sábado, 9 de abril de 2022

A RELIGIÃO DEVE INCENTIVAR A MORAL E A ÉTICA SOCIAL

(Public em DIABO nº 2362 de 08-04-2022, pág 16, por António João Soares)

 No dia 25 de Março, em resposta a um apelo do Papa, os crentes mundiais colaboraram na «Consagração ao Imaculado Coração de Maria pela paz na Ucrânia», na esperança de que o Divino Mestre decidisse exercer os seus divinos poderes e conseguisse terminar com os actos de selvageria que estão a ser praticados naquele país.

Mas estas orações e devoções têm pouco efeito nos comportamentos cívicos de políticos e dos seus colaboradores imediatos por não serem explicadas aos crentes menos letrados e não os incentivarem no seu comportamento. Muitos destes recitam maquinalmente orações sem ter a completa percepção do que significam as palavras e as frases que disseram.  Por exemplo, raras são as pessoas que percebem as três lições constantes da segunda parte da oração “Pai Nosso”. E não compreendem a formalidade do pedido ao «Pai» que lhes dê o «pão nosso de cada dia». Pois não lhes é dado o pão e apenas lhes pode ser dada a vontade de trabalhar para ele ser obtido e sem ambição nem ganância de obter fortunas que deformam a moralidade da vida, a qual deve ser simples e honesta.

Devemos respeitar e compreender os outros e perdoar-lhes as ofensas que nos dirijam. As más palavras e acções ficam com quem as pratica e devemos evitar ódio, inveja e vontade de vingança. E devemos evitar praticar o mal seja contra os outros seja contra a nossa saúde. A droga e os excessos estragam a saúde. E devemos ter muito cuidado com a nossa pessoa. Devemos «livrar-nos do mal». Não devemos esperar que seja Deus a «livrar-nos do mal».

A formalidade de pedir a Deus tudo aquilo de que precisamos e os remédios para todos os males que resultam dos nossos maus comportamentos e dos outros, deve ser ponderada porque teremos o futuro que prepararmos com os nossos comportamentos de cada momento.

Mostraram-me, há mais de meia dúzia de anos, um livro, cuja tradução foi publicada pela editora Diário de Notícias que tratava de entrevista a Deus e, perante a pergunta do jornalista se faz milagres, a resposta foi negativa, com a justificação de que não deve desrespeitar as leis da natureza, rigorosamente feitas com sabedoria e consistência. O milagre deve ser praticado por cada um, orientando o seu comportamento da forma mais natural, moral e ética, a fim de não cometer erros que precisem de ajuda para serem remediados. A religião deve incentivar a luta pela dignidade humana, pela liberdade e pela paz.

Por tudo isto, melhor do que as consagrações do dia 25, realizadas por todo o mundo cristão, seria mais eficaz a difusão da vantagem da aplicação constante dos «mandamentos», bem explicados de maneira a serem praticados, por todos especialmente pelos políticos com possibilidade de ordenar actos ilegítimos que prejudicam seriamente povos pacíficos e inocentes, como é presentemente o caso da Ucrânia e de tantos outros actos de terrorismo que afectam gente honesta e trabalhadora.

O respeito pelos outros é basilar para vivermos em paz e, quando surgem dúvidas, quanto a limites dos interesses das partes, a melhor solução consiste no diálogo e, se necessário, o recurso a intermediários independentes e amantes da paz. Qualquer acto de violência, na sua contabilidade final, traz mais prejuízos do que ganhos para qualquer das partes.

A Igreja deve orientar o seu esforço para que os ensinamentos da fé sejam devidamente aplicados para a felicidade e a segurança dos povos, de todos os povos, e sejam evitados acontecimentos indesejados e desgastantes da boa qualidade de vida que os evangelhos apontam como ideal e desejada por Deus. Para isso, é esperada a colaboração de todos os sacerdotes e dos seus melhores praticantes.


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