quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cuidado com os «sábios»

Os «sábios», principalmente os que estão limitados ao conteúdo de compêndios didácticos, não podem ser tomados como guias para a vida prática, sem serem avaliados cuidadosamente, passo a passo, pois podem ser nocivos para os países e para o Mundo.

A notícia de ontem Governo espanhol quer limitar défice e dívida na Constituição, mostra que os responsáveis espanhóis alinham com Angela Merkel e Nicolas Sarkozy na proposta de «um “travão constitucional” ao défice e à dívida pública, pretendendo que o limite ao endividamento esteja inscrito nas constituições de todos os países da moeda única até ao fim do Verão de 2012.»

No entanto, há quatro dias, notícia dizia que o Professor Doutor Cavaco Silva considera “teoricamente muito estranho” travão constitucional ao défice, por os poderes políticos não poderem controlar os factores endógenos que originam o défice.

Afinal quem pensava que os líderes da UE são a Alemanha e a França e que possuem técnicos de contas e consultores devidamente capacitados, estava errado, pois Angela Merkel e Nicolas Sarcozy nada sabem ao lado do catedrático Cavaco Silva. Segundo este, o que aqueles dizem «é teoricamente muito estranho». Não diz em que «teorias» se baseia mas devem ser as que conhece, desde os tempos de estudante e da consulta de manuais, e que ensina, mas que acabam por ser aquelas que nos levaram à crise que nos está a massacrar, a coberto da «muito estranha» incompetência dos economistas que confessam o seu fracasso.

Sendo o défice a diferença entre as entradas e saídas de fundos, e sendo estes previstos no orçamento, parece que «é teoricamente muito estranho» que não possa ser controlado, salvaguardando imprevistos excepcionais acima das reservas para casos extraordinários. Cada decisor no âmbito de receitas e despesas deve ser controlado sistematicamente. Por isso, o défice não deve ter «travão», mas simplesmente ser proibido e dar lugar a condenação.

Como é suposto que o Sr PR quer ser compreendido por todos os portugueses, convém explicar com clareza em que baseia a sua estranheza. Como humilde português estou ávido de beber os seus ensinamentos.

Nãp podemos esquecer que os «sábios», normalmente, caem na tentação de dar força aos ricos, mas convém que ouçam o que Warren Buffett disse, ao pedir "Parem de acarinhar os super-ricos". E que se informem das ideias do indiano Anna Hazare. O Mundo é demasiado complexo para ser entregue a especialistas que «conhecem tudo de nada», isto é. prendem-se com minuciosidades esquecendo o universo, que são as pessoas, os habitantes do planeta. É isso de que estão conscientes 16 super-ricos franceses.

Imagem do Google

2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Eu não sou sábio, como o meu amigo já deve ter descoberto há muito tempo...
Mas tal não me impede de pensar pela minha cabeça, correndo o risco de estar a alinhar com os ditos sábios.
Não me parece que às contituições caiba o papel de estabelecer regras. Tratando-se de um documento dirigido ao fundamental, muito genérico, de cariz pouco restritivo e destinado tanto quanto possível a perpetuar-se no tempo, penso que não será muito curial incluir no seu corpo reguladores tais como "runo ao socialismo", limites de endividamento e outrtas deliberações que possam interferir nas liberdades de escolha mais adequadas às mudanças que fatalmente ocorrem.

A. João Soares disse...

Caro Vouga,

Aprendi isso de que me fala nos anos 1965-68 e citavam-se casos em que a Constituição era reduzida ao mínimo.
A nossa actual já é pouco citada, porque a profusão de pormenores descredibiliza-a.
Agora, depois de anos de «evolução» ou «involução», com a crise parece ter-se exagerado a obsessão dos dinheiros e esquecem-se princípios de que começamos a ter saudades.
Pelos vistos, França, Alemanha e Espanha, alinham com uma constituição demasiado espartilhante. Parece que a lógica devia ser défice zero e chamar a contas quem o não evitar, sem motivo devidamente justificativo. Mas isso também não dá porque os políticos abusam na «imunidade e impunidade».
Na falta de regras gerais, e na mentalidade policial de que enfermem os detentores do poder, todos chicotes, mesmo que teóricos e inúteis, são utilizados.

Estamos a viver maus momentos de que as maiores vítimas serão as próximas gerações.

Um abraço
João Soares