quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

CEGOS GUIADOS POR LOUCOS

Cegos guiados por loucos
(Public em O DIABO nº 2252 de 28-02-2020, pág 16)

Uma quadra do meu amigo José Caniné diz que a nossa vida está a ser dominada pelos fracos e os velhacos. Quanto a fraqueza, é maneira poética de esconder o vício da vaidade e da ambição, pois muitos dominadores são poderosos, sujeitos à pior droga que está a escravizar o mundo, tão forte e perigosa que nem exige cuidado para evitar a overdose, pois o dinheiro (como ela é conhecida) não implica esse perigo por poder ser consumida em quantidade ilimitada, havendo muitos drogados com ela que gostam de a acumular sem olhar ao montante.

Mas há também quem diga que o mundo é uma multidão de cegos guiados por loucos. E esta frase merece ser bem meditada e analisados os seus condicionamentos.

Comecemos pelos órgãos da Comunicação Social que, há cerca de 70 anos, eram um factor de instrução e cultura que ampliava o saber adquirido na família, nas escolas e na observação da vida real. Recordo, de entre muitos outros programas instrutivos; o do Engº Sousa Veloso que ensinava aspectos úteis e práticos da actividade agrícola de forma a tirar dela os melhores resultados conforme a ciência que ele bem dominava; o programa do professor doutor Vitorino Nemésio que, com os seus ensinamentos de história e cultura social, nos deixava convictos de ficamos mais elevados na categoria social; o programa de José Megre, que nos ensinava os cuidados a ter na condução automóvel de forma segura e cuidadosa, criando a esperança de regressarmos sãos e salvos e com o prazer de uma boa viagem; o programa de Edite Estrela, que ensinava ortografia e redacção e nos ajudava a interpretar o que líamos e a escrever de forma correcta as nossas ideias; etc, etc.

Mas tudo isso acabou. Já nada existe. E os próprios jornalistas são vítimas da falta de tais programas dedicados à cultura e ao uso do nosso idioma, como se vê em artigos publicados por jornais e empresas de rádio e de TV, em que se encontram erros de palmatória quer na estrutura das frases, quer na ortografia e palavras desconjuntadas com letras em falta ou trocadas, etc. Mas o que é mais grave é a qualidade dos programas que repetem as frases dos dias anteriores martelando coisas que se tornam maçadoras como eutanásia, coronavírus, racismo, nos intervalos de futebol, telenovelas e outras banalidades que servem apenas para evitar que os telespectadores ou ouvintes pensem nos problemas que os envolvem e que bem precisam de ser meditados, compreendidos e resolvidos.

Dá a impressão de que há uma intenção premeditada para tornar as pessoas estúpidas ou cegas e ignorarem os graves problemas sociais ligados à Saúde, Justiça, ensino e outros serviços públicos e, com tal guerra psicológica, deixem de reagir e reclamar. Mas a degradação mental dos portugueses nada traz de positivo para as gerações futuras e para o prestígio de Portugal no convívio internacional.

Acerca de tal degradação, em relação ao ensino, recordo um programa de quando ainda via alguma TV, em que as pessoas iam responder a uma pergunta e se habilitavam a um prémio. A candidata disse que era finalista de Direito na Universidade de Coimbra e que pretendia doutorar-se e ser catedrática. A pergunta era: qual o rio que passa em Leiria de entre os seguintes: Tejo, Lis e Ave. Ela, sem hesitar muito, disse que deve ser o Tejo. O apresentador tentou ajudar de várias formas. Uma foi dizer que o Tejo passa em Lisboa, Santarém e Abrantes. Ela continuava com a sua inclinação. Ele perguntou se já tinha ido a Leiria e ela respondeu que já lá tinha passado (talvez pela autoestrada). Acabou o diálogo a dizer que é o Tejo e não ganhou o prémio. No ensino de há 7 décadas saíamos da escola primária a saber todos os rios e seus afluentes e a conhecer as linhas férreas e todas as estações e apeadeiros.

