Mensagem de Ano Novo do Presidente da República
Palácio de Belém, 1 de Janeiro de 2012
Boa noite,
A todos os Portugueses desejo um Bom Ano Novo, feito de paz e de esperança.
O ano que terminou ficou marcado pelo acordo de assistência financeira celebrado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional, acordo tornado inevitável pela necessidade urgente de assegurar o financiamento do Estado e da nossa economia.
No plano social, o ano de 2011 marcou profundamente a vida de muitos Portugueses e deixou, um pouco por todo o lado, a marca dolorosa do desemprego, das dificuldades económicas e da angústia perante o futuro. No ano que agora começa, as dificuldades não irão ser menores. Esta é uma realidade que não pode ser iludida.
As previsões oficiais apontam para uma queda acentuada da produção nacional e para o aumento do desemprego.
É crescente a convicção de que neste ano de 2012 se irão exigir grandes sacrifícios ao comum dos Portugueses e que as dificuldades se farão sentir de forma mais acentuada no dia-a-dia das nossas famílias.
Penso em particular nos desempregados, nos mais idosos e nos reformados, nos pequenos empresários que não resistem à crise, nas crianças cujos pais sofrem uma redução brusca dos seus rendimentos.
Conheço a ansiedade de milhares de jovens para quem tardam os caminhos com que sonharam, muitos dos quais procuram a sua sorte longe da família e do seu País, quando tanto precisamos deles.
Em 2012, o Presidente da República estará onde deve estar: ao lado daqueles que necessitam de apoio, levando-lhes uma palavra de solidariedade e de esperança.
Portugal não pode deixar de cumprir os objectivos fixados no Programa de Assistência Financeira que subscreveu com as instituições internacionais que nos emprestaram os fundos de que necessitávamos com urgência.
Temos que reduzir o desequilíbrio das contas públicas, controlar o endividamento externo e realizar as reformas necessárias à melhoria da competitividade da nossa economia.
Além de cumprir as obrigações internacionais que assumimos, temos todos de empenhar o melhor do nosso esforço para que a coesão nacional seja preservada e para garantir um futuro em que os Portugueses reconheçam que os sacrifícios valeram a pena. Este é o desafio crucial com que estamos confrontados.
Recentemente, a Comissão Europeia reconheceu que não era possível construir uma união económica só na base da disciplina orçamental e das sanções; era necessário também crescimento económico e criação de emprego.
No mesmo sentido, podemos dizer que a resolução dos desafios que Portugal enfrenta exige, além do rigor orçamental, uma agenda orientada para o crescimento da economia e para o emprego.
Sem isso, a situação social poderá tornar-se insustentável e não será possível recuperar a confiança e a credibilidade externa do País.
Temos de mobilizar empresários e trabalhadores para o aproveitamento das oportunidades de investimento e para o aumento da produção de bens e serviços que concorrem com a produção estrangeira, a principal alavanca do crescimento de que o País dispõe neste momento.
Temos de saber tirar partido do dinamismo e do talento das comunidades portuguesas dispersas pelo mundo, a quem dirijo uma saudação muito especial.
A coesão social é da maior importância para o crescimento económico, para a contenção do desemprego e para atenuar os custos da resolução dos graves desequilíbrios que se verificam na economia portuguesa.
Daí a insistência com que tenho sublinhado a importância da repartição equitativa dos sacrifícios exigidos aos Portugueses, do combate às desigualdades, do apoio aos mais carenciados e desprotegidos, do diálogo construtivo entre o Governo e a oposição e do aprofundamento da concertação social.
Um diálogo frutuoso com os parceiros sociais, sobre as medidas dirigidas à melhoria da competitividade das empresas, será certamente um contributo positivo para reduzir a conflitualidade e as tensões e criar um clima social mais favorável ao aumento da riqueza nacional, ao investimento e ao combate ao desemprego.
De todos os participantes no processo de concertação social espera-se uma abertura genuína ao compromisso, de modo a alcançarem os consensos de que o País tanto necessita para mitigar a dureza dos tempos que correm.
A coesão constrói-se também a partir da solidariedade. Estou certo de que, neste ano de 2012, iremos manter e aprofundar o espírito de solidariedade que nos caracteriza como povo.
Sou testemunha do trabalho notável desenvolvido pelas inúmeras instituições de solidariedade social, civis e religiosas, e por milhares de voluntários que, pelo País fora, se dedicam a ajudar os que pouco ou nada têm. A todos eles dirijo uma saudação calorosa.
A União Europeia vive um tempo de grande incerteza que afecta negativamente a nossa economia. Não devemos esperar que seja a Europa a resolver problemas cuja solução é da nossa responsabilidade.
Mas a situação difícil em que o País se encontra não nos deve impedir de ter uma voz activa na defesa de uma resposta à crise da zona euro que inclua uma estratégia europeia de promoção do crescimento económico e do emprego, visando em particular os jovens desempregados.
