domingo, 2 de março de 2008

Situação no ensino. Cavaco pede diminuição de tensão

Por se tratar de assunto de enorme interesse para o País e de estar a ser alvo de polémica, pouco esclarecedora, transcreve-se artigo do Portugaldiário.
Cavaco faz apelo à serenidade na Educação

O Presidente da República, Cavaco Silva, fez este sábado um veemente apelo à serenidade de todos os agentes do sector da Educação, incluindo Governo e professores, pedindo uma diminuição dos focos de tensão e que sejam emitidos sinais positivos, noticia a Lusa.
As declarações do chefe de Estado foram proferidas nas comemorações dos 205 anos do Colégio Militar - instituição em relação à qual Cavaco Silva fez rasgados elogios ao seu «ensino de excelência e cultura de valores éticos e morais».
O Presidente da República disse encontrar também exemplos de «excelência de educação» nas escolas públicas.
«Já tive a ocasião de sublinhar alguns desses bons exemplos. Para que haja sucesso na tarefa educativa, é preciso serenidade de todos e colaboração de todos», salientou o Presidente da República.
De acordo com Cavaco Silva, que se tornou o aluno honorário 695 do Colégio Militar, «é preciso que professores e pais dêem o seu contributo para que sejam superadas as dificuldades do nosso sistema de ensino».
«Temos de ter um ambiente de confiança entre todos os intervenientes no nosso processo educativo. É preciso que todos emitam sinais positivos porque o país tem de recuperar em matéria de qualificação dos recursos humanos», frisou.
Segundo o Presidente da República, Portugal conhece neste momento «um ambiente de alguma tensão no seu sistema educativo».
«É óbvio que isso está a acontecer e, como Presidente da República, não posso deixar de estar preocupado», declarou.

Apelo aos pais
Falando aos jornalistas após assistir ao desfile dos alunos do Colégio Militar e a meio da visita à instituição, o Presidente da República referiu que o seu apelo à serenidade «não esquece os pais, porque eles têm uma responsabilidade muito particular na educação dos filhos».
«A comunidade tem de interessar-se pela escola e não podemos exigir tudo aos professores. A comunidade tem de sentir que a escola lhe pertence», justificou, antes de advertir que «seria muito negativo que Portugal voltasse para trás no domínio da educação, porque ainda há um longo caminho a percorrer, designadamente contra o abandono e o insucesso escolar».
Interrogado sobre a forma como tem encarado o actual confronto entre professores e Governo, o Presidente da República começou por salientar que «a manifestação é um direito constitucional, que todos temos de respeitar».
«Mas, da parte de um Presidente da República, espera-se uma palavra de apelo à serenidade e para criação de um clima de confiança entre todos os intervenientes», sublinhou, antes de recordar que esse seu apelo à serenidade e confiança já fez parte da mensagem de Ano Novo que dirigiu aos portugueses.

«Conflitualidade política e partidária»
«Neste momento só tenho razões para reforçar esse apelo», disse, embora recusando-se a dar a sua opinião sobre os assuntos que neste momento dividem professores e executivo.
«Um Presidente da República não pode dizer muito mais do que aquilo que já disse, porque não deve interferir em matérias que são da competência do Governo, nem tão pouco deve afastar-se do princípio da imparcialidade numa matéria que ganhou contornos de conflitualidade política e partidária», advogou Cavaco Silva.

7 comentários:

A. João Soares disse...

Para estimular a reflexão sobre este tema, transvcrevo o artigo seguinte:

