segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Do poeta insigne, e também sábio e filósofo Luís Vaz de Camões, um soneto que ajuda a compreender as realidades nacionais actuais. Outro português mais recente, defendendo que as mudanças devem ser feitas com sensatez para delas resultarem bons efeitos, disse que «mudar por mudar é disfarçar o vazio íntimo»

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

2 comentários:

Amaral disse...

João
Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades, mas - infelizmente - os vícios e os podres da sociedade mantêm-se. É pena e o povo que se amanhe, pois é ele que paga.
Boa semana
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
Em instituições saudáveis com pessoas inteligentes, muda-se para melhor, para reduzir os defeitos e incrementar as virtudes, o que se pretende excelente.
Mas, quando existe um vazio íntimo, uma vacuidade cultural e intelectual, corre-se o risco de piorar.
Quando esses erros ocorrem na governação, o prejudicado é o povo, aquele mais desprotegido e mais explorado.
Abraço
João