A crise que Portugal atravessa é uma oportunidade para nos repensarmos como País. Orgulhamo-nos da nossa história e queremos continuar a viver de cabeça erguida.
Durante muito tempo vivemos a ilusão do consumo fácil, o Estado gastou e desperdiçou demasiados recursos, endividámo-nos muito para lá do que era razoável e chegámos a uma “situação explosiva”, como lhe chamei há precisamente dois anos, quando adverti os Portugueses para os riscos que estávamos a correr.
Agora temos de seguir um rumo diferente, temos de mudar de vida e construir uma economia saudável.
Somos todos responsáveis. Esta é a hora em que todos os portugueses são chamados a dar o seu melhor para ajudar Portugal a vencer as dificuldades. Trabalhando mais e apostando na qualidade, combatendo os desperdícios, preferindo os produtos nacionais. Deixando de lado os egoísmos, a ideia do lucro fácil e o desrespeito pelos outros.
Nenhum Português está dispensado deste combate pelo futuro do seu País.
Este é um tempo de união de esforços. De nada adianta dividirmo-nos em lutas e conflitos sem sentido. Não devemos desviar as energias daquilo que é essencial para enfrentar os desafios do presente.
Não é combatendo-nos uns aos outros que conseguiremos combater a crise.
Realizaram-se eleições há pouco tempo, o Governo dispõe de apoio parlamentar maioritário, a oposição exerce legitimamente a acção que lhe cabe numa democracia consolidada.
Aos agentes políticos exige-se que expliquem aos Portugueses o fundamento da suas decisões e que sejam os primeiros a acarinhar as sementes de uma nova esperança, agindo com justiça, com ponderação e com sensibilidade social.
2012 será um ano de sacrifícios para muitos Portugueses. Mas será igualmente um ano em que a fibra do nosso povo virá ao de cima.
Não nos resignamos. Somos um povo que se agiganta quando as adversidades são maiores e mais difíceis de superar.
É nestas alturas que os Portugueses conseguem ultrapassar-se a si próprios e surpreender tudo e todos.
Eu acredito nos Portugueses. O civismo, a coragem e a serenidade com que têm enfrentado estes tempos difíceis são dignos de todo o respeito e de enorme admiração.
Portugal é maior do que a crise que vivemos.
Espero, do fundo do coração, que o ano de 2012 possa trazer a todas as famílias e a todos os Portugueses, onde quer que se encontrem, sinais de esperança de um futuro melhor.
A todos renovo os meus votos de um Ano Novo de Paz, Saúde e Felicidade.
Boa noite.
NOTA: Dada a posição do mais alto representante da Nação este discurso é a confissão do PR acerca do estado da crise, que devia ter sido atacada desde há alguns anos e evitar que se tivesse agravado com todas as suas graves consequências.
O discurso não passa de água destilada, sem fazer bem nem mal, mas concordo que não podia dizer muito mais.
Será bom que os governantes, a oposição e os maiores capitalistas, meditem positivamente, com patriotismo e sentido de Estado, sobre estas palavras e procurem cumprir os conselhos que nelas deixados.
Imagem de arquivo
Sexta-feira na Rua do Benformoso em Lisboa
Há 2 horas
2 comentários:
Caro João Soares
Cavaco é um artista em falar sem dizer nada.
Mas convenhamos que não pode fazer muito mais. Em Portugal, onde a Constituição consagra o direito à liberdade de expressão, temos um cidadão que estatutariamente está, na prática, impedido de dizer o que pensa. E esse cidadão é, nem mais nem menos, o PR.
Curioso, não?
Caro Vouga
Não só ele, mas todas as pessoas que desempenham cargos de responsabilidade estão impedidas de dizer em público tudo o que pensam, porque há pensamentos, intenções que, por conveniências várias, não podem ser concretizados em decisões. Mas, por outro lado, aquilo que por prudência não puder ser dito em público deve ser ciciado aos que têm responsabilidade pelas decisões a fim de os ajudar a tomar as melhores medidas.
Estou certo que se o professor tivesse usado, durante estes anos, as suas qualidades didácticas num tema da sua área de saber, junto do PM, teria evitado que a crise fosse tão gravosa. E, no caso de o PM não aceitar os seus doutos conselhos, então teria toda a justificação para publicamente dizer o que pensava, extinguir o Parlamento e marcar eleições legislativas. Mas, por maneira de ser, não é pessoa para decisões tão claras e, tal como fez com o conselheiro de Estado Dias Loureiro, não decidiu e esperou que fosse o PM a demitir-se, com os graves inconvenientes que agora são bem conhecidos.
Tudo tem limites e a prudência quando se transforma em indecisão, hesitação ou medo, passa a deixar de ser prudência.
Abraço e votos de Bom Ano
João
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