O Governador do Banco de Portugal”, Carlos Costa, afirmou, à margem de uma conferência sobre os 35 anos da Constituição da República Portuguesa que « é crucial que os decisores de política e os gestores públicos prestem contas e sejam responsabilizados pela utilização que fazem dos recursos postos à sua disposição pelos contribuintes».
Segundo a notícia, disse ainda que nos últimos 12 anos os governos não foram comedidos. Afirmou mesmo que não quiseram cumprir regras europeias, de manter o défice abaixo dos 3%, ou de simples bom senso.
E referiu um ponto que tem sido muito citado por cidadãos mas esquecido pelos políticos, o de saber “Quantos organismos públicos existem. Quantos são os funcionários públicos e quais os respectivos regimes de vinculação? Qual o volume global das garantias conferidas pelo Estado? Quais os encargos futuros com os sistemas de pensões ou com as parcerias público-privadas?”. Isto faz recordar a lista de Dezenas de institutos públicos que podem ser extintos ou alvo de fusões.
Estas palavras dão uma elevada cotação à qualidade ética e responsável de Carlos Costa e representam uma inesquecível posição de um gestor público invulgar, por ser muito pouco frequente tal afirmação de seriedade. Efectivamente ninguém, honestamente, pode discordar que a Justiça deve ser aplicável a todos os cidadãos e não deve haver privilegiados imunes e impunes. E será melhor para os próprios e para o País que essa responsabilização ocorra com oportunidade e actualidade, a cada momento, do que esperar por acontecimentos do género do que está a ocorrer nos casos extremos dos ex-responsáveis da Tunísia e do Egipto e poderá acontecer no Iémene, na Líbia e na Síria.
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Mensagem de fim de semana
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Transcrição de artigo do Jornal de Notícias
Prestar contas
JN. 110428. 01h16m. Por Manuel António Pina
O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defende que "é crucial que os decisores de política e os gestores públicos prestem contas e sejam responsabilizados pela utilização que fazem dos recursos postos à sua disposição pelos contribuintes".
Carlos Costa rompe assim a tradição desresponsabilizante de Constâncio (entretanto premiado com uma sinecura no BCE), que os portugueses se habituaram a ouvir repetidamente reclamar que os sucessivos défices, alimentados pela imprudência, quando não pela gestão danosa, dos governos dos últimos 12 anos, fossem resolvidos à custa da redução de salários e pensões.
É, de facto, escandalosamente imoral que os erros dos decisores políticos sejam pagos pelos 257.745 desempregados que, segundo números da Segurança Social, perderam o subsídio de desemprego e o subsídio social de desemprego, o que significa igual número de famílias na miséria, ou pelas outras centenas de milhar que ficaram sem RSI ou abono de família (retirado a 645.600 famílias desde Novembro).
Isto enquanto os encargos com vencimentos, "despesas de representação", horas extraordinárias, ajudas de custo, suplementos, prémios, subsídios de residência e alojamento e outros mais dos "boys" e "girls" dos gabinetes ministeriais ascenderam a 19,7 milhões de euros em 2010. E ainda ficam de fora os gabinetes dos 38 secretários de Estado, às vezes mais "populosos" do que os dos próprios ministros...
Os lugares de chefia e superiores da administração pública, das instituições e das fundações, ocupados por parasitas nomeados, passaram a ter vencimentos astronómicos e regalias escandalosas numa injuriosa desproporção à restante população. A justiça foi comprada, recebendo tratamento igual e, tornou-se cúmplice aberta da corrupção. Nunca condenou um político, nem a uma pequena multa e jamais investigou um pouco que fosse da enorme corrupção que se apoderou de tudo o que no país desse lucro. Nunca a justiça corrupta se ocupou da especulação financeira ou dos bancos, deixou sempre rédea livre ao enriquecimento ilícito e jamais se ocupou em fazer pagar os que assim enriqueceram. A justiça passou a limitar-se em atacar pesadamente os mais pequenos, os pequenos criminosos, deixando os outros em plena liberdade.
Caro Amigo,
O problema dos abusos do poder pelos políticos, em benefício próprio e dos membros do clã é uma grande maleita da vida nacional. A atitude de Carlos Costa é, por isso, merecedora de realce, à semelhança da que foi tomada há anos por João Cravinho contra a corrupção e o enriquecimento ilícito e das repetidas chamadas de atenção por Manuel Maria Carrilho. Isso valeu aos dois o afastamento para tachos no estrangeiro de onde as suas vozes chegariam menos sonoras.
A Justiça continua a sacudir a água do capote procurando passar ao lado destes grandes males nacionais.
É por isso necessário que se levantem vozes de pessoas que pensam no futuro de Portugal, como aconteceu recentemente com Rómulo Machado, Ana Gomes, Henrique Neto, Luís Amado, Jaime Gama, e outros indivíduos do sistema que não desprezam o valor da dignidade.
Trata-se de uma doença nacional e não apenas de um partido, pois é notável que nenhum partido mostra vontade de encarar corajosamente o problema Onde se cortam as despesas públicas??? . Não querem desagradar aos seus boys, fechando os «gabinetes» que lhes hão-de servir de pretexto para receber grossos salários e mordomias que os envaidecem.
Oxalá apareçam mais Homens do sistema, dignos, honrados, que apontem o dedo de forma bem visível aos tumores que é preciso extirpar, para que Portugal recupere da doença de que está a sofrer. E que pautem o seu comportamento pelos valores da ética e do respeito aos portugueses comuns, que não fiquem apenas por palavras de circunstância.
Abraço
João
Saúde e Alimentação
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