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sexta-feira, 17 de julho de 2015

QUE FUTURO PARA PORTUGAL?


Recebido por e-mail em 16-07-2015

Uma pérola de texto! De autor não identificado, mas acho que qualquer de nós gostaria de o ter escrito. De vez em quando - e pena é que seja só de vez em quando - aparecem-nos textos que, depois de lidos, apetece relê-los.

PORTUGAL: QUE FUTURO ?...

Trinta e cinco anos de vida.
Filho de gente humilde. Filho da aldeia. Filho do trabalho. Desde criança fui pastor, matei cordeiros, porcos e vacas, montei móveis, entreguei roupas, fui vendedor ambulante, servi à mesa e ao balcão. Limpei chãos, comi com as mãos, bebi do chão e nunca tive vergonha.
Na aldeia é assim, somos o que somos porque somos assim. Cresci numa aldeia que pouco mais tinha que gente, trabalho e gente trabalhadora.
Cresci rodeado de aldeias sem saneamento básico, sem água, sem luz, sem estradas e com uma oferta de trabalho árduo e feroz.
Cresci numa aldeia com valores, com gente que se olha nos olhos, com gente solidária, com amigos de todos os níveis, com família ali ao lado.
Cresci com amigos que estudaram e com outros que trabalharam. Os que estudaram, muitos à custa de apoios do Governo, agora estão desempregados e a queixarem-se de tudo. Os que sempre trabalharam lá continuam a sua caminhada, a produzir para o País e a pouco se fazerem ouvir, apesar de terem contribuído para o apoio dos que estudaram e a nada receberem por produzir.
Cresci a ouvir dizer que éramos um País em Vias de Desenvolvimento e... de repente éramos já um País Desenvolvido, que depois de entrarmos para a União Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" e que passamos de pobretanas a ricos "fartazanas".
Cresci assim, sem nada e com tudo.

E agora, o que temos nós?

1. Um país com duas imagens.
A de Lisboa: cidade grandiosa, moderna, com tudo e mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro.
E a do interior do país, território desertificado, envelhecido,abandonado, improdutivo, esquecido, pisado.

2. Um país de vícios.
Esqueceram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores. Não interessa a tua história, interessa o lugar que ocupas.
Não interessa o que defendes, interessa o que prometes.
Não interessa como chegaste lá, mas sim o que representas lá.
Não interessa o quanto produziste, interessa o que conseguiste.
Não interessa o meio para atingir o fim, interessa o que me podes dar a mim.
Não interessa o meu empenho, interessa o que obtenho.
Não interessa que critiquem os políticos, interessa é estar lá.
Não interessa saber que as associações de estudantes das universidades são o primeiro passo para a corrupção activa e passiva que prolifera em todos os sectores políticos, interessa é que o meu filho esteja lá.
Não interessa saber que as autarquias tenham gente a mais, interessa é que eu pertença aos quadros.
Não interessa ter políticos que passem primeiro pelo mundo do trabalho, interessa é que o povo vá para o c...*

3. Um país sem justiça.
Pedófilos que são condenados e dão aulas passados uns dias.
Pedófilos que por serem políticos são pegados em ombros e juízes que são enviados para as catacumbas do inferno.
Assassinos que matam por trás e que são libertados passados sete anos por bom comportamento!
Criminosos financeiros que escapam por motivos que nem ao diabo lembram. Políticos que passam a vida a enriquecer e que jamais têm problemas ou alguém questiona tais fortunas.
Políticos que desgovernam um país e "emigram" para Paris.
Bancos que assaltam um país e que o povo ainda ajuda a salvar.
Um povo que vê tudo isto e entra no sistema, pedindo favores a toda a hora e alimentando a máquina que tanto critica e chora.

4. Um país sem educação.
Quem semeia ventos colhe tempestades.
Numa época em que a sociedade global apresenta níveis de exigência altamente sofisticados, em Portugal a educação passou a ser um circo.
Não se podem reprovar meninos mimados.
Não se pode chumbar os malcriados. Os alunos podem bater e os professores nem a voz podem levantar. Entrar na universidade passou a ser obrigatório por causa das estatísticas. Os professores saem com os alunos e alunas e os alunos mandam nos professores.
Ser doutor, afinal, é coisa banal.

