segunda-feira, 23 de julho de 2012

Crédito, bancos e dinheiro

De «Dinheiro, a pior droga» transcreve-se:
«A pior ferramenta, nesse sentido é o DINHEIRO que foi eleito o produto final de todas as acções e ao qual toda a gente presta homenagem de maneira fanática, dependente, imperiosa. É, com defeito, a pior droga tóxica e demolidora. O ser humano despreza todos os valores morais e éticos de respeito por si e pelos outros, quando pensa no dinheiro e no poder que dele obtém. Só aspira por esse poder e nem pensa nas permanentes preocupações e servidões que ele impõe aos seus adoradores. É um deus tirano, que exige sacrifícios desmedidos e imolações da própria personalidade, demolidor dos valores que deviam nortear a s relações entre as pessoas e entre estas e a Natureza.»

Ultimamente, a esta divindade mefistofélica têm sido feitos muitos «sacrifícios» incentivados pelos bancos, com o incentivo ao consumismo, com pagamentos a prestações, ao crédito para tudo e mais alguma coisa, ao «viver acima das possibilidades». Na ânsia de lucros, os bancos têm usado slogans do género «vá para férias e pague depois». E martelam aos ouvidos dos detentores de telefone com insistência para os convencer a usar o cartão de crédito do banco Xis ou Ypsilon, etc. Com tal tipo de propaganda para aumentar os negócios e o consequente lucro, os bancos foram a principal causa da crise que está a esmagar-nos. Muitas pessoas só repararam que estavam a viver muito acima das suas possibilidades quando a rotura lhes fez abrir os olhos mas, nessa altura, já a vida se tinha transformado num drama.

Pode dizer-se que as pessoas não estavam preparadas para gerir com segurança os seus rendimentos ao ponto de não calcularem os riscos das despesas que estavam a fazer, o que é um efeito do ensino deficiente de que os políticos também padecem por não terem evitado o défice orçamental. Mas os bancos aproveitaram em seu benefício essa deficiência de informação e exploraram-na ao máximo

Em consequência disso a Deco recebeu 5700 reclamações sobre crédito à habitação até Junho e o Banco de Portugal anuncia que Incumprimento das empresas leva crédito malparado a bater novo recorde e, entretanto, surge a notícia Bancos cortam para metade financiamento às famílias o que pode traduzir uma medida sensata de reduzir os riscos mas que vem em contraciclo das afirmações do presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Faria de Oliveira, quando promete que "Bancos portugueses vão ser motor do crescimento económico".

Será bom que os bancos desempenhem tal factor de crescimento. Mas isso não se apresenta muito claro pois implica alterações estruturais nos esquemas de funcionamento da gestão financeira privada, estatal e global e, em consequência, a actuação do sistema bancário, o que não será fácil para os bancos dependentes dos seus vícios actuais!!!

Imagem de arquivo

11 comentários:

Anónimo disse...

Muito boa tarde caro João Soares,

É verdade que isso foi o princípio do caos que foi por mim denunciado fortemente ao longo de mais de uma década. Hoje a facilidade de obtenção de crédito não é fácil para quem não tenha capacidade concreta de o pagar no futuro. E acho bem que se incentive à poupança e à utilização do crédito em matéria de investimento sustentado. Os juros, hoje, também pesam, principalmente num crédito pessoal.
O governo de Sócrates enganou muita boa gente quando dizia "estarmos no bom caminho" e o facilitismo bancário, com forte propaganda, endividou os portugueses que caíram no logro. Não houve controle algum do BdP nem do governo que endividou o estado e deixou as autarquias endividarem-se até ao tutano. De acordo com a sua análise em relação ao futuro que se tem de acautelar. Aliás, os bancos estão acautelados porque vivem do empréstimo de dinheiro, quase sempre virtual por ser circulante. Mas há a possibilidade próxima de a situação dos bancos piorar se a Grécia sair da UE. Os bancos nacionais internacionalizaram-se em excesso e isso tem custos no momento que vivemos. Fora o muito dinheiro que o Estado lhes deve e lhes retira força de capital para a sua real função; o empréstimo incentivador de crescimento e de riqueza interna ao comum dos cidadãos.

