quinta-feira, 25 de junho de 2020

PREPARAR O AMANHÃ

Preparar o amanhã
(Public em O DIABO nº 2269 de 26-06-2020. Pág 16. Por A João Soares)

No seu discurso do 10 de Junho, o cardeal Tolentino de Mendonça começou por salientar que cada cidadão, cuidando de si e da sua família, está a cuidar da sociedade nacional porque “juntos constituímos o todo”. A comunidade, com solidariedade e harmonia, é fortificada com a acção de cada um dos seus elementos.

Para isso, é preciso sentir e agir em conjugação de esforços para um objectivo comum. A árvore não pode esquecer a sua dependência da raiz. Se esta morre, a árvore seca e cai e, se isso acontecer com todas as da mata, esta fica um deserto ou um espaço para jogar à malha. As raízes, a história, as tradições, formam um conjunto que deve ser respeitado e mantido unido e harmonioso.

Porém, nos tempos actuais, a Humanidade está a ser posta em perigo, está em risco de extinção, com a iniciativa agressiva de grupos de impreparados e pouco ou nada conscientes que procuram divisões e agressões mútuas com outros que pensam de forma diferente. Tal falta de sensatez, de tolerância e de respeito pelos outros tem chegado ao ponto de demolir estátuas e monumentos com pretextos de conflito racista. Ora, ser de raça ou de etnia diferente não deve ser motivo para conflitualidade, e esta só surgirá se não houver compreensão, tolerância e harmonia, isto é, se houver falta de ética, de educação e de civilização.

Tenho visto imagens de boa convivência entre animais ditos “irracionais”, com amizade e apoio entre alguns de raças e espécies diferentes. E interrogo-me: porque será que o homem, considerando-se “racional”, tem muitas vezes atitudes inferiores aos selvagens?

A degradação social tem chegado ao ponto de querer a destruição da história e a demolição de estátuas e monumentos sob pretexto de terem estado ligados ao racismo, o que, em grande parte de casos, é uma visão errada de relacionamentos que eram bons, bem intencionados e conducentes à evolução civilizacional de povos em estado primitivo de civilização. Há Estados que hoje são poderosos que iniciaram a sua evolução após a chegada dos nossos navegadores, com notícias de saber e de tecnologia avançada da Europa. Agora, muitos desses colaboradores do desenvolvimento da África e da Ásia e iniciadores da Globalização têm as suas estátuas vandalizadas por jovens imaturos e mal informados que pretendem impor os seus pontos de vista irreais e demasiado fantasiosos.

As estátuas foram erigidas anos depois dos seus falecimentos por cidadãos respeitáveis que quiseram ilustrar o valor e o mérito de tais heróis. Até podem dizer que eles cometeram erros, mas isso seria natural porque “errar é humano” e ninguém é totalmente perfeito. Mas hoje, em que se fala de ‘fake news’, não devemos deixar destruir as raízes da História, das tradições, dos nossos homens de grande valor, deixando-nos arrastar por fantasias condenáveis. Como dizia no início, se queimarmos a raiz da árvore, a Humanidade terminará a sua existência. E seremos mais um caso de extinção, depois do desaparecimento dos dinossauros. Temos que evitar a conflitualidade acerca do passado e concentrar as nossas energias em projectos inovadores e construtivos, procurando um futuro harmonioso num Mundo melhor em que todos sejamos felizes com bom relacionamento e mais justiça social.

A Humanidade, os países, sofreram solavancos que foram solucionados, embora com sacrifícios para muitas pessoas. Será bom que agora, já mais civilizados, evoluí- dos e esclarecidos, evitemos violências e procuremos um futuro mais agradável. Em vez de conflitos, usemos o diálogo para a convergência de esforços para uma paz estável, permanente.

