Portugal vai ter o privilégio da segunda visita do Dalai Lama entre 13 e 16 do corrente. De seu nome civil Tenzin Gyatso, monge e doutor em filosofia budista, Prémio Nobel da Paz, agraciado com mais de 100 títulos honoris causa, líder e mentor do povo tibetano, o 14º Dalai Lama, é uma das vozes mais lúcidas e comprometidas com a paz, o diálogo e a compaixão no cenário mundial contemporâneo.
Ninguém de cultura média desconhece muitos dos pensamentos deste monge ecuménico defensor do diálogo entre todos, qualquer que seja a sua religião. Mas nas suas peregrinações religiosas pelo mundo, o Dalai Lama fica sempre à margem das recepções oficiais, porque nas relações internacionais, os Estados, mais do que pelos seus interesses históricos e civilizacionais, vergam-se aos interesses de momento, bajulando-se aos impérios que são ou podem vir a ser brevemente grandes potências mundiais. O que é considerado importante é evitar qualquer conflito diplomático com a China que é a maior potência emergente, política e economicamente e que considera rebeldes os tibetanos de cuja causa o Dalai Lama é mentor espiritual e, por isso, considerado um dos maiores inimigos daquela potência.
E, estando o mundo dominado por factores materialistas e oportunistas, estes retiram qualquer valor aos princípios éticos e morais, e passam o respeito pelos direitos humanos e a justiça social para trás da cortina. O tempo é de real politik.
Entre nós, o Governo português e o Presidente da República não recebem oficialmente o Dalai Lama, segundo o MNE, por razões «óbvias», provavelmente políticas e económicas. Mas está previsto o encontro com o Presidente da Assembleia da República que não obedece a essa indisponibilidade.
É uma realidade a continuidade e a tradição da directriz estratégica que orienta as relações internacionais dos países mais responsáveis e prestigiados. Talvez neste dobrar da cerviz ao Império do Meio, se encontre uma constância da política externa portuguesa – o «respeitinho» pelos Estados mais poderosos, tendo em tempos sido bom aliado da Grã-Bretanha, tendo recentemente apoiado os EUA nas Lages na decisão de atacar o Iraque e agora, que a China aparece como candidata a maior potência económica mundial, é considerado oportuno fazer o «update» das prioridades, na escolha do rumo privilegiado.
Já não é novidade, pois nas últimas décadas em Portugal há mais lojas chinesas espalhadas por lugares nobres das cidades do que em qualquer outro país. Isto podia ser sinal de cosmopolitismo. Mas não é. É espelho da pobreza e enfraquecimento das cidades. Estas estão a degradar a sua imagem com a abertura de "lojas dos 300" e "dos chineses", em locais onde devia haver lojas de qualidade, especializadas e bonitas, que dão prazer de ver tanto a quem compra como a quem passa por elas - turistas incluídos. Algo merece ser repensado serena e racionalmente.
A Decisão do TEDH (399)
Há 52 minutos
4 comentários:
Caro João Soares
Concordo inteiramente com este belo e oportuno artigo da sua autoria. Mas o mundo é como é e não como nós gostaríamos que fosse.
Meu caro De Profundis,
Contra a meu estilo de textos longos, coloquei aqui um pequeno texto com uma frase de Madre Teresa de Calcutá, que contraria um pouco o seu derrotismo neste comentário. O Mundo é o somatório dos esforços de todos nós. Se cada humano fizer uma boa acção por dia, o mundo será um Paraíso! O papel dos blogues poderá ser o de despertar as populações adormecidas para exercerem o seu direito e dever de cidadania. O Poder é sensível às manifestações populares e às opiniões, como se viu em relação a fechos de centros de saúde e ao projecto do aeroporto na Ota.
O maior mal do nosso povo é o conformismo, a indiferença, o deixa andar, a resignação.
Um abraço
João
Só não entendo o »óbvio» que o governo fala. Se me dissessem que o Dalai Lama não é um chefe de estado... tudo bem, agora «óbvio».
Convenhamos, também, que recebê-lo não seria crime nenhum, nem traria mal ao mundo.
Esta mania do português tipicamente correcto, que se permite vergar perante um país que mata indiscriminadamente...
Abraço
Caro Amaral,
Nas últimas décadas temos tido governantes que internamente usam uma arrogância indescritível, mas para o exterior são uns dóceis cordeiros que se submetem aos caprichos de qualquer país desde os EUA, à China, a Angola a Timor. Não se trata apenas de bajular os poderosos economicamente mas também as antigas colónias, evidenciando um sentimento de culpa de a história nos ter feito colonizadores.
No meio de tudo isto falta uma directriz estratégica coerente com os interesses nacionais de longo prazo.
Um abraço
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