Transcrevo um «retrato», talvez muito realista com cores muito cruas, da actual situação do País, hoje recebido por e-mail, esperando que desperte meditação e comentários que ajudem a melhor compreender este tema.
Um País a cair de podre
A classe política, no seu vaivém diário entre a Assembleia da República, território de muitas 'estórias, gargalhadas-passatempos, gabinetes, inaugurações e algumas confrontações no terreno, não faz (ou não quer fazer) a mínima ideia do que está a acontecer no 'Portugal real'. Não é só o drama da habitação e do desemprego; dos aumentos constantes que afectam a qualidade-de-vida das pessoas; é sobretudo, a necessidade de pagar as contas mínimas de uma sobrevivência cada vez menos digna.
Metidos nos aviões, nos restaurantes de luxo, nos encontros com os seus parceiros europeus, cujas facturas estão pagas à partida, deitam-se e acordam com a sensação de uma vida atribulada. Mas é uma maratona que vale a pena correr, porque, agora ao serviço de uma empresa pública, amanhã como administrador de uma empresa privada, o lucro está garantido e as 'indemnizações maia reformas', em certos casos, como se pode ir observando, são escandalosamente douradas.
A Democracia trouxe a liberdade e o Pais desenvolveu-se, sobretudo, na área das Obras Públicas (porque será?). Na educação, na cultura, na saúde e no trabalho (empregabilidade) há uma minoria tão activa como existia no tempo do Estado Novo. Convém compreender o que pensam do 'regime democrático português' aqueles que nasceram depois de 1974. Identificam-se com o sistema partidário? Acham que os políticos fazem política honesta? Cumprem a sua função de reduzir, de facto, as assimetrias qualitativas? Até que ponto não estaremos todos a consagrar o 'regime do umbiguismo'?
Em Portugal, perdeu-se a vergonha. A impunidade está instalada, os lóbis cavalgam a onda da letargia popular e as 'estórias' que se contaram em redor da licenciatura do primeiro-ministro, as indecentes factualidades vivenciadas no eixo do sistema financeiro protagonizado pela CGD e BCP, com o governador do Banco de Portugal a gaguejar perante a inconformidade do ónus da culpa, ajudam a perceber como este Pais se arrasta na maior das indigências morais.
Os interesses dirimidos entre as 'capelinhas' do Bloco Central (PS+PSD) atiraram Portugal para a lama. A credibilidade dos Partidos extinguiu-se. As Forças Armadas estão paralisadas. A Igreja perdeu a força. Assaltados pela lógica furtiva do assalto, vivemos em ruptura social e os partidos continuam a fazer de conta.
Muito por força das 'lógicas umbiguistas* do Bloco Central, só a classe política não observa as rupturas sociais, em hora de assalto(s).
Por Rui Santos, jornalista, Semiópticas, opinião, pág. 82
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