Cumprimentos

Mário

A. João Soares disse...

Uma boa análise. Mas assenta na filosofia do abuso do dinheiro, a tal droga terrível de que os ricos nunca se saciam. Falta explicar com base na psicologia o que leva os ricos já demasiado ricos a quererem enriquecer mais sem olhar a meios.
Sobre isso, sugiro uma visita aos posts
- Milionário desfaz-se da fortuna que o faz infeliz

- Mark Boyle: Há um ano sem dinheiro

- Dinheiro não dá felicidade

- Elogio da simplicidade

- O «dinheiro vivo» é corrosivo e demolidor

- Não é a crise que nos destrói. É o dinheiro

Há poucos ricos que façam como o Bill Gates e o Warren Buffett que, por repetidas vezes, doaram grossas importâncias para apoio social aos mais necessitados.

Em portugal, o vício da ostentação e da vida acima das possibilidades, não se iniciou no Governo de Sócrates mas de Cavaco Silva com os dinheiros oferecidos pela CEE para renovar a maquinaria das indústrias e que reverteu para outros fins de espavento e luxo.

Abraço
João

Anónimo disse...

Cavaco aproveitou as entradas de dinheiro. Podia ter aproveitado melhor. Claro. Todos podemos fazer melhor, principalmente quando falamos umas décadas depois dos tempos decisórios.
Guterres e Sócrates arruinaram o país. Este último foi um vígaro mentiroso. Guterres fugiu do pântano... Durão fugiu porque sabia como encontrou o país... Não lhe perdoo a sua atitude também...
cumpts

A. João Soares disse...

Anónimo (não sei se Mário, ou Mikas ou MR)

Realmente os governantes que temos tido, salvo eventuais excepções, têm demonstrado falta de sentido de Estado, de sentido das responsabilidades, de respeito pelo juramento feito ao tomar posse.

Não têm sabido preparar as decisões, de Pensar antes de decidir, não preparam um sistema de controlo dos efeitos das decisões, para corrigirem antes de os estragos serem irremediáveis. Depois do dinheiro da CEE ter enriquecido indevidamente burocratas, políticos e falsos empresários sem escrúpulos e se ter criado o vício de viver acima das possibilidades como se o dinheiro fosse muito e inesgotável, de seguir a armadilha dos bancos «vá de férias e pague depois», chegámos à crise.

Não faltam falsas promessas, esperanças ilusórias, incompetentes a comprar diplomas em troca de favores, recusa de criar condições para o combate à corrupção e para a redução da burocracia excessiva que é um estímulo para os corruptos, etc.

Culpa dos políticos e de quem neles vota e não os controla e não refila e tudo aceita. Salvo eventuais excepções, não temos políticos sérios e competentes.

Até quando continuaremos esta descida para o abismo???

Cumprimentos
João

Mário disse...

Meu caro amigo João Soares,

a vida não está nada fácil. O caminho é atribulado e cheio de interrogações. Saiba que sempre que posso aqui passo, leio, mesmo que não comente. A ideologia política, se assim a podemos chamar, que me norteia nesta vida, cada vez mais complicada, é o amor ao próximo. E à Pátria. Casa materna de todos nós. Fui sempre um céptico em relação à UE. Disse sempre que não se podia perfilar países que tinham perfis diferentes a nível geográfico, demográfico, económico e sócio-cultural. A tal Europa a 27 velocidades diferentes. A mesma onde não houve o cuidado de certos países em cumprirem o mais possível com a honestidade e a realidade do seu povo sem demagogias e interesses pessoais, de alguns, que muitos se tornaram. O bem colectivo, o ser em vez do ter, foi uma miragem que se foi com o facilitismo imposto e aceite. O povinho de que se exige agora a revolta foi o que aplaudiu de pé tudo o que se passou até há pouco tempo atrás. Merece uma reflexão. E como em "casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão", eis porque as pessoas se desentendem quando o toque deveria ser a reunir.
Lembro-me de ler, por diversas vezes, aqui, que quando os de dentro não sabem o que fazem têm de vir de fora outros dizer como fazer. Correcto?
Sabe que o que mais me preocupa? Que pessoas sérias e inocentes vejam -ou continuem a ver- o seu futuro em causa. Já não falo dos estudantes univesitários que têm cabeça e instrução para se mexerem, melhor ou pior. Falo dos autistas e dependentes totais que, para lá de uma pensão de invalidez de pouco mais 200€, sem ter um local para viver quando nós, seus pais, deixarmos de ter forças para os guiarmos capazmente como até aqui. E como tempo passa. Como as forças se gastam e a vida se completa.

