Regime autoritário é propiciador de guerra
(Publicado no semanário O DIABO em 08-05-18)
O espaço aéreo israelita foi violado por um drone iraniano, o que provocou uma resposta contra alvos sírios e iranianos do outro lado da fronteira. No regresso, foi abatido um caça israelita e Israel alertou dizendo que «os sírios estão a brincar com o fogo quando permitem aos iranianos atacar Israel». A queda deste caça após a ofensiva, na Síria, contra alvos iranianos marca uma nova fase no envolvimento de Israel na guerra que, desde 2011, abalava o país vizinho.
Embora o Daesh que causou um número dramático de mortos e destruições, tenha sido vencido, a Síria continuou em guerra contra a oposição.
Na madrugada do dia 8 de Fevereiro forças norte-americanas na Síria atacaram uma grande formação de 500 homens ligados ao regime de Bashar al-Assad que, segundo Washington, atacava sem provocação, posições das milícias apoiadas pelos Estados Unidos, onde também se encontravam militares americanos. Depois houve o ataque com armas químicas a que se seguiu novo ataque por EUA, GB e França.
Porquê tanta violência neste país? A Síria é uma manta e retalhos com sete grupos étnicos e cinco religiões diferentes, sendo os árabes sunitas que constituem o maior grupo populacional do país. Tal situação exigia uma democracia dotada de capacidade diplomática adequada ao diálogo e à negociação, por forma a manter bom entendimento, harmonia e paz. Mas o actual presidente é mais orientado para o autoritarismo e a força.
Durante a actuação do Daesh houve o apoio da vizinha Turquia, do Irão e da Rússia para apoiar o seu aliado que lhe concede a passagem do gasoduto para a Europa, e a resistência dos Estados Unidos por não ter sido dada a passagem ao gasoduto de um seu aliado. Os interesses em jogo são complexos e pesados.
A Síria viveu sob uma lei de emergência entre 1963 e 2011, o que suspendeu a maioria das protecções constitucionais de seus cidadãos, sendo presidente Hafez al-Assad, que faleceu, em 10 de Julho de 2000, depois de ter governado a Síria desde 1970.
Bashar Al-Assad formou-se na Universidade de Damasco em 1988 e, quatro anos depois, iniciou estudos de pós-graduação do Hospital Ocidental Eye, em Londres, especializando-se em oftalmologia. Tinha poucas aspirações políticas porque seu pai educara seu irmão mais velho, Bassel al-Assad, para ser o futuro presidente. Mas, em 1994, este morreu num acidente de carro, pelo que Bashar foi chamado à Síria para assumir o papel de herdeiro. Sem vocação especial, entrou na academia militar e, em 1998, assumiu o comando da ocupação da Síria no Líbano.
Após a morte do pai, Bashar al-Assad tornou-se General e Chefe Supremo das Forças Armadas Sírias. Nomeado candidato pelo Partido Árabe Socialista Baath (único partido do regime) para a Presidência da República, foi eleito mediante referendo em 10 de julho de 2000, tomando posse em 17 de julho.
No começo de seu mandato, houve esperança de mudanças democráticas, a qual foi frustrada com a continuidade da política de seu antecessor. Ante a instabilidade do Líbano, e as constantes tensões com Israel, Bashar al-Assad procurou manter um discurso reformista que poderia satisfazer os anseios da União Europeia e dos EUA mas, na prática, não produziu nenhuma concessão aos movimentos da oposição.
Em Março de 2011, a forte repressão em massa e cercos militares contra manifestantes pró-rebeldes que se levantaram contra Assad e o governo baathista, originaram uma grave guerra civil, que tem criado grande perturbação. E, pelos vistos, ainda não há sinais credíveis de pacificação.
O autoritarismo provoca ou facilita a guerra.
António João Soares
1 de Maio de 2018
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