A avaliação dos professores
Público. 02.03.2008,
Vasco Pulido Valente

Como se pode avaliar professores, quando o Estado sistematicamente os "deseducou" durante 30 anos? Como se pode avaliar professores, quando o ethos do "sistema de ensino" foi durante 30 anos conservar e fazer progredir na escola qualquer aluno que lá entrasse? Como se pode avaliar professores, se a ortodoxia pedagógica durante 30 anos lhes tirou pouco a pouco a mais leve sombra de autoridade e prestígio? Como se pode avaliar professores, se a disciplina e a hierarquia se dissolveram? Como se pode avaliar professores, se ninguém se entende sobre o que devem ser os curricula e os programas? Como se pode avaliar professores se a própria sociedade não tem um modelo do "homem" ou da "mulher" que se deve "formar" ou "instruir"?
Sobretudo, como se pode avaliar professores, se o "bom professor" muda necessariamente em cada época e cada cultura? O ensino de Eton ou de Harrow (grego, latim, desporto e obediência) chegou para fundar o Império Britânico e para governar a Inglaterra e o mundo. Em França, o ensino público, universal e obrigatório (grego, latim e o culto patriótico da língua, da literatura e da história) chegou para unificar, republicanizar e secularizar o país. Mas quem é, ao certo, essa criatura democrática, "aberta", tolerante, saudável, "qualificada", competitiva e sexualmente livre que se pretende (ou não se pretende?) agora produzir? E precisamente de que maneira se consegue produzir esse monstro? Por que método? Com que meios? Para que fins? A isso o Estado não responde.
O exercício que em Portugal por estúpida ironia se chama "reformas do ensino" leva sempre ao mesmo resultado: à progressão geométrica da perplexidade e da ignorância. E não custa compreender porquê. Desde os primeiros dias do regime (de facto, desde o "marcelismo") que o Estado proclamou e garantiu uma patente falsidade: que a "educação" era a base e o motor do desenvolvimento e da igualdade (ou, se quiserem, da promoção social). Não é. Como se provou pelo interminável desastre que veio a seguir. Mas nem essa melancólica realidade demoveu cada novo governo de mexer e remexer no "sistema", sem uma ideia clara ou um propósito fixo, imitando isto ou imitando aquilo, como se "aperfeiçoar" a mentira a tornasse verdade. Basta olhar para o "esquema" da avaliação de professores para perceber em que extremos de arbítrio, de injustiça e de intriga irá inevitavelmente acabar, se por pura loucura o aprovarem. Mas loucura não falta

Anónimo disse...

Caro João Soares

Tenho notado que Cavaco, enquanto PR, desenvolve um esforço notável para falar sem dizer nada. Como nem sempre consegue, acaba por, algumas vezes, dizer alguma coisa, mas que sabe sempre a pouco. Fala em círculos, com uma dicção péssima e as palavras saem-lhe a saca-rolhas. É pena.
Quanto aos professores, muito se poderá dizer. Mas, grande parte da contestação deve-se à falta de confiança que temos nos governantes. Com a agravante de este (des)Governo ser completamente desastrado na congregação de vontades. Confunde reformas com meras destruições na máquina do Estado. Mente com todos os dentes que tem na boca, procurando iludir os Portugueses com gabarolices em que nem o próprio PS acredita.
Há que reformar o ensino, é verdade. Mas isso deve começar pela atribuição de recursos de qualidade, materiais e humanos. Há que motivar os professores, dando-lhes a dignidade de que necessitam e pagando-lhes salários compatíveis. E, só depois da máquina estar montada e devidamente lubrificada, para que não haja desculpas, é que se pode avançar com as avaliações.
Quanto a estas, parece-me claro de que o Governo pretende lançar mecanismos para evitar promoções e que justifique despedimentos fáceis. E não será de estranhar que se passe a confundir mérito com preferências partidárias...
Cumpre-me ainda referir que a esmagadora maioria dos professores não vai ser promovida nunca, o que constituirá uma forte desmotivação. O professor, ao perder as esperanças de subir na vida, apenas se esforçará o necesário para não ser despedido.
Por último, penso que em Portugal não se podem imitar os modelos dos países ricos, já que neles o desemprego é menor e a segurança social muito mais eficaz. Em Portugal existem milhares de licenciados no desemprego, o que quer dizer que aqueles que conseguirem entrar no ensino terão de se sujeitar a tudo para sobreviver. Um professor que se sinta injustamente tratado não tem qualquer hipótese de recorrer ao último argumento, que é o de bater com a porta. Terá que engolir todos os sapos vivos que lhe derem a comer.