5. Um país que abandonou a produção endógena.
Um país rico em solo, em clima e em tradições agrícolas que abandonou a sua história.
Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como se o afamado portátil fosse a salvação do país.
Um país que julga que uma mega fábrica de automóveis dura para sempre.
Um país que pensa que turismo no Algarve é que dá dinheiro para todos.
Um país que abandonou a pecuária, a pesca e a agricultura.
Que pisa quem ainda teima em produzir e destaca quem apenas usa gravata.
Um país que proibiu a produção de Queijo da Serra artesanal na década de 90 e que agora dá prémios ao melhor queijo regional.
Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que esquece que tem cabrito de excelência, carne mirandesa maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginginha deliciosa, Pastel de Tentugal tentador, Bolo Rei português, Vinho da Madeira, Vinho Verde, lacticínios dos Açores e Azeite de Portugal para vender.
E tanto, tanto mais... que sai da terra e da nossa história.

6. Um país sem gente e a perder a alma lusa.
Um país que investiu forte na formação de um povo, em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais, mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados, em médicos, em gestores, economistas e marketeers, em cursos profissionais, em novas tecnologias e em tudo o mais, e que agora fecha as portas e diz para os jovens emigrarem.
Um país que está desertificado e sem gente jovem, mas com tanta gente velha e sábia que não tem a quem passar tamanha sabedoria.
Um país com jovens empreendedores que desejam ficar mas são obrigados a partir.
Um país com tanto para dar, mas com o barco da partida a abarrotar.
Um país sem alma, sem motivação e sem alegria.
Um país gerido por porcaria.

E agora, vale a pena acreditar?
Vale. Se formos capazes de participar, congregar novos ideais sociais e de mudar.
Porquê acreditar?
Porque oitocentos anos de história, construída a pulso, não se destroem em tempo algum . Porque o solo continua fértil, o mar continua nosso, o sol continua a brilhar e a nossa alma, ai a nossa alma, essa continua pura e lusitana e cada vez mais fácil de amar.

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domingo, 23 de novembro de 2008

Reacção de um País

Fruto fatal dos anos que se vão acumulando, surgem-me, cada vez mais, de supetão, no ecrã da memória, frases vindas dos tempos da juventude, daqueles saudosos tempos em que éramos obrigados a saber de tudo um pouco, ao contrário dos dias de agora, em que a NET lá está para nos informar, se nos informar, e com a condição, apenas, de sabermos o que é que lhe queremos perguntar…

Foi assim que, por estes dias, me veio à superfície uma velha “lei”que dizia que causas idênticas, em condições idênticas, produziam, ou tendiam a produzir, idênticas consequências, só que sendo, realmente, uma mais que remota recordação, não terá sido sem um porquê que ela me surgiu do baú das recordações.

Trouxe-a à tona, na verdade, o “facto” do momento, a vitória de Obama nos “States”, e surgiu a ligar dois momentos e dois locais diferentes. Sendo um dos factos, necessariamente, essa vitória é o outro uma vitória muito semelhante em Portugal: a de Sócrates na sequência do desgoverno que o antecedera..

E não será uma possível semelhança de ideais políticos entre ambos que me leva a olhá-los em conjunto. O que me move nessa ligação é a circunstância de, numa como na outra, e sem querer retirar mérito a qualquer dos vencedores, o factor mais relevante dessas vitórias, que não podiam deixar de acontecer, ter sido a acção ou a inacção dos verdadeiros vencidos, e digo assim porque, nos Estados Unidos, quem realmente foi vencido foi todo um demasiado longo governo de Bush Jr., e não o candidato à eleição que soube perder com a maior dignidade.

Seja qual for a soma das virtudes dos vencedores, a verdade é que as suas vitórias nunca poderiam ter sido tão expressivas se os seus antecessores não tivessem sido quem foram, particularmente no caso de Obama que, há meio ano, ninguém ousaria antever Presidente….dos Estados Unidos.