O resto é ficar ou sair da UE. É pagar para ficar ou pagar para sair. Penso que pagar por pagar mais valia fazê-lo em algo inovador e de futuro para a nação: "Amigos amigos, negócios à parte"...

Em breve voltarei a fazer soar a minha voz LIVRE aqui na blogosfera. Assim que recupere dos mais de 30 dias seguidos em que eu e a minha mulher estaremos em premanente serviço, 24 sob 24 horas, ao autismo inocente do nosso querido filho, homem de 24 anos de idade.

Desejo-lhe tudo de bom e muita saúde para que continue, em liberdade, a dar o seu contributo, a sua subjectividade perante a vida comum, aqui do alto do seu Do Mirante

A. João Soares disse...

Caro Amigo Mário,

A vida sempre foi exigente de pequenas decisões frequentes que condicionavam o futuro, mas a vida era fácil e seguia a ritmo lento, quase tudo se podendo remediar com certa eficiência. Hoje tudo é mais complexo, o tempo é mais precioso e os erros são mais penalizantes.
Por outro lado a formação moral das pessoas é mais próxima da nulidade. A aceitação de desonestidades, corrupções, mentiras, não cumprimento de promessas. exagero e falsidade na criação de esperanças sem fundamento, etc. descredibilizam aqueles que deviam ser merecedores de confiança.
Sem confiança e garantias de bom comportamento não pode haver um relacionamento social seguro e harmonioso.

A toxicodependência do dinheiro em que ninguém aceita um limite para a fortuna pessoal, antes buscando sempre mais sem olhar a meios, constitui um veneno que afecta todos os políticos e altos financeiros e destrói a sociedade.

Por isso, o regime ou é altamente alterado ou nos arrasta para um fundo buraco, e não vale nada mudar de partidos no poder, porque o mal está generalizado e, salvo eventuais excepções, são todos iguais.

Desejo as melhoras do filho e saúde e felicidade para o casal

Cumprimentos
João

A. João Soares disse...

Sobre a droga do dinheiro e a overdose do capitalismo, no caso da crise europeia, ver a notícia:

Chávez afirma que “sobredose de capitalismo” levou Europa à crise

Anónimo disse...

Caro A. João Soares,

Quanto a mim não foi o capitalismo. Esse sempre o tivemos antes e após o 25. Foi o capitalismo selvagem, a falta de ética e da honra, da honestidade e a ganância de fazer dinheiro a todo o custo. Foi uma pirâmide que não tinha base de sustentação. E o endividamento começou por parte do Estado, que fez com que os bancos o tivessem na mão, assim como o poder local se tornou uma autêntica teia de corrupção e de negócios entre amigos. Portugal não estava preparado para cavalgadas a nível globalizante e deixou-se ir por culpa do querer ter sem o ser. O mesmo aconteceu a grande parte da população nacional e do sul da Europa. Mas a coisa está difícil para todos os países europeus, com realce para os do sul. Lembrei-me da fábula da cigarra e da formiga.
O país que apesar da crise está a enfrentar a situação de frente porque tem a sua moeda, a Libra, é a Inglaterra que quando quiser manda todos pastar.
A Alemanha está em risco de perder muito dinheiro com a Grécia e supõe-se que com mais países se isto estourar. Os governantes andaram a enganar os seus povos, dizendo que estavam no bom caminho, mas estavam falidos como se viu cá, na Espanha, na Itália, em Chipre (governo comunista)sem falar nos dois ateriores; Grécia e Irlanda. Mais virão...
A Europa a 27 velocidades diferentes, com políticas e leis diferentes em cada país, não podia trazer nada de bom.

Sobre Chavez; parece que a Venezuela atravessa uma grave crise social escondida mas que, mais tarde ou mais cedo, também irá rebentar mesmo sendo produtora de petróleo. Tal como em Angola...

Cumprimentos

PS: Obrigado em meu nome e do meu filho Bruno

A. João Soares disse...

Caro Mário,
Este seu comentário parece o resumo de um tratado de gestão política actual. Será que está a preparar um livro para formação de políticos da era da globalização? Se é esse o caso, não deixe de ver os tópicos constantes de Carreira política e, a propósito dos efeitos nocivos da ambição e do amontoado de dinheiro, sugiro uma visita a Dinheiro, a pior droga.