A. João Soares disse...

As palavras de Cavaco fazem recordar as de Sampaio, o que faz suspeitar que é um mal contagioso das paredes de Belém!
Gostei da sua dissertação, mesmo que haja um ou outro ponto sujeito a contestação. Ontem conversei um poouco com uma jovem professor que diz que a ministra quer reformar o ensino contra os professores, apenas com o apoio dos pais dos alunos. Parece o que aconteceu na Saúde em que o ex-ministro começou por hostilizar os médicos, farmacêuticos e enfermeiros em vez de congregar as suas colaborações. O mesmo na Justiça, contra os Juízes e um pouco nas Forças Armadas, contra os militares, mas aqui o ministro teve o apoio servil e obediente dos generais que querem manter as mordomias.
Um abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

Caro amigo João
Ora aqui está um assunto acerca do qual me sinto à vontade...
O PR está a desempenhar o seu papel de moderador, ou seja, dá uma no prego outra na ferradura!
Eu também sou contra a violência, mas há coisas que não se resolvem com paninhos quentes. Os professores têm todos os motivos para se manifestarem. Desde que a presente ministra está no poder só tem tido atitudes para os prejudicar, e é a grande responsável pelo clima que se gerou neste país contra a classe dos professores. Agora parece estar a querer "emendar a mão" - foi a sensação com que fiquei quando a vi na TV - mas é tarde demais. Perdeu por completo a credibilidade. Dificilmente alguém acreditará na sua aparente vontade de dialogar.
Como sabe, tenho muito contacto com professores, sei bem como a maoiria se sente.
Note que nas últimas manifestações já se viram os pais dos alunos ao lado dos professores. Isto é muito significativo.
Hoje recebi por email o "desabafo" de uma professora, que coloquei no meu blog. É um pouco extenso, mas bem elucidativo do sentir de todos (ou quase todos).
Muito mais poderia dizer, mas fico-me por aqui. A bom entendedor...
Beijinhos
Mariazita

A. João Soares disse...

Querida Amiga,
Compreendo-a. Mas, se não pode resolver-se com paninhos quentes, também não se resolverá com violência, a acrescer à muita que já por aí há, sem ninguém a parar.
É certo que esta ministra não tem credibilidade para dialogar com as partes interessadas - professores ~´, pais, alunos, autarquias, etc. Haveria que a substituir já e antes que as coisas se azedem mais. E depois, sentar à mesa representantes das partes interessadas à procura de avaliações e outras medidas que prestigiem o ensino e os seus agentes. Não pode esquecer o objectivo do ensino que deverá ser o de criar adultos com capacidade para criar a grandeza de que Portugal necessita«Levantai hoje de novo o esplendor de Portugal».
Beijinhos
João

Amaral disse...

João
Penso que o PR não pode ficar-se apenas pelos apelos. É preciso ter coragem para avançar mais, para pôr mão em situações que todos acham que estão mal.
É preciso entender que, actualmente, a questão da avaliação dos professores é um braço de ferro da teimosia do ME.
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Não estou aqui para defender ninguém. Mas acho que a Constituição não dá ao PR grandes possibilidades de actuar no concreto.
Penso que as avaliações, sendo necessárias, devem ser definidas de forma a conjugar as vontades de todos os interessados sem ofender ninguém, nem sequer os menos classificados no sistema avaliativo.
Este sistema deve ser bem estruturado de forma que um chefe possa informar todos os subordinados da classificação que coube a cada um e ser capaz de explicar a um que teve 16 que está bem avaliado em relação a outro que teve 17. Para isso, os factores de avaliação devem poder ser quantificados de forma objectiva e imparcial, aceite por todos.
Não é fácil.

O pior é que o Ministério cuspiu uma solução que não obedece a estas condições e quer teimar em impô-la aos professores como se fossem meninos imberbes que devem obedecer sem reclamar. Depois, a politiquice impede que dê o braço a torcer. E os partidos colocam os interesses próprios acima do interesse nacional, neste acaso, acima da formação dos futuros cidadãos governantes.
O PR deve mostrar se concorda ou discorda. Mas mesmo não concordando, tem promulgado legislação à qual não pode opor-se.
Ele tem pouco poder!
Abraço