sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A EDUCAÇÃO E O FUTURO

(Public em O DIABO nº 2292 de 04-12-2020 pág 16. Por António João Soares

 A degradação e extinção de nações e sociedades tem-se devido a desleixos e erros na educação e no ensino, logo a partir da infância. A tolerância e aceitação de pequenas anomalias vai-se repetindo e tomando aspectos de graves consequências. Por exemplo, o “acordo ortográfico” foi uma tolerância e aceitação de erros que ocorriam impunemente e hoje não se diferencia fato de facto. O desmazelo está a chegar ao ponto de, em jornais e no ecrã da TV, se verem erros frequentes devidos a desleixo e a falta de respeito pelos clientes. Vêem-se frases em que se mistura o singular com o plural, o masculino com o feminino, letras trocadas ou em falta, etc., e tudo porque não há o cuidado de ler todo o texto antes de o dar como concluído. Tal desmazelo representa falta de brio, de sentido de responsabilidade e de respeito pelas pessoas que irão ler.

Pequenas falhas devem ser corrigidas logo que detectadas em indispensáveis actos de verificação do trabalho. Mas, infelizmente, está a criar-se uma tolerância exagerada e os mais altos responsáveis, ao delas terem conhecimento, sacodem as culpas, toleram e esperam que isso não afecte a vida que se segue. Mas qualquer erro deixa consequências permanentes. Um minuto de infelicidade são 60 segundos de infecção cerebral que contribuem para o Alzheimer ou outro mal-estar cerebral. Também, a consequente alteração de um texto legal ou a sua substituição provoca a generalização do desrespeito pelas leis e pelos governantes que as assinaram.

É certo que “errar é humano”, mas os humanos que erram deixam de merecer confiança e respeito. E a prevenção desta maleita começa na preparação das crianças para a vida desde os primeiros contactos com familiares e, depois, nos bancos da escola. E assim, quer os comportamentos quer a utilização do idioma nacional serão sempre de boa qualidade. Hoje, ao falar Português, já quase é necessário utilizar um dicionário de boa qualidade e actualizado. Já temos mil e uma maneiras de dizer a mesma coisa. E depois surgem dúvidas sobre se a ordem era xis ou ípsilon. E quando há dúvidas ou erros, devem ser esclarecidos sem demora e evitar a táctica do “depois se verá e pode ser que não haja problema”, porque isso pode acarretar situações desagradáveis ou mesmo muito graves.

 Nas escolas, os professores, além do ensino da matéria do programa, devem desempenhar o papel de mestres do comportamento dos alunos e não se colocar nas mãos destes, deixando-se enredar nas fantasias juvenis. Devem, sempre que vier a propósito, exigir aos jovens comportamentos que os ajudem a preparar-se para virem a ser cidadãos cumpridores, responsáveis, perante os professores, os familiares, o país, os cidadãos em geral, etc. Não devem, como tem acontecido ocasionalmente, alinhar em fantasias infantis aventureiras que destroem as boas tradições e a história nacional, pondo em risco a continuidade da nossa história e da nossa língua, conhecida em quase todo o planeta. É certo que a tradição e a Língua, como tudo o que é natural, evolui com o decurso do tempo, mas essa evolução não deve ser forçada por machado e picareta como quem constrói uma estrada. O tempo se encarregará disso. Os livros de há séculos usaram um Português diferente do actual, mas não consta que a evolução tenha sido forçada, como aconteceu recentemente no “acordo”. Mas o nosso ensino escolar não deve circunscrever-se ao uso do idioma e à divulgação de conhecimento científico. Deve dar noções de ética e de comportamentos sociais e de responsabilidade e respeito pelas pessoas.

Para encerrar, a educação, na sua complexidade, deve preparar os alunos para serem adultos, cidadãos perfeitos (quanto possível) na sua vida familiar, social e profissional. Evitar erros, porque um minuto de arrelia tira 60 segundos de vida feliz, e a felicidade é a nossa maior riqueza. ■


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