Santana Lopes soube unir a vontade de um País no sentido de o mandar embora, tal como Bush conseguiu unir aos democratas a parcela dos americanos que tradicionalmente não acreditam que haja político que justifique a maçada de ir votar e que, desta vez, entenderam que se impunha fazê-lo, e até mesmo uma fatia dos tradicionais republicanos, já farta de um governo absolutamente autista e desejosa de algo de novo, virado para os interesses do povo, que não para meros mitos da economia.

Será que este gesto higiénico que põe fim a uma política desastrada para a América e para o Mundo virá transformar tudo num Éden? Obviamente que apagar quanto de mau se fez no seu país com as políticas aí seguidas e, no resto do Mundo, com as políticas aí induzidas, seria uma obra impossível para oito anos de mandato que sejam. Basta olhar para os danos ambientais causados pelo aquecimento global, em boa medida resultantes da cegueira bushiana nessa matéria, vetada que foi pelo capitalismo selvagem, a que sempre esteve vendido, qualquer medida que pudesse aumentar as despesas ou diminuir os lucros dos detentores do capital.

Mas, por muito verdadeiro que tudo isto seja, o que não deixa dúvidas é que algo tinha de mudar e sem ser para que tudo continue na mesma.
Estará, porém, Obama à altura da tarefa que o espera? Será que as maiorias que, entre nós, se denominam maiorias absolutas e, lá, residem na convergência política da Presidência e das duas Câmaras não são portadoras de graves riscos para uma sã democracia? Restarão dúvidas de que o ter “a faca e o queijo na mão”, sendo essencial para a realização de um programa coerente, pode ser também o “caldo de cultura” ideal para o posso, quero e mando gerador de todos os abusos? Abstraindo da generalização que encerra, não teria um fundo de razão o geógrafo e pensador anarquista francês Elisé Reclus ao afirmar que “é uma lei da natureza que toda a árvore dá o seu fruto natural, que todo o governo floresce e frutifica em caprichos, tirania, usura, infâmias, morticínios e desgraças”, desde que o deixem, acrescento eu?

Do poder absoluto de mandar, da necessidade íntima de mostrar esse poder aos insubmissos, da convicção de que se é dono exclusivo da verdade e da razão, do esquecimento de que o poder de que num determinado contexto se dispõe não é de origem divina mas provém de um mandato popular, concedido com base na confiança em promessas mil de dedicação à defesa dos interesses do mandante, não estarão, neste momento, entre nós, pais, professores, estudantes a sofrer consequências que não se sabe aonde poderão chegar? Não estará também a massa anónima dos contribuintes a perguntar a si própria se o seu dinheiro não irá servir para “indemnizar” especuladores mergulhados em mais que duvidosos investimentos da alto risco, escondidos atrás de pequenos depositantes e aforradores, esses sim a justificar a protecção do Estado?

Questões importantes, por certo, mas que muito longe nos levariam…

Para já, certo é apenas que, lá como cá, foi pronunciada uma sentença popular que condenou um estilo de exercício do poder a que urgia pôr fim. Do resto, só o tempo permitirá julgar, não se podendo, porém esquecer que, cá, o novo veredicto se aproxima a passos largos.

De momento, só nos resta ao “God bless America”, de Irving Berlin, acrescentar um “God bless the World” e, à cautela, ir “fazendo figas” para que se não venha a, por desmedido orgulho, gerar por aqui alguma nova “reacção” de contornos desconhecidos que possa redundar no divórcio entre o eleitorado e a classe política, sempre passível de consequências dramáticas de que a História regista exemplos, e que possa tornar baldados quantos sacrifícios nos foram e estão a ser exigidos em nome da correcção do “défice orçamental”.

João Mateus

NOTA: Caro João Mateus, do alto da tua quase vetusta idade e do muito saber fermentado na experiência de uma profissão consolidada em contactos diversificados, pareces um oráculo, deixando em aberto muitos temas para reflectir e definir dúvidas que buscam respostas assentes em sérias análises.
Obrigado por mais esta douta colaboração para este modesto espaço que fica à espera de mais textos com o teu habitual timbre.

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