domingo, 3 de maio de 2020

JÁ NÃO SE PEDEM MILAGRES

Já não se pedem milagres
(Public em O DIABO nº 2261 de 01-05-2020, pág 16)

Depois de ler o artigo “Ainda haverá fé sobre a terra?”, n’O DIABO nº 2259, de 17-04-2020, procurei um apontamento esboçado há algum tempo e apresento-o aos leitores depois de lhe acrescentar algumas considerações complementares. Não devemos estar à espera de milagres.

A Humanidade é composta de todos os seres humanos. E é imperioso que haja ética, moral, respeito pelo próximo e pela natureza, e que seja generalizada a instrução para que cada um saiba desempenhar o seu papel de forma a agir em conformidade com esta ideologia. As religiões foram criadas por pessoas eticamente bem formadas, autênticos filósofos ou sábios, quando ainda não havia ciência e saber que ajudasse a compreender a Natureza em que se vivia. O politeísmo foi uma solução para dar resposta aos curiosos sobre os fenómenos que observavam: Sol, Lua, Vento, etc. e foram criados inúmeros Deuses, um para cada fenómeno que ainda não tinha explicação por ainda não haver ciência devidamente desenvolvida e acessível às pessoas vulgares.

O tempo foi passando e a sociedade modificou-se. Surgiram diversos polos de atracção quer de aspectos políticos, quer desportivos, quer económicos, quer tecnológicos que desviam as pessoas da fé religiosa, sem que esta fosse substituída. Por exemplo, a política tem levado as pessoas a concluir que nada é seguro e não podemos acreditar em nada nem em ninguém, mesmo na escrita que, até alguns anos atrás, era segura e garantida, hoje nada vale nem significa porque aquilo que se apresenta como afirmação indiscutível da obra que veremos amanhã, é negada poucas horas depois.

Uma das invenções mais dramáticas foi o dinheiro, que foi criado como necessário para facilitar as compras, substituindo as trocas, mas tornou-se na pior droga que existe e que é mais perigosa que qualquer outra, porque não tem o perigo de overdose, o que origina ambição, ganância, roubo, corrupção, sem respeito por nada nem por ninguém, tudo sem limites.

A religião, embora muito tenha resistido, não podia escapar à onda de cepticismo e, muitas vezes, não passa de ilusão, panaceia. Há dias, numa conversa em que havia um beato fanático, perguntei-lhe quais são as quatro lições que devem ser extraídas da segunda parte da oração “Pai Nosso”. Tal como milhares de “crentes”, que papagueiam as orações sem compreenderem o significado das palavras que dizem, ele sabia dizer a oração mas não via ali senão pedidos ao Pai. Ora o Pai, amantíssimo e justo, não faz favores a quem se comporta mal, a quem faz asneiras, não premeia quem peca, embora perdoe. A oração, nas palavras “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”, pede a Deus ajuda espiritual, saber, moral, para não sermos ambiciosos, gananciosos e contentarmo-nos com o necessário para viver; nas palavras “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” ensinam que devemos perdoar as ofensas dos outros para sermos perdoados das nossas desobediências às lições que recebemos de Deus, perdoando os erros dos outros para podermos ser perdoados dos nossos; as palavras “não nos deixeis cair em tentação” significam que devemos ter bom comportamento e usar de moral para não cometermos erros de ambição, de inveja, de ódio, de violência, de droga, etc. de que resulte mal para nós ou para outros. Enfim, devemos ser cuidadosos, bem comportados, prevenidos, para nos “livrarmos do mal”, das doenças, dos acidentes, etc. É pena que muita gente papagueie as palavras das orações sem tirar delas as lições pretendidas pelo Mestre.

E estas considerações também mostram que a acção de formação e educação por parte de sacerdotes é deficiente quanto ao desenvolvimento da fé, bem fundamentada e praticada pelos crentes. As festividades tradicionais não são suficientes para o reforço da fé, como bem explica o autor (Águia da Beira) no artigo atrás referido. A fé, a esperança e o optimismo, próprio da consciência limpa, geram felicidade. ■

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