Já estávamos habituados à fala pausada e serena de Vítor Gaspar, que era interpretada como resultado de muita ponderação na medida das palavras a empregar mas, na entrevista de ontem, o que mais impressionou foi a confusão daquilo que disse e o esforço para omitir o que não queria dizer.
Disse que em macro-economia não pode haver previsões credíveis, rigorosas e seguras mas, pouco depois, com ar convicto, « garantiu que o pacote de medidas de austeridade anunciado pelo Governo bastam para Portugal atingir “os efeitos esperados”» e que «“As medidas anunciadas hoje são suficientes para conseguir os efeitos esperados”».
Disse e repetiu que «“esse esforço está repartido rigorosamente por todos”». Mas omitiu que, nessa distribuição, há tarefas diferentes, dois tipos de esforço: o daqueles que vêem agravada a sua contribuição para o Estado, como por exemplo, os trabalhadores por contra de outrem que têm a sua contribuição aumentada de 63,64% ao passar de 11% para 18% (18:11-1x100=63,64%), e por outro lado, as empresas que fazem o «esforço» de receber a quase totalidade dessa grossa quantia.
Em certos momentos, parecia um fanático religioso ou um psicopata quando argumentava com a sua fé, a sua esperança, convicção, desejo de que o financiamento das empresas iria «conter o desemprego, reduzir as importações e aumentar as exportações». Chegou a fizer que das facilidades criadas às empresas com o dinheiro dos trabalhadores iria resultar em redução dos preços dos produtos e serviços fornecidos «para estimular o mercado interno.
«Quando foi questionado sobre como é que o Governo pode obrigar as empresas a baixarem os preços, para estimular o mercado interno, defendeu que a baixa da Taxa Social Única dá às empresas “capacidade para diminuir os preços”. Quando foi perguntado se é ingenuidade pensar que as empresas vão baixar os preços porque está a fazer esse apelo, Vítor Gaspar disse: “Não devemos subestimar o efeito da opinião”.
Mas quanto ao «efeito da opinião, mudou de ideias» «quando foi questionado por uma jornalista sobre as dezenas de pessoas que o aguardavam à saída da SIC, comentou que não se tratava “de todo” de uma manifestação espontânea, mas de uma “manifestação orquestrada”, sem indicar a quem se referia». Não podemos deixar de pensar que se, em tão curto espaço de tempo, foi organizada, orquestradanente, uma manifestação de dezenas de pessoas, o Governo deve ter muito cuidado porque isso leva a concluir que há por aí bons orquestradores e maestros com grande capacidade de actuação oportuna e rápida.
- Pelos vistos a cartilha do Governo não serve para esclarecer os cidadãos, com verdade e transparência, pos parece não ir além do blablablá.
Como nota final, refere-se a notícia Chefe de missão do FMI disse que mudanças na TSU não foram exigência da troika.
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