Transcrição seguida de NOTA:
Vai um lifting?
JN. 100724. 00h31m. Por Joana Amorim
No dia seguinte à divulgação dos dados da execução orçamental no primeiro semestre deste ano - que colocam a despesa ao nível mais alto dos últimos quatro anos - Teixeira dos Santos veio defender o reforço da literacia financeira com recurso ao sistema escolar.
O que faz todo o sentido. Mas mais sentido faria se o Estado desse o exemplo, sobretudo nos tempos que correm. Vamos aos números: a despesa efectiva soma mais mil milhões e o défice engorda 462 milhões. Para quem apregoa a "instauração de bons hábitos de poupança", as contas do subsector Estado envergonham.
E se tivermos em conta que as receitas de IVA, no período em análise, aumentaram 16,3%, então o cenário fica mesmo negro. Porque prova que os portugueses continuam a viver acima das possibilidades. A comprovar está a corrida frenética à compra de carros para "contornar" a subida do IVA em um ponto percentual. As receitas do Imposto Sobre Veículos dispararam 21,3%. Mas há alguém que ache que isto faz sentido?
Dirão que o aumento do consumo é um sinal de confiança dos consumidores. Sinal de que a putativa retoma económica veio para ficar. Em Portugal não ficará, com certeza, como já o fez saber o Banco de Portugal.
A esta vontade compradora - ou devedora - dos portugueses não é alheia a agressividade do marketing da nossa Banca. Ponto prévio: os bancos existem para ganhar dinheiro, não são instituições de solidariedade social. Mas devem-se reger por valores de rigor e transparência.
Confesso que fiquei um pouco perplexa quando, por carta, o "meu" banco me "ofereceu" uns milhares de euros - com uma TAEG de cair para o lado - para, pasme-se, aceder ao mundo de beleza (vindo a oferta de um homem, até fiquei um pouco ofendida...). E quem fala de créditos para cirurgia estética fala para automóveis de alta cilindrada, plasmas e até mesmo serviços de porcelana.
É certo que o crédito é o negócio da Banca. Mas será isto moralmente aceitável? No meu caso, não percebo como é que o banco acha que tenho dinheiro para liftings e coisas que tal. Mesmo salvaguardando que o mesmo está sujeito à análise de risco de crédito. E como eu estarão milhares de portugueses. E muitos deles, como sabemos, não resistem à tentação.
NOTA: É preciso abrirmos os olhos e não cairmos nas tentações da «agressividade do marketing da nossa Banca». Devemos gerir os nossos recursos segundo o nosso critério e não cedermos aos interesses de quem nos quer sacar o sabugo, sob a capa de promessas tentadoras. «O crédito é o negócio da Banca» e, se não formos nós a pedi-lo para fazer face a uma necessidade bem pensada, se nos deixarmos ir atrás de uma promessa que não seja do nosso interesse, acabamos por ser enganados e nos arrependermos de não ter travado a tempo. O marketing funciona sempre a favor de quem o pratica e não do seu destinatário. Não faz mal ouvir, conhecer as ofertas, mas não se deve agir sem reflectir muito bem e conversar com familiares e pessoas tidas por esclarecidas, da nossa confiança.
Imagem da Net
Almirante Gouveia e Melo (I)
Há 1 hora
1 comentário:
Enmsinar as crianças como viver ao tornarem-se adultas faz parte do sistema educativo onde os adultos vivem melhor e são mais felizes. Um dos nomes que lhe dão é «economia doméstica», mas engloba muito mais do que contas caseiras.
Ora, o que por cá se tem feito é instigar as pessoas a estoirarem o seu dinheiro, a endividarem-se em lugar de aforrarem. Um consumismo suicidário para provocar rotação de capitais e enriquecimento de bancos e outros mais ricos à custa do tolo Zé Povinho. Nem doutro modo se compreende a corrida à habitação, absolutamente fora de questão nos países ricos. Lá, os mais ricos compram casas de férias, chalets e assim, mas alugam as residências. Os menos ricos gozam os seus ganhos de modos muito mais produtivos e agradáveis sem se individarem deste modo. A notar que algo que fomentou a «corrida à casa» foi o descontrolo das rendas, duma maneira ou doutra controlado pelos outros estados, pois que aí não pode haver grande concorrência.
Quanta às despesas do próprio estado, vemos que não há o menor esforço para as reduzir. O Coelho gozou com o pessoal com a sua ridícula e obscena proposta de -5%. Em lugar de se verificarem reduções nas desprezas, constata-se o seu aumento geral. Ao ouvirmos os deputados de todos os partidos pronunciarem-se contra a redução que eles deveriam suportar, até parece que os estamos a ouvir sobre lei de financiamento dos partidos. É um ponto comum sobre o qual as corjas de ladrões e as associações de criminosos estão todas de em perfeito acordo uníssono.
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