A sociedade precisa que todos nós melhoremos o comportamento e, para isso, é bom que as pessoas com posição pública e audição lancem apelos, com sugestões construtivas para alertar as pessoas, como fez a cantora Miley Cyrus, a apresentadora Catarina Furtado, a Federação Escutista de Portugal, etc. O esforço não pode ser esperado apenas do Governo, mas de toda Comunicação Social e outras instituições, enfim de todos os cidadãos. ■

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quinta-feira, 18 de junho de 2020

É IMPERIOSO TERMINAR O TERRORISMO E OUTRAS VIOLÊNCIAS

É imperioso terminar o terrorismo e outras violências
(Public em O DIABO nº 2268 de 19-06-2020, pág 16 por A João Soares)

Fala-se de grandes alterações previsíveis para a vida humana no pós-pandemia com a vida social de todos os níveis a passar a ser diferente. Convém conjugar todos os esforços para que a mudança seja para melhor com a vida mais harmoniosa, mais solidária e com mais respeito pelos outros humanos; e uma coisa que há que terminar, sem demora, é o terrorismo gratuito, sem benefícios para os seus criminosos e sem consideração pelos seres inocentes cujas vidas ou terminam ou ficam a arrastar-se com sofrimentos atrozes.

Tenho visto muitas imagens de relacionamento pacífico e amigável entre animais ditos irracionais, de espécies e raças diferentes, que constituem lições de ética a seguir pelos humanos, principalmente pelos praticantes de actos agressivos contra pessoas inocentes sem disso tirarem benefício. A ONU e outras instituições internacionais, e a própria Justiça, devem ser dotadas de regras que lhes permitam exercer prevenção e repressão de actos que prejudiquem vidas inocentes.

Devemos aprender a compreender e a tolerar as outras pessoas, mesmo que pensem de forma muito diferente, e não devemos incitar à violência contra elas. Porém, a tolerância deve ser usada de parte a parte e ninguém que ofende os outros pode estar convencido de que está correcto e que não está livre de uma reacção violenta. Por isso, é fundamental que as pessoas aprendam a ser educadas e respeitadoras para evitarem atitudes racistas quer de uns quer dos seus contrários. Não há duas pessoas iguais e devemos respeitar as diferenças e aprender a conviver com todos que queiram conviver connosco. Isto é, devemos ser todos amigos, mas sabemos que a realidade tem tonalidades por vezes desagradáveis e não podemos perdoar a quem não procura merecer perdão. Mas não perdoar não significa agredir até à morte.

E assim, com falta de ética e de civismo, há pessoas mal formadas que alimentam ambições e interesses geradores de hostilidades inconfessadas e por vezes intoleráveis. Mas que alguém movido por interesses anti-sociais chegue ao ponto de cometer actos de terrorismo, isso deve ser motivo para aplicação de uma lei correspondente ao ditado “quem com ferros mata com ferros morre”. É certo que a pena de morte está fora de moda, mas parece que acabará por regressar às opções da Justiça. Para adiar tal regresso, deve ser iniciado um sistema de educação que contenha as pessoas dentro de normas de respeito pelos outros. Quem não tem respeito pela vida dos outros não pode exigir respeito pela sua.

Quanto a variações de terrorismo, há quem o agrupe em variados tipos, de que passo a citar alguns: “indiscriminado”, que atenta contra população civil, não especificada e provavelmente inocente; “selectivo”, assente na chantagem, em tortura, no terror psicológico, etc; “terrorismo de Estado”, acções policiais, etc; “comunal ou comunitário”, com manifestações violentas e atentados para debilitar a produtividade de população, ligados ao narcotráfico e outros interesses não confessados; “nacionalista”; “de organizações criminosas”, etc.

O esforço para eliminar a violência da vida da humanidade não pode deixar de começar pela preparação das pessoas para cada uma, no seu ambiente social, ser o mais civilizada possível, sabendo tolerar os outros, ser solidária, colaborar para uma vida melhor em todos os aspectos. E ao subir na escala social deve colaborar com as autoridades para impedir exaltações perigosas e denunciar pequenos ou grandes perigos que contrariem o objectivo de se criar uma sociedade harmoniosa e unida para os melhores objectivos de interesse colectivo. À Justiça deve ser fornecida legislação que permita uma autoridade e um prestígio que permita eliminar autores de actos atentatórios de vidas de pessoas, só por vil prazer ou por interesses não justificáveis. E essa acção judicial deve também visar quem se serve do terrorismo para fins anti-sociais financiando grupos de criminosos. Desta forma se colaborará na construção de uma Humanidade mais civilizada após terminada a pandemia que nos assustou. ■

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sexta-feira, 12 de junho de 2020