Como sensibilizar a população para colaborar no desenvolvimento do País? Muitos políticos, tal como a candidata a catedrática de Direito, só conhecem o Terreiro do Paço e a TV já não ajuda. ■

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O AMBIENTE DEVE SER RESPEITADO

O Ambiente deve ser respeitado
(DIABO nº 2251 de 21-02-2020, pag 16. Por AJS)

Gosto de apreciar uma boa ideia, bem intencionada para o engrandecimento de Portugal e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, mesmo que ela venha de pessoa com quem nem sempre se concorde. Mas ninguém é perfeito e toda a pessoa pode ter valores positivos que se sobreponham a defeitos mesmo que dificilmente toleráveis. E, assim, quando de tais cabeças sai uma boa sugestão para “bem da Nação”, não devemos deixar de lhe dar reconhecimento.

Vem isto a propósito do desconforto e até perigo de depósitos de lixo a céu aberto, por vezes, de forma difícil de compreender, vindo de países aparentemente mais civilizados e que abusam da nossa pobreza, não apenas económica mas também de espírito. As palavras de Catarina Martins não foram originais, nem inovadoras, porque já na semana anterior viera a promessa de que “Governo vai suspender e rever licenças de aterros” mas, pela sua influência no funcionamento da “geringonça”, espera-se que consiga que esta “intenção”, ou apenas promessa do Governo, venha a tornar-se realidade e que fiquem bem encaminhadas, quer a legislação que for criada quer as acções consequentes, abrangendo o ajustamento das taxas de gestão de resíduos, quer a melhor eficácia das formas de fiscalização tanto a nível municipal como, superiormente, na supervisão governamental.

Trata-se de um aspecto muito importante da vida nacional, pois o ambiente deve merecer o máximo respeito e cuidado dos poderes políticos, ao mais alto nível (Poder Executivo), nomeadamente no que respeita à gestão do lixo que, se não for devidamente tratado, provoca odores desagradáveis e poluição visual e infecciosa altamente incomodativa. Quem teve contacto estreito com regiões rurais conhece concretamente os incómodos do amontoado de resíduos quando excede volume chocante.

Por outro lado, os lixos arrastados pelas chuvas e pelas correntes fluviais, acabam por ir parar ao mar, criando ilhas de detritos que resistem muito tempo ao efeito destrutivo da água, são reduzidos a micropartículas, ingeridas por peixes que depois as trazem para a nossa alimentação, se eles não sucumbirem ao efeito delas nos seus organismos. A má localização dos montes de resíduos pode produzir a contaminação de veios aquíferos que sirvam de abastecimento de nascentes aproveitadas para água utilizada, directa ou indirectamente, para alimentação humana ou de animais que venham a ser destinados a esse fim.

O Ambiente, na realidade, constitui a visão que nós temos da Natureza em que vivemos e será sempre muito agradável gostarmos de apreciar as suas belezas espontâneas, deslocarmo-nos nelas e desenvolvermos actividades profissionais ou recreativas no seu espaço, ou cultivando jardins ou culturas de plantas ornamentais ou próprias para alimentação e devidamente isentas de matérias impróprias.

Não é necessário referir espécies de detritos impróprios para ficarem expostos à vista de cidadãos respeitáveis (que devem ser todos). Ninguém gosta de ter próximo de casa uma latrina mal cheirosa. Por isso, há que definir o que são “aterros sem condições” e “que prejudiquem a vida das populações vizinhas” e que efectuar fiscalizações, “a sério”, responsáveis e frequentes, dos aterros autorizados. Convém que o Governo cumpra rigorosamente esta sua promessa de que “vai rever as regras para estes aterros e para a importação de lixo”. E, quanto a esta, há que reavaliar o interesse de tal negócio e quais os seus benefícios para o crescimento da economia, para a melhoria da qualidade de vida das populações e para o prestígio internacional do nosso País. Talvez haja indústrias nacionais interessadas na importação de resíduos específicos que possam servir para reciclagem e construção de novos materiais mas, em tal caso, haverá que evitar que os resíduos úteis venham acompanhados de grande quantidade de outros que apenas tenham inconvenientes.

