sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

MDN, o lenhador das Forças Armadas ?


Se for entregue um tronco de madeira a um escultor, ele saberá retirar a parte exterior do lenho e apresentar, como resultado do seu sábio labor, uma estátua, imagem de santo ou de herói. Mas se fizermos igual entrega a um lenhador, o efeito encontrado será uma rima de cavacas toscas e com arestas e esquírolas espinhosas propícias a alimentar uma fogueira de que sairão apenas cinzas.

Anunciar cortes de 218 milhões nas Forças Armadas sem a prévia apresentação do resultado de estudos cuidadosos e bem discutidos por gente entendida, não é atitude de escultor mas apenas de rude lenhador. Com os cortes da ameaça, que parte da missão de Defesa deixa de ser cumprida? Convém explicar aos portugueses tal redução da missão.

Vejamos, mesmo que apressadamente, como estímulo ao raciocínio: Portugal poderá decidir, por falta de recursos, deixar de ter Forças Armadas e pedir aos Espanhóis, à União Europeia ou à Nato o favor de nos defenderem, sem dúvida, em troca de compensações adequadas, contratadas.

Mas, se não quiser cair em tão caricata situação e perder o essencial da sua soberania, terá de dispor de uma força calculada em função de dados objectivos e não querer limitar-se a uma força vistosa para guardas de honra a ministros ou para estes terem o pretexto de ir visitá-la ao estrangeiro mascarados com uniforme camuflado – sim, porque um uniforme dependurado num civil que nem sequer fez serviço militar não passa de uma máscara que impressiona negativamente os militares. Para estes, nem todos os ocupantes de cadeiras altas merecem o sacrifício da própria vida que os militares juraram à defesa da Pátria.

Há que ter presente que às FA deve ser definida a missão de Defesa da Pátria em acções de dissuasão, defensivas e ofensivas. Para isso, devem estar sempre prontos com a estrutura do seu organograma preparada para as eventuais hipóteses de utilização. Na estrutura, há que contar com a hierarquia de comando com os respectivos «staffs», bem como as armas e os serviços de pessoal, informações, operações (inclui instrução), e de logística (saúde, material, transportes, intendência, engenharia, comunicações, cartografia, meteorologia, informática, etc).

Portanto, para se anunciar um corte de orçamento, é preciso primeiro, tomar posição de forma racional, lógica e prática no que respeita não apenas à missão global, como às tarefas para ela concorrentes e à estrutura que permite torná-la possível, sendo funcional, eficaz, proporcionada no seu conjunto. De contrário, não resultará uma organismo perfeito como uma estátua, mas um aborto tosco com esquírolas, sem a pretendida utilidade.

Imagem de arquivo

4 comentários:

Bmonteiro disse...

Caro João Soares
Isto está tudo ligado.
Pode hoje concluir-se, uma vez mais, que
"As FA são o espelho do Regime".
Antes 25Abr74, era:
"O Exército é o espelho da Nação"
A 3ª República entrou numa bancarrota que vai levar Portugal a um país em ruínas.
Andam todos a reclamar dos efeitos resultantes do governo PSD/CDS.
Da ameaça de destruição do Estado Social.
Ora, agora é tarde. Este Estado "falido", não é exctamente causa deste governo.
É o resultado do "devorismo socialista-social-democrata" do regime da 3ª República.
Ora estando tudo ligado, as FA dificilmente passariam incólumes pelo que se passou.
Nos últimos 20 anos, para não irmos mais longe.
O resultado da nova economia, associado à demografia.
Em Portugal hoje, amanhã na Europa.
PS: quanto aos Relvas & Aguiares, sendo herdeiros de sucesso do Bloco Central, estão a fazer por assegurar as suas fortunas.
Com ou sem FA.



A. João Soares disse...

Caro B Monteiro,

Sem dúvida, que este Governo não pode ser considerado o único culpado da desgraça de que o País sofre, mas apenas de estar a carrilar pelos crimes dos anteriores. Está a provar que são todos iguais.

Precisamos de uma mudança muito consciente e patriótica, uma honesta REFORMA DO ESTADO que conduza Portugal a um lugar de dignidade, em todos os aspectos, não apenas perante a comunidade internacional, mas principalmente perante os cidadãos eleitores e contribuintes.

Tem que aparecer gente com amor ao País, aos portugueses, e com honestidade e coragem para criar o novo Portugal. Têm que ser pessoas que estejam dispostas a grandes sacrifícios pessoais para que inspirem confiança ao povo e o levem a colaborar numa verdadeira convergência de esforços.

Aquele tipo que falou na , se tiver capacidade, seriedade e coragem, deve congregar um grupo de analistas e preparar o futuro melhor para a classe etária que ainda não tem cabelos brancos e que quer olhar generosamente para as pessoas que precisam ter fé e confiança nos líderes.

Na realidade, tal deputado lançou um desafio de reestruturação de Portugal, mas temo que não tenha passado das palavras bombásticas no habitual estilo dos nossos políticos das últimas quatro décadas.

E os militares? Têm fortes tradições de sacrifício ilimitado pela PÁTRIA. Deles se espera uma intervenção que supra a inexistência de outra mais calma e eficaz. Mas, cuidado, o 25 de Abril, acabou por ser um falhanço por ter entregue o Poder a bandos sem alma nem seriedade.

Estou muito receoso pelas gerações dos nossos netos e bisnetos.

Abraço
João

A. João Soares disse...

No comentário anterior falho um link e o 4º parágrafo devia ter a seguinte configuração:

Aquele tipo que falou na «peste grisalha», se tiver capacidade, seriedade e coragem, deve congregar um grupo de analistas e preparar o futuro melhor para a classe etária que ainda não tem cabelos brancos e que quer olhar generosamente para as pessoas que precisam ter fé e confiança nos líderes.

A. João Soares disse...

Transcrição de comentário recebido por e-mail:

Meu caro amigo AJS,

Grato pela amabilidade da colocação do meu texto sobre a «Reforma do Estado» no teu blogue, que aprecio pela actualidade e interesse dos textos e comentários nele postados. Agradeço também as tuas amáveis palavras para comigo, as quais foram ditadas pela tua boa amizade.
Reafirmo a ideia de que a «Reforma do Estado» (que admito que deve ser feita) é coisa demasiado importante para ser deixada apenas aos políticos, por envolver matérias do «contrato social» entre o Estado e os Cidadãos. Daí, a minha ideia de que, para além de exigir tempo para debate político sério e profundo, deve também agregar os contributos da «Sociedade Civil» através dos seus organismos representativos.
Aliás, procedimento análogo deveria ser adoptado na pretendida «Reestruturação das Forças Armadas» a qual, salvo melhor opinião, não deve nem pode ser feita com base no objectivo orçamental de «reduzir oito mil efectivos». Como bem sabemos, o «planeamento estratégico» rigoroso deve assentar em outros pressupostos. Mas, neste particular, há que confiar e esperar que as chefias militares possam ter capacidade e oportunidade de intervenção para tanto!

Abraço amigo,
Arnaldo.