Depois do soneto de Camões publicado em post anterior, trago aqui o início do discurso do Velho do Restelo com que termina o canto quarto de Os Lusíadas, por nele encontrar motivos de meditação para compreender muito do que hoje ocorre em nosso redor. Quem tiver curiosidade, poderá consultar o poema épico e ler as restantes sete estrofes do Velho, que não trago aqui para não sobrecarregar com referências mitológicas e históricas, ficando por estas três que já dão estímulo para interessantes reflexões.
Estrofe 95
- «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos fama!
Ó fraudulento gosto que se atiça
Cua aura popular que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Estrofe 96
«Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios!
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
Estrofe 97
«A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?
Política espectáculo
Há 2 horas
10 comentários:
Qualquer semelhança com figura de topo actual não é mera coincidência!
Um abraço, caro A.João Soares.
Jorge P.G.
Caro Jorge Guedes,
Sem dúvida, que nada se compara. Eles não abusam do poder, não são ambiciosos, não gostam da fama e até são muitíssimo honrados...
Cada vez mais admiro o nosso grande épico. As plavras sábias são sempre actuais, porque o País não tem mudado...
Abraço
A. João Soares
Muito bem !!
Bom resto de tarde.
Obrigado São. Igualmente para si.
A. João Soares
Caro A. João Soares,
Seria o Velho do Restelo a voz da razão perante a epopeia dos Descobrimentos, nomeadamente a demanda do caminho do mítico e distante Oriente?
Esta é a interpretação mais comum. Eu tenho outra (ousadia intelectual a minha!).
Depois da ocupação islâmica de daquilo que veio a ser Portugal (mais de 500 anos!!!) ficou uma mistura de gente que, culturalmente, se balançava entre a prática de um cristianismo imposto pelas elites governantes e uma vivência quotidiana próxima do padrão resultante da miscigenação com a gente de Mafoma. E é isso que nós somos - e nos agravámos - depois de outros 500 anos de contactos com povos de todos os quadrantes culturais.
Ser Português é um misto! Um misto que inclui um substracto genético e cultural pré-existente à invasão e permanência berbere no território e a resultante da miscigenação efectiva com os povos islâmicos do Norte de África.
É que 500 anos são muitos anos! Basta contar que o território foi ocupado lá por volta de 730 e só foi totalmente «reconquistado» em 1260.
A gente que se meteu ao mar em 1415 para ir a Ceuta e, mais tarde, em 1497, para ir à Índia eram "primos" bem chegados dos mouros que no Oriente mercandejavam.
Mouros "mal curtidos" é o que nós somos.
O Velho do Restelo era um português de linhagem afrancesada que não sentia o apelo do deserto nem os desejos de comércio que as caravanas de camelos propiciavam!
Só seremos capazes de nos compreender se formos capazes de compreender que temos maiores afinidades culturais profundas com os povos do Norte de África islamizados do que com os de para lá dos Pirenéus. Somos todos "cristãos-novos" à força de uma "Inquisição" que disfarçou em nós a estruturas do além Gilbraltar.
Não fomos ao Oriente, à América, à Austrália, a África por sermos cristãos, para evangelizar, nem para conquistar... Fomos para comerciar e enriquecer através do pequeno comércio, que é o comércio de banca de ruela, desejosos de não ter patrão a quem prestar contas, tal como os nossos "primos" dali do fundo, depois do Algarve.
Mistos que somos, temos os defeitos e as virtudes da falta de «pedigree»; transportamos esta vocação de "Velho do Restelo" e de "Mouro" numa mistura nem sempre equilibrada.
Isto, a meu ver, justifica as barafundas, as trapalhadas, as aldrabices, que nos são tão comuns como um todo (há, naturalmente, as muitas excepções que uma educação mais cuidada faz atenuar a voz profunda da ancestralidade).
Estendi-me, meu Amigo, em considerações que, se calhar, não vêm ao caso e são, provalvelmente, desajustadas. Desculpe-me.
Um abraço
Caro Alves de Fraga,
A extensão de um texto só é demasiada quando nada se diz de útil e se cai em repetições à procura da chave para fechar. Não é o seu caso. São dados informativos que ajudam a compreender uma facto que, mesmo sendo ficção, esclarece a situação da partida para as expedições marítimas dos descobrimentos.
Muito obrigado por esta sua contribuição para enriquecer o tema.
Um abraço
A. João Soares
João,
O famoso Velho do Restelo eternizado pelo grande Camões.
Abraço.
Caro Art of Love,
Eternizado e sempre actual, incitando a meditações sobre a «raça» lusitana. Há por aí gente de má raça, isto é gente ruim, de má qualidade no desempenho das suas atribuições. Gente que não cultiva a excelência no cumprimento das funções que lhe são atribuídas!
Um abraço
A. João Soares
Oi! Não consigo abrir todo o post... =[[[[[
Cara Desirée,
Obrigado pela visita.
Diz que não conseguiu abrir o post todo. Uso o texto extensível para se ver apenas o início e, para ver tudo, tem duas formas de o abrir: Ou faz clique cobre o botão
«Ler mais»
no fundo da parte visível, ou faz clique no Título do post.
Volte, experimente e deixe comentário.
Beijos
João
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