Nisto como em tudo o mais, qualquer decisão deve ser previamente bem analisada, para não acontecer, mais uma vez, a anulação de leis e directivas após poucos dias de existência, o que nada prestigia os governantes ou os directores de serviços públicos. ■

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

DESTINO DO DINHEIRO DOS IMPOSTOS

O destino do dinheiro dos impostos
(Public em O DIABO nº 2250 de 14-02-2020, pág 16. Por A J Soares)

No início do mês de Dezembro de 2013, o Governo anunciou que tinha necessidade de mais poder financeiro e que ia aumentar as percentagens de IRS e de IRC. Levantou-se logo a voz na TV e por escrito do grande empresário Alexandre Soares dos Santos, a defender que essa não seria a melhor solução e que seria mais correcto o aumento do IVA, visto que sairia do bolso das pessoas de forma menos sensível em pequenas fracções, de forma menos chocante.

Houve quem atacasse esta proposta – fi-lo em artigos de blog – porque os impostos directos são mais justos, racionais, morais, porque são proporcionais ao rendimento colectável dos contribuintes, enquanto que o IVA é calculado em função da despesa feita e de forma igual para qualquer cidadão, quer a compra seja feita por um milionário quer por uma pessoa pobre que apenas compra um pão para matar a fome ao filho.

Mas as pessoas bem pensantes e sensíveis às realidades das populações depararam com o facto de estar em jogo o aumento do dinheiro público à disposição dos políticos e com o interesse dos milionários existentes e daqueles que desejavam vir a sê-lo, isto é, que seguiam a carreira política com tal finalidade. E, para esse efeito, achavam mais eficaz a prioridade dada aos impostos directos generalizados a todos os cidadãos, mesmo aos de mínimo poder de compra. E isto começou a ser mais evidente com o fisco, usando de boa técnica de parasitas ou sanguessugas, com o aumento muito diversificado de novos e variados pretextos para criar mais taxas e taxinhas, sempre em quantidade crescente.

E para quê? Qual tem sido o efeito de tanto dinheiro sacado aos portugueses? Que aumentos tem havido no património nacional e na qualidade de vida dos cidadãos que não beneficiam do compadrio partidário? Tem havido sugestões para se criarem listas dos melhoramentos nos tempos do actual regime e em igual período imediatamente anterior, mas desistiram perante a diferença chocante entre as extensões das duas listas. Enquanto antes, com menos impostos, se construíram escolas em muitas aldeias, casas de cantoneiros, casas para guardas florestais, hospitais, palácios da Justiça, quartéis para militares e para forças de segurança, etc, etc, depois do 25-A deparamos com a degradação dos serviços públicos essenciais como, por exemplo, o da saúde, etc.

Mas temos uma multidão de deputados e de ministros e secretários de Estado, todos bem servidos de colaboradores, bem pagos com mordomias de estilo milionário, que desenvolvem actividade mais de aspecto turístico e de propaganda de imagem do que de efeito positivo para o desenvolvimento do país e da qualidade de vida dos cidadãos mais desprotegidos. Até os agentes das forças e segurança, indispensáveis para manter a paz e a ordem, no respeito pelos governantes, são por estes desprezados com abomináveis palavras pronunciadas publicamente.

Afinal, qual é o resultado do dinheiro que nos é sucessivamente sacado, cada vez em maior valor? Tomo a ousadia de transcrever esta pequena mas significativa frase extraída da pág 4 do nº 2248 deste semanário: “parto da realidade de que, ao longo das últimas duas décadas, Portugal sofreu um forte atraso no seu processo de desenvolvimento em relação aos outros países europeus, que a economia portuguesa estagnou com base num modelo económico errado de duas economias divergentes e no privilégio do mercado interno, os dois elementos que mais impedem o crescimento económico e o progresso social”.

