Verdade e transparência
(Publicada no Semanário O DIABO em 8 de Janeiro de 2019)
Não gosto de perder tempo com leituras que não tragam informação credível e útil. Mas, infelizmente, tal material enriquecedor do saber é demasiado raro, perante o amontoado de fantasias ilusórias que nos são atiradas aos olhos a cada momento. A verdade e a transparência são cada vez mais raras e, por isso, mais preciosas.
Os discursos de Natal do PR e do PM, perante os poucos extractos que vi, são demasiado falaciosos quanto à vida nacional actual, que pintam com cores de tal forma optimistas que parece virem de estranhos que desconhecem as realidades em que vivemos. Será que acham que tudo tem melhorado e pretendem a continuidade? Continuidade de quê? Das greves que tanto têm prejudicado os inocentes cidadãos, na saúde, nos transportes, na Justiça e em vários serviços públicos, dos incêndios, dos acidentes rodoviários, de actos de violência, de falta de manutenção das estradas (caso de Borba e outros), de deficiente preparação da população para prevenir situações de risco, do aumento da dívida, etc.?
Em vez de continuidade, na fase de mudança em que o Mundo se encontra devido à rápida evolução das tecnologias, será preferível planear e executar uma reforma estrutural que faça o País desenvolver-se para proveito dos mais carentes, acabar com a dívida pública, inverter o crescimento escandaloso dos impostos, dos quais apenas tem resultado benefício para os políticos e os apêndices criados com nomes de “observatórios” e muitos outros, e de que não se vê proveito para os contribuintes, mas apenas para os tachistas amigos dos titulares do Governo.
Os governantes, como agentes do poder executivo, devem servir com eficiência o povo que governam e que deles espera segurança e melhor qualidade de vida, em vez de o tratarem como coisas possessivas e hipotecáveis, e não concentrar-se numa imensa teia clientelar em torno de familiares, amigos, compadres, afilhados, todos sedentos de riqueza e imagem.
E para servir o povo com verdade e transparência, não devem ser feitas promessas que depois são esquecidas. Por exemplo, é caricato e degradante “prometer” que em fins de 2019 serão iniciadas obras para resolver as carências da pediatria do hospital de S. João, em vez de informar e pedir desculpa por o problema não ter ainda sido resolvido.
As promessas feitas aos cidadãos ficam, na sua maioria, esquecidas pouco tempo após a sua afirmação. É certo que o povo, que em democracia é considerado detentor da soberania, é na sua maioria crédulo e deixa-se enganar por aldrabões que, usando de discursos fantasiosos, o levam a suportar as piores atrocidades que virá a sofrer. Mas acabará por despertar da sua actual apatia, ver que o País em vez de produzir riqueza e reduzir o número de pobres, aumenta os impostos que divide pelos ricos, e acabar por se revoltar, de forma mais ou menos violenta. Convém reflectir nesse risco.
Mas o deficiente sentido de Estado, a falta de sensatez e de conhecimento das realidades parece tornar os discursos mais fantasiosos e orientados para campanha eleitoral relacionada com eleições ainda distantes, mas que já estão a lesar a vida real dos cidadãos. Seria mais prudente e mais conducente à obtenção de resultados o estudo, planeamento e execução de obra visível, enriquecedora do património nacional. Alguém já sugeriu que se faça uma lista das obras realizadas após o 25 de Abril e outra, com igual critério, das realizadas em igual período de 44 anos e meio, anterior a essa data, para se poder comparar. E além desse resultado, desse período veio uma quantidade de toneladas de barras de ouro e no período actual fica uma dívida pública que irá pesar no bolso de várias gerações. Pesada herança que os governantes se recusam a encarar com seriedade e transparência. ■
António João Soares
2 de Janeiro de 2019
Almirante Gouveia e Melo (I)
Há 1 hora
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