem notados pelo bem que fazem ao País. Veja o que se está a passar com as interpretações forçadas do carreirismo dos autarcas que parecia ter sido moralizado pela lei de limitação do número de mandatos. Eles não estão a procurar contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, mas para o seu próprio interesse e dos seus companheiros de bando.
Por isso, esperemos dos mais capazes os maiores êxitos a favor dos portugueses menos favorecidos. Não há interesse em que os governantes estejam a mudar com frequência e por isso há todo o interesse em que façam bom trabalho, sejam eficientes e dedicados aos interesse dos cidadãos.
Neste momento, é desejável que a governação saiba tomar decisões que potenciem os pequenos sinais positivos que são noticiados e que permita aos portugueses criar mais confiança e colaborar com mais eficácia porque o esforço tem que ser de todos, principalmente dos políticos.
Em vez de campanhas difamatórias e de críticas destrutivas, apresentem-se sugestões concretas, visíveis para tornar o Estado menos pesado aos contribuintes e mais ágil para os aspectos sociais. É imperioso reduzir a burocracia ao mínimo indispensável para agilizar a vida do País e cortar as raízes à corrupção que nasce da burocracia exagerada, tornar a Justiça mais rápida e credível, organizar a educação por forma a criar cidadãos mais conscientes, cívicos, activos e realistas, etc.
Abraço e bfds
João
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