sexta-feira, 12 de março de 2021

RESPEITO PELO PASSADO

Sem respeito pelo passado não há futuro

(Public em DIABO nº 2306 de 12-03-2021, pág 16. Por António João Soares)

A loucura de brincalhões inconscientes e irresponsáveis, que querem destruir a História e os monumentos que respeitam e honram a memória dos heróis que tornaram Portugal no “maior” País ocidental, que deu novos mundos ao Mundo, fazem-nos pensar seriamente, nesse período de glória e compará-lo com a miséria actual, em que estamos na cauda da Europa. Houve alguém com sabedoria e amor ao seu povo que contribuiu para que o mundo desse um grande passo em frente, para que o saber que estava concentrado na Europa se expandisse para lá dos oceanos.

A própria China, que vivia numa antiguidade adormecida, totalmente artesanal, despertou para o saber do Ocidente, após o contacto com os portugueses, e deu os primeiros passos para a ciência, a arte e a cultura, de forma tão consciente e resiliente que não mais abrandou a velocidade do seu avanço e, agora, está no auge da vida científica, tecnológica e económica mundial. Permitam que cite do artigo no Diabo de 05-06-2018: “A China que cresceu como Império do Meio, ... e que procurou a defesa pacífica, bem traduzida na Grande Muralha para evitar a invasão pela Mongólia. Depois, aproveitou a abertura ao Ocidente, originada pelos portugueses, e conseguiu ser hoje uma potência comercial de grande importância em todo o mundo, sem ter necessidade de usar violência nem o poder de armas de grande poder destrutivo do agrado de outras potências”.

Mas acerca da destruição do monumento aos descobrimentos, houve um humorista que sugeriu a substituição das fisionomias dos 16 heróis que nele constam pelas de políticos actuais. Foi um incentivo muito interessante que nos leva a pensar na comparação desses antigos heróis nacionais, ali representados e venerados ao longo de cinco séculos, com os de hoje que não durarão muitos dias na mente dos futuros portugueses e nunca com saudades – a dívida pública, a ausência de obras públicas e de melhorias das vidas dos cidadãos, além das vendas de instituições públicas e das promessas da continuidade do empobrecimento – que não serão motivadoras de veneração pelos vindouros.

O passado não deve ser repetido cegamente, porque os factores dos diversos acontecimentos são diferentes, mas os sistemas de gestão merecem ser bem observados. É imprescindível saber analisar os problemas actuais e procurar a solução mais válida, que deve ser decidida com coragem e convicção, para ser seguida pelos portugueses. Depois de bem analisado o problema e escolhida a melhor solução, será tomada a decisão, são organizados os recursos necessários à acção, é elaborado o planeamento e programadas as tarefas. E, após iniciada a acção, é indispensável o controlo eficaz do qual pode resultar a necessidade de ajustamentos, para cuja decisão deve ser utilizada a metodologia igual à inicialmente empregue, por forma a não se perder o rumo que conduz à finalidade pretendida.

Agora, ao contrário dos nossos antigos heróis da época gloriosa dos descobrimentos, os nossos decisores mais destacados só sabem fazer promessas, ou nem isso, e esperar que um milagre lhes traga solução para as suas funções ou o acaso as venha resolver. Esperam que a “continuidade” dos actuais declínio e degradação receba o benefício de um milagre que livre os vindouros da fome e da miséria.

Para a ilusão de inconscientes e imaturos pode ser que esperem que, depois de substituídas as fisionomias do monumento dos descobrimentos, continue a haver quem o queira destruir. Mas esse prémio não significa que detentores de poder ali representados desapareçam. Para isso só uma eutanásia bem argumentada em termos de “excepção”, mas mesmo esta só costuma ser aplicada se beneficiar a partidocracia.

O passado não deve servir para cópia, porque a mudança faz parte da Natureza, mas deve servir de lição para a metodologia da estratégia e da preparação da decisão. ■

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