Basta, chega de tanto sacrifício. Precisamos de mudança, de reformas que activem as energias dos portugueses e que elas sejam devidamente aproveitadas para a recuperação da imagem correspondente ao prestígio e ao valor que os nossos heróis deram a Portugal, durante séculos de indiscutível grandeza.■

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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

ARMAS SÃO FERRAMENTAS DE MORTE

As armas são ferramentas de morte
(Public em O DIABO nº 2249 de 07-02-2020, pág 16, por A J Soares)

Tenho aqui defendido que a violência provoca maior violência a qual, em vez de resolver o problema existente, o agrava numa escalada com graves efeitos sobre as populações e os patrimónios. É certo que quando a violência excede limites suportáveis pode abreviar a paz, mas é uma paz azeda e que gera ódios e desejos de vingança que apenas espera oportunidade para a sua concretização. Isso vê-se no avanço e recuo de fronteiras e de retaliações muitas vezes em forma de terrorismo. Há muitos exemplos nos continentes asiático e africano.

Mas, entretanto, surgem palavras sensatas que deviam ser elogiadas e apoiadas para se tornarem realidade e servirem de estímulo a muitas acções de diálogo e negociação e evitarem violências. Neste momento, tenho na frente as palavras de Erdogan, Presidente da Turquia, acerca da crise na Líbia, que deve evitar os “meios militares”, consolidar o cessar-fogo e procurar solução pacífica recorrendo a mediadores por forma a ser criado o melhor entendimento possível, por forma a ser continuado da melhor forma. E Erdogan tem memória recente dos custos da sua intervenção nos conflitos na Síria.

Em vez de envio de unidades militares, como vem sendo hábito de americanos, para “ajudar a resolver conflitos”, a ONU deve criar equipas de diplomatas bem treinadas na mediação, para ajudar as partes de conflitos a encontrarem solução pacífica sem perda de vidas nem danos patrimoniais. Essas equipas não devem impor soluções, mas sim ajudar as partes a chegarem a entendimento, com equilíbrio de cedências de parte a parte sempre de forma cordata. É preferível uma paz menos vantajosa que o desejado, a uma guerra demolidora e geradora de ódios e desejos de vingança. Também tem havido atitudes pacifistas semelhantes à de Erdogan, vindas de Putin e da China, e é pena que o conflito Irão/EUA se mantenha aceso com tendência de agravamento entre dois contendores demasiado teimosos e persistentes no mau uso das armas.

No dia 26 de Janeiro, cinco rockets ‘Katyusha’ explodiram, junto à embaixada dos Estados Unidos em Bagdad, no Iraque. E seis dias antes aconteceu o mesmo com vários mísseis. E no dia 8 foi abatido um avião ucraniano com 176 pessoas a bordo poucos minutos depois de descolar na capital do Irão, alegadamente por erro de quem operou os mísseis. As explosões de mísseis junto à embaixada americana parece não terem causado mortes, mas o resultado mais natural é a quantidade de baixas e de estragos materiais.

Embora isso não agrade à potente indústria militar, a ONU deve esboçar um movimento, por si e com a ajuda de organizações pacifistas, para abolir as armas mais perigosas nas panóplias militares e fomentar uma orientação de fundos para apoiar as medidas pacíficas de resolução de conflitos e de, com tais economias, apoiar as populações mais carentes dos Estados que aceitem a resolução pacífica pelo diálogo e pelas negociações e concretizem um relacionamento totalmente aceitável de que parta uma cooperação amigável em sectores tradicionais de tais povos com vista à exportação no melhor ambiente de comparticipação.

Nesta fase de revisão do esboço, deparo com notícias sobre as negociações entre israelitas e palestinianos com vista à criação de dois Estados e vejo com prazer posições positivas do Secretário-Geral da ONU, de Putin e do rei saudita que defendem uma solução realista de dois Estados, com a aceitação do nascimento de um estado palestiniano, bom relacionamento entre vizinhos e uma clara rejeição do terrorismo. Para isso não deve prevalecer a imposição de uma solução por uma potência amiga de uma das partes que não seja aceite pela outra parte. Como na amizade entre pessoas, os Estados devem respeitar as idiossincrasias do outro e evitar desentendimentos, estando sempre dispostos a dialogar com vista a uma convivência pacífica e evitando o uso das armas, que são ferramentas de morte. ■

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