PARA SAIR DESTA CRISE PARA MELHOR

Para Sair desta crise para melhor
(Public em O DIABO nº 2267 de 12-06-2020, pág 16 por A João Soares)

Depois de ter lido vários textos acerca de mudanças que surgirão na vida da humanidade, quer nas famílias e em meios restritos, quer em sociedades mais vastas, quer mesmo nas relações internacionais, recebi agora a posição papal, expressa em mensagem de vídeo em espanhol por altura da festa de Pentecostes em que, em vez de aconselhar, como seria tradição, a pedir o milagre de as mudanças serem para aspectos mais positivos, alertou para a realidade natural. E disse: “Das grandes provações da humanidade, entre estas a da pandemia, nós sairemos melhores ou piores. Não é a mesma coisa. Pergunto-vos: como querem sair disto? Melhor ou pior?”.

Realmente, quando sairmos desta pandemia, tudo será diferente e não poderemos continuar a fazer o que estávamos a fazer, e da forma como o estávamos a fazer. E será desejável que a vida da Humanidade seja melhor do que tem sido. O que depende dos governantes, mas não apenas deles, é principalmente de todos os cidadãos, que devem mostrar-se activos e conscientes ao ponto de impedirem qualquer fantasia de que não resulte benefício para a vida da população, principalmente daquela que tem sido mais explorada e tratada com menos justiça social.

Uma mudança grande será na parte tecnológica ligada à informática, que foi aproveitada como novidade por muita gente quer no ensino à distância quer no trabalho em casa por muitos empregados que, assim, reduziram o risco de ser infectados nos transportes e também durante o trabalho em áreas reduzidas com muito pessoal sem poder usar o distanciamento social. Mas também a saúde foi obrigada a rever todo o seu funcionamento e irá daí retirar lições que alterarão o sistema. E aí será notável o resultado de avanços na parte científica, de forma a reduzir hesitações e tentativas de solução que lavaram pessoas de dentro do sistema a afirmar que mais do que a pandemia do vírus, foi muito grave e dolorosa a pandemia do medo.

Mas, no caso de novas crises difíceis, embora as soluções tenham de ser precoces e imediatas, não devem ser precipitadas pelos políticos não especializados no assunto e que devem ter o bom senso de recorrer a opiniões bem fundamentadas, a fim de evitar criar pânico, por vezes mais nocivo do que o vírus. Para as decisões importantes as palavras, mesmo muito sonantes, pouco contam, sendo fundamental a orientação de decisões que produzam resultados benéficos e duradouros.

Mas palavras sensatas e pedagógicas, como as do Papa, devem começar a ser divulgadas, porque a nova sociedade deve ser estruturada pelos cidadãos que a constituem, de forma solidária, harmoniosa, em colaboração completa desde o trabalho mais elementar até ao topo da administração. E esta deve remunerar todos os trabalhos em função dos resultados obtidos. Por exemplo, muitas vezes em serviços públicos, no fim do ano o administrador recebe volumoso prémio, mesmo que o resultado anual da empresa ou do serviço tenha sido insignificante, o que causa mal-estar nos trabalhadores de cujo suor foram produzidos os resultados. Uma empresa deve funcionar como uma equipa por forma a todos os que nela trabalham, desde a base ao topo sentirem prazer e algum benefício nos resultados alcançados.

O facto de a pandemia ter atingido indiscriminadamente, ricos e pobres deve levar as pessoas a comportarem-se sem preconceitos de classe ou de nível de conta bancária. As pessoas devem ser respeitadas como seres humanos e avaliadas pelas suas obras e acções e não pelo fato e ornamentos que transportam. Cada coisa no seu lugar e no momento adequado. E a Justiça deve ser rápida e eficaz, com isenção e sem se sujeitar a pressões de políticos ou de financeiros poderosos.