Já que fala em capitalismo, parece que nos tempos que correm, já tem pouco sentido falar em ideologias de meados do século XIX, pois a humanidade está muito diferente, o poder, não eleito, reside nas mãos de donos de bancos, grandes empresas multinacionais e especuladores de bolsas, aos quais o poder eleito obedece, seja de que partido for. Temos o exemplo de Portugal em que, entre o anterior e o actual Governo, poucas diferenças se notam a não ser nas maneiras e nas vaidades dos PMs. O povo é sempre o sacrificado, como já o era durante o feudalismo medieval. Mas, nesse tempo, o dono da terra tinha interesse que os servos da gleba estivessem em condições de trabalhar bem pelo que os alimentava e lhes tratava da saúde. Agora os inactivos são desprezados e, em anos próximos, serão sujeitos á eutanásia por imposição, para não pesar nos cofres do estado dos que, segundo os políticos, só devem beneficiar os ligados ao bando, por amizade interesseira, trocas de favores e corrupção.

Na Europa, houve um sonho bem fundamentado para evitar mais guerras mundiais como a I e a II, surgidas por atritos e ambições da Alemanha sobre a França e o resto da Europa. Veja o post UE, seus antecedentes e construção do futuro, em que encontra um bom discurso recente de Helmut Schmidt.

A União Europeia foi um projecto muito positivo que os políticos vindouros não tiveram unhas para levar a cabo. Hoje, cá, como por todo o lado, é raro encontrar alguém com dedicação e generosidade para se preocupar com a perfeição daquilo que faz, para colocar os interesses nacionais, colectivos, acima dos seis próprios interesses e daqueles que estão comprometidos, coniventes e cúmplices do bando. O Reino Unido,. Com a sua antiga experiência da Democracia, soube ter a sensatez de ficar de lado, não se misturando com os do outro lado do Canal da Mancha.

Basta estar minimamente atento às notícias para nos apercebermos do buraco para que caminhamos, empurrados pelos que nos deviam proteger, e que para isso foram por nós escolhidos.

A droga dinheiro e a ambição de o amontoar sem limites, por qualquer forma, já destruiu valores como dignidade, honra, dever, ética, moral, e vai destruir as nações e a humanidade. Os dinossauros foram extintos, com a diferença de a causa ter sido uma catástrofe natural. O Homem vai acabar por suicídio colectivo de forma continuada.

Cumprimentos
João

Anónimo disse...

Caro A. João Soares,

não se comenta muito por aí, mas o português mais avisado ou mais acuteloso, está a levantar o dinheiro dos bancos. Aos poucos. A colocá-lo em cofres em casa ou a comprar metal precioso entre eles o mais procurado é o ouro.

Os bancos são empresas e se não conseguem competir no mercado devem encerrar portar. E disso deveriam ser avisados os clientes antes de ali colocarem dinheiro. Há quem pense que ter dinheiro nos bancos não tem risco algum...
Bem, na situação actual a coisa tem cobertura caso contrário os bancos cobrariam coercivamente as dívidas globais do estado e seria o caos...

O sistema político e financeiro deve ir buscar alguns dos seus princípios que parece terem ficado lá longe; Homem público serve a causa pública e não se serve da causa pública nem do seu cargo nem dos seus concidadãos...
Bancos; empresas que vendem dinheiro a quem aceita as suas condições em mercado aberto e concorrencial.
Estado; mais uma vez escrevo aqui algo de meados do Século passado porque acho que continua actual. Talvez como nunca:
«Estado é a Nação socialmente organizada».

E termino com uma frase/pensamento do mesmo autor, português inteiro, sobre as clivagens político partidárias da democracia:

«Obedecem a este esquema e são expressão destas limitações os chamados partidos políticos, mas estes, por definição e exigências da sua vida própria, não representam nem podem servir a unidade nacional senão precisa e precariamente, quando se unem, ou seja quando se negam».

Cumprimentos

A. João Soares disse...

As suas observações são muito coerentes e realistas.

O sistema financeiro precisa de uma profunda reforma. Cheira-me que o sistema será alterado dentro de curto prazo. Os bancos têm sido origem de sucessivas crise desde há muitas décadas. E, senão forem reformados, continuarão a dar dores de cabeça a toda a gente.

Os banqueiros não estão interessados em mudanças e os políticos não têm força e poder para obrigarem a tais mudanças, Acabará por ter de ser o povo a partir a loiça toda.

Cumprimentos
João