sábado, 10 de novembro de 2012

Isabel Jonet. As palavras e os actos

Transcrição (seguida de NOTA) de artigo de igual título publicado no Expresso e- 9-11-2012, por Henrique Monteiro:

A presidente do Banco Alimentar deu umas opiniões, anteontem à noite, na SIC Notícias. Ontem, durante todo o dia, foi simbolicamente queimada na fogueira das redes sociais; hoje segue o auto-de-fé em alguns jornais. Salvo algumas boas almas (de esquerda e de direita) que a tentaram compreender, o veredicto foi unânime: ela disse o que não se pode dizer.

Na sociedade actual, como no tempo da Inquisição, todos temos de andar com um credo na boca. Tal como o credo católico, também este se baseia em crenças e não em factos! E o que disse Isabel Jonet? Enfim, disse o que pensa e isso hoje pode ser quase um crime. Tanto bastou para os arautos do politicamente correcto se porem em acção. Uns escreveram que não dão nem mais um quilo de arroz enquanto ela for presidente do Banco Alimentar; outros exigiram a sua demissão (da instituição privada que ela dirige há anos); uma série deles acusou-a de insultar os pobres (embora os próprios não sejam pobres sabem quando os pobres se sentem insultados) e um movimento ameaça-a de não sei o quê.

A obra de Isabel Jonet fala por si. Mas há uma certa categoria de gente para quem o importante são palavras. Para quem os pobres não são pessoas reais, com qualidades e defeitos, mas categorias político-filosóficas abstractas. Claro que nenhum daqueles que critica violentamente Isabel Jonet terá feito um centésimo do que ela fez no combate à pobreza e à fome em concreto. Mas a pessoas assim não interessam obras nem actos concretos. Apenas ideias e palavras.

E vivem iludidos com palavras a vida toda.

NOTA:
No primeiro contacto com as referidas palavras de Isabel Jonet, a quem os pobres de Portugal muito devem, interpretei a sua mensagem como um apelo à necessidade de mentalizar as pessoas para a boa gestão dos seus recursos, que é preciso que desçam da fantasia e caiam na realidade, deixem as nuvens e coloquem os pés no chão.
As palavras foram proferidas de improviso sob a pressão da apresentadora do programa e não saíram com a perfeição adequada, mas o empobrecimento que refere será a descida á realidade daqueles que vivem obcecados com as aparências, com o «faz-de-conta», o exibicionismo de riqueza muitas vezes inexistente, a vaidade, a ostentação do telemóvel, ipad, ipod, etc do último modelo, em detrimento do essencial, do seu valor intrínseco, da comodidade e do agrado da vida.
O mal podia ser remediado com melhores exemplos dos eleitos. Não seria necessário chegar ao ponto de ir de bicicleta para o gabinete de trabalho, mas também não é necessário usar um carro de topo de gama, pois um utilitário dos mais baratos não reduz a competência, a capacidade de tomar boas decisões, a eficácia dos despachos. Por isso, concordo com o artigo de Henrique Monteiro e lamento as palavras injustas daqueles que vivem de ilusões e não descem abaixo da superfície de uma notícia, ficam pela casca e não saboreiam o sabor da fruta.

Imagem de arquivo

2 comentários:

Magno disse...

Mais uma vez andamos preocupados com uma opinião e não com a realidade...
Ela apenas falou a verdade mais nada, mas os interesses instalados não querem ouvir, e tentam manipular as mentes menos iluminadas...
Já agora outra verdade, OS PORTUGUESES ESTÃO ENDIVIDADOS E VIVEMOS MUITO ACIMA DAS NOSSAS REAIS POSSIBILIDADES!!!
A TRISTE VERDADE É ESSA....

A. João Soares disse...

Amigo Magno,

Pergunto-me como é possível esconder as realidades se elas estão aí aos olhos de toda a gente? Pergunto-me como é possível os nossos políticos continuarem com as mordomias dos tempos das vacas gordas? Como se pode perceber que dos 1520 sumidouros do dinheiro público, a maior parte apenas com a finalidade de dar tachos aos da máfia, apenas tenham tocado em meia dúzia de fundações?
Como é que, perante a crise, só ao fim de ano e meio de governo se fala no corte da quantidade de carros do Estado em todas as chafaricas?

E continuam a dar-se reformas acima dos 5000 euros.
Será para não ofender os direitos adquiridos dos marajás? E porque não têm igual respeito pelos direitos adquiridos dos desfavorecidos? Muito têm cortado aos desprotegidos e esquecidos pelo poder, a não ser para lhes sacar as últimas energias.
Enquanto no activo, compreende-se que os detentores de altos cargos sejam bem pagos e com mordomias, mas na reforma somos todos iguais, com despesas de alimentação, de saúde, etc. Na reforma, já não deve haver lugar a exibição de poder, a arrogância, a ostentação.

Muito se pode apontar aos vícios do Poder que, de ano para ano, se agravam, e não tiram lições da crise para nos comportamentos despesistas devermos passar a ser mais pobres, isto é, sem a riqueza fictícia e escandalosa de gastar mais do que se tem, com o diz Isabel Jonet, e de que resulta agravar a dívida que vamos deixar de herança aos descendentes, aos mais jovens.

Um Braço
João