Se o povo se comportar como vivendo em verdadeira democracia e rejeitando restrições aos seus direitos e liberdades e votando segundo um são conceito de defesa dos interesses nacionais, constantes da Constituição, poderá responder à pergunta do Papa: “Queremos sair disto para melhor”. ■

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quinta-feira, 4 de junho de 2020

NÃO DEVEMOS REJEITAR INOVAÇÕES

Não devemos rejeitar inovações
(Public em O DIABO nº 2266 de 05-06-2020 pág 16. Por A João Soares)

As controvérsias fazem parte inerente da pesquisa científica. O filósofo francês Edgar Morin afirma que uma teoria só é científica ser for refutável e que em ciência nada deve ser considerado dogmático. Por isso, não devemos recusar inovações mas, ao tomar uma decisão estratégica, destinada a regular a vida futura, devemos ponderar com o maior cuidado e profundidade as suas vantagens e inconvenientes, tendo sempre em atenção os condicionamentos actuais e previsíveis que influenciarão a sua concretização. Se rejeitarmos, levianamente ou por receio excessivo, aquilo que nos parece ter riscos, podemos estar a aceitar a paralisia e a estagnação da vida, o que é grave, principalmente, quando se trata do futuro de um Estado. Assim, é preocupante quando se ouve um alto responsável afirmar, sem explicação cuidada e com ar aparentemente seguro, que a virtude está em prometer a continuidade dos assuntos socioeconómicos e a estabilização e recuperação das soluções que podem ter parecido boas durante a crise actual.

É imperioso não ter medo de fazer mudanças e verificar que grandes passos em frente, na História Nacional, foram devidos a decisões corajosas que podiam ser criticadas por demasiado ousadas e perigosas pela tradicional calma passiva do nosso povo. É aplicável a este conceito a posição do ‘Velho do Restelo’ que Luís de Camões descreve na sua obra épica. Porém, a coragem não deve ser confundida com inconsciência, capricho fantasioso ou atrevida ousadia, pois devem ser bem ponderadas as prováveis vantagens e inconvenientes a fim de serem obtidos os melhores resultados para o melhor futuro dos portugueses. É conveniente que, neste momento, com grandes perspectivas de evolução em variados aspectos da sociopolítica mundial, as decisões estratégicas não se confinem a recuperar a vida anterior à pandemia e, muito menos, não se agarrem à continuidade de algo que tivesse vantagens para um ou outro sector mas sem interesse para a globalidade dos portugueses. Tal visão estratégica de melhorar os interesses essenciais de Portugal deve contar com a colaboração de pensadores nacionais e especialistas dos temas a abordar e das soluções a procurar, e que sejam independentes sem ligações a partidos nem a grandes grupos económicos para não se perder esta oportunidade de procurar o melhor para o futuro dos portugueses e para o engrandecimento do nosso País.

Tem havido muita gente a apontar como exemplo países que reconheceram que as medidas de confinamento foram demasiado restritivas e sem tomarem em consideração aspectos peculiares que não deviam ser abrangidos por regras gerais, e olhando para indesejados resultados para a economia, os serviços fundamentais, etc., e que estão a alterar todo esse projecto, como o Japão e vários países europeus, controlando os resultados e não vendo inconveniente no abrandamento das restrições aplicadas. Das pessoas que se colocaram ao lado do alívio do isolamento exagerado destaca-se a médica Margarida Abreu, que afirmou que pior do que a pandemia do Covid-19 foi a pandemia do medo que tolheu muitos cérebros e criou consequências de difícil eliminação e os muitos crimes de violência doméstica que afectaram muitas famílias da pior maneira. Os inconvenientes de ordem psicológica foram muito notados. Embora não haja certezas e previsões dogmáticas, podemos abraçar a realidade dos “factos que acompanhamos diariamente: o despertar da solidariedade e a oportunidade de reforçar a consciência das verdades humanas que fazem a qualidade de vida: amor, amizade, comunhão e solidariedade”.

Muitos pensadores à semelhança de Edgar Morin, sem darem uma ideia clara do que será a vida social nos próximos meses e anos, confessam a incerteza mas admitem que surgirão soluções totalmente discordantes da vida anterior à pandemia. Será um mundo novo e imprevisível. Oxalá se caminhe para mais amizade e solidariedade, com mais respeito pelas pessoas e menos apego doentio ao dinheiro e que as sociedades sejam mais pacíficas e harmoniosas. A criação do futuro está nas mãos dos governantes que devem ter a honestidade de perscrutar os reais interesses da população em geral, sem privilegiar injustamente ‘elites’ alheias aos mais altos interesses da Nação, como conjunto de todos os cidadãos. ■

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