sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pela minha saúde...!

Os últimos dois dias, por via das notícias dos jornais e televisões, foram vividos em constante perplexidade. A actividade da ministra da saúde tinha-me deixado indiferente, até agora, e não fora o ar sorridente com que enfrenta as câmaras, feito da convicção, que tem, coitada, de que os jornalistas fazem perguntas disparatadas às quais só um sorriso divertido e trocista responde, não gastaria o meu tempo a ouvi-la e, muito menos, a vê-la.

Só que a discussão do orçamento tem-me colocado mais vezes à frente das televisões e quis o acaso que tivesse tropeçado - passe a imagem - na inefável senhora e no seu ainda mais inefável secretário de Estado. E então, pasmei!

O quadro era, na comissão parlamentar respectiva, a discussão na especialidade daquele documento (cuja entrega no Parlamento se rodeou de episódios ridículos!) e a curiosidade dos deputados ia para o conhecimento, que se achava determinante, das dívidas do Serviço Nacional de Saúde... Coisa simples, já que os senhores deputados também gostam de saber coisas!

Pois bem, a ministra, com o ar paternalista, bem humorado (à vista, pelo menos!), que usa com os jornalistas (eu se fosse deputado era capaz de afinar!) e que, se calhar, lhe ficou do exercício da sua especialidade de pediatra, disse: “Não sei." E disse ainda: "O sr. secretário de Estado poderá responder melhor do que eu, porque tem estado a acompanhar de perto."

Mereceu toda a minha compreensão a senhora ministra! Isto de fazer contas é tarefa subalterna e a sua especialidade é o estetoscópio!

E o secretário de Estado, que acompanha o assunto de perto (palavra de ministra!), adiantou, agora com ar sério (sorri a ministra e chega!) que a dívida dos hospitais é de mil milhões e quanto ao restante “... bom, é só fazer as contas", parafraseando uma célebre frase, como frisou! (acho que até os srs deputados perceberam a quem ele ... parafraseava!)

Note-se outra vez: discutia-se o orçamento do Estado! Pois bem, de uma das suas rubricas importantes, as dívidas do SNS, a ministra nada sabia – isso era com o secretário de Estado! -, que mandou os deputados fazerem as contas! E estes não gostam que lhe mandem fazer coisas!

E ficaram os eleitos na ignorância! E os eleitores? Bem, estes apenas servem para contribuir para o despesismo do Estado e para garantir o lugarzinho do seu eleito! Não chega?

Pois bem! Ainda não tinha recuperado da minha perplexidade, e eis que “tropeço” outra vez com a ministra da saúde, já fora do hemiciclo e rodeada de jornalistas, uns teimosos!

Ainda lá dentro, uma deputada quis ouvir explicações sobre o INEM e Saúde24 e atreveu-se a perguntar-lhe se “dorme descansada”. Não apanhei, por inteiro, as respostas, mas ficou-me, isso sim, a garantia de que as “chamadas não atendidas no INEM estão próximas dos 5% tidos como seguros”.

Os jornalistas insistem, impertinentes!

A ministra debita outra vez, com o tal sorriso, a estatística!

Isto é, 5 desgraçados, em 100, mesmo não atendidos pelo INEM, são tidos “como seguros” e, portanto, se forem “desta p’ra melhor”, apenas são um número estatístico!

Ministra disse!
Ferreira Pinto

NOTA: Recebido do autor, por e-mail. Admiro o estilo queirosiano, a ironia bem domesticada, o estilo gramaticalmente correcto, os verbos a condizer com o resto da frase, evidenciando que pertence a uma geração em que nas escolas se aprendia, além do mais, português. Mas, para lá do estilo literário, há a perspicácia da observação, a tónica colocada no lugar certo. Registo o «sorriso divertido e trocista» e terei presente essa alta qualidade para o momento de votar na «lady Europa» ou «lady mundo». Como os portugueses se devem sentir felizes por terem carinhas bonitas deste género no Governo. Que Deus lhes proteja a beleza!

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A. João Soares disse...

O autor deste comentário eliminado é MÁRIO RELVAS, que sofre de fobias periódicas e, agora, tal como há um ano, está novamente em crise.
Merece a nossa compreensão.
O texto era o seguinte:

TODOS RALHAM E QUEM TEM RAZÃO?

Nos últimos dias temos assistido a várias cenas tristes. Alunos, ainda meninos e jovens adolescentes, em diversas escolas insultam e atiram ovos aos governantes que por lá se arriscam a passar.
Se por um lado os alunos são acusados de terem os telemóveis ligados, nas salas de aulas, não seria benéfico alguns professores darem o exemplo e desligarem os seus?
Vi a Srª. Ministra da Educação a percorrer um corredor e a pedir, por favor, com voz embaraçada, aos senhores jornalistas que a deixassem passar. Leio nalguns blogues verdadeiros insultos a tudo e a todos. Escrevi muitos artigos de opinião que enderecei a vários jornais. Procurei fazer crítica, em clara opção de cidadania, sem insultar a dignidade pessoal de ninguém. Por outro lado, alguns artigos de opinião em que elogiava algumas situações levadas a efeito por entidades anteriormente criticadas por mim, não foram publicados.
Poderemos estar ou não estar de acordo. Podemos e devemos manifestarmo-nos e usarmos o direito à indignação, mas com civismo e dentro das regras democráticas. A cidadania é a liberdade que temos de propor ou criticar as diversas opções e acções que a todos dizem respeito. Mas esta tem que ser feita com bom senso. O tal bom senso que alguns vêem só para o seu lado. A liberdade não é sinónima de libertinagem. E digo isto com a liberdade de quem não elegeu este governo. Mas de quem não tem palas nos olhos. De quem criticou a pouca autoridade dada aos professores. De quem acha que deve haver exames e mais rigor no ensino, mas também com a mesma liberdade digo que não fui educado para estes excessos corporativos e manipuladores. Lembrem-se que isto pode ser um rastilho de pólvora. Critiquei o governo, anteriormente, pela constante diminuição da autoridade das leis penais. Da crescente insegurança e falta de meios policiais. Neste caso não será ainda mais difícil exercer a ordem pública quando se utilizam menores? Todos temos que ser avaliados no trabalho, de uma forma ou doutra. Discutam-no com seriedade. Manipular crianças é que não. Levar à insubordinação? Que exemplo é este para estes jovens? Depois disto os professores conseguirão ter autoridade perante estes alunos? Perante estes pais?
Isto não é de um país civilizado e que se diz democrático. Ouçam pelo menos o apelo à ordem pública, nas escolas e no país, feito pelo Sr. Presidente da República